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Natura &Co lucra R$ 1 bi em 21, mas Rússia é desafio extra para 22

Grupo vai paralisar exportações a partir de fábrica na Rússia, mas manterá abastecimento local para revendedoras

Natura &Co: sinergias de US$ 200 milhões com Avon já executadas, 50% do total previsto (Avon/Divulgação)
Natura &Co: sinergias de US$ 200 milhões com Avon já executadas, 50% do total previsto (Avon/Divulgação)
GV

Graziella Valenti

23 de abril de 2022 às 01:12

A Natura &Co, dona das marcas Natura, Avon, The Body Shop e Aesop, terminou 2021 com um lucro líquido de R$ 1 bilhão de reais, comparado a um prejuízo de quase R$ 650 milhões no ano anterior. Desse total, praticamente R$ 700 milhões vieram do quarto trimestre, quase 4 vezes os R$ 177 milhões  obtidos em igual período de 2020. Com isso, a companhia vai poder pagar dividendos, um total de R$ 180 milhões que cairão na conta do investidor ao longo deste ano. Além disso, a empresa também investiu R$ 140 milhões em recompra de ações (NTCO3).

Mas se a companhia já estava esperando um 2022 difícil, em razão do cenário macroeconômico nacional combinado à inflação global de custos, a guerra lançada pela Rússia contra a Ucrânia vai tumultuar ainda mais o cenário.

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A operação no país liderado por Vladimir Putin é relevante especialmente para Avon e vinha contribuindo com crescimento para a companhia. Além disso, The Body Shop e Aesop também estão presentes lá. “É pouco menos de 5% da nossa receita, mas é bem menos do nosso lucro líquido”, contou Roberto Marques, presidente global da companhia, em entrevista ao EXAME IN.

A companhia, assim como diversas outras grandes empresas mundo afora, decidiu mandar sua mensagem de total desaprovação com a iniciativa bélica do país. “Estamos suspendendo as exportações das marcas The Body Shop, Aesop e também da Avon a partir da Rússia. Mas vamos manter a produção local para atender às revendedoras daquele país”, disse. "Acreditamos no impacto social do modelo de revendedoras", completou ao explicar como a decisão foi tomada.

O executivo classificou como “inaceitável” o que está ocorrendo, chamando de “violação contra os direitos humanos”. Ele lembrou que o planejamento da empresa para 2030, relacionado às metas de sustentabilidade, sociais e de governança leva o nome de “Compromisso com a vida” e, por isso, era importante transmitir a mensagem de rejeição à guerra, mas ao mesmo tempo o cuidado com as revendedoras. Entretanto, preferiu não informar qual o total de consultoras na Rússia e na Ucrânia.

A Polônia, que recebeu parcela relevante dos refugiados da Ucrânia, vai assumir o papel de exportadora dos produtos para aquela região da Europa Central e do Leste. O executivo, porém, admitiu que esse não é um processo imediato, uma vez que a medida requer planejamento e organização para execução. Marques explicou que ainda é cedo para decidir se as medidas serão definitivas ou se podem ser suspensas em caso de fim do conflito. “Tudo ainda é muito fluido nesse assunto [futuro da guerra e suas consequências].”

Mas, para além da Rússia, o ano de 2022 já estava despertando cautela no grupo. O sinal de alerta aumentou, com os impactos esperados para os preços de commodities, incluindo o petróleo que afeta o custo das embalagens, e alta nos custos, combinados a uma esperada estagflação da economia brasileira e agora também internacional. “Estamos revendo nosso orçamento do ano, para priorizarmos investimentos realmente necessários e para reduzir despesas discricionárias. Por isso também a decisão de pagar o dividendo de 2021 até o fim deste ano”, afirmou ele, mas sem comentar valores.

Em 2021, a Natura &Co conseguiu até mesmo aumentar a margem Ebitda no decorrer do ano, apesar de na comparação anual mostrar queda de 1,10 ponto percentual. O acumulado do ano ficou em R$ 4,1 bilhões, ante a R$ 3,5 bilhões, mas a margem ficou em 10,3%. Mais uma vez, assim como no lucro, o quarto trimestre foi determinante: Ebitda de R$ 1,5 bilhão, impulsionado pela sazonalidade positiva do período, com margem de 13,3%, comparado a 12,4% no mesmo período de 2020, quando somou R$ 1,25 bilhão. Portanto, nos três últimos meses do ano, a margem foi 0,9 ponto percentual maior.

O desempenho foi possível, explicou Marques, graças a ganhos de eficiência e, principalmente, à aceleração da execução das sinergias com a integração da Avon, que fecharam o ano em US$ 200 milhões — cerca de 50% do total previsto, quando a expectativa era 40% até o fim do ano passado. Entretanto, o executivo acredita que não será possível repetir o feito — anular as pressões de custo com as sinergias.

Ele destacou que para as conquistas do ano passado foram bastante importantes as reorganizações realizadas na operação internacional da Avon, com otimização da estrutura.

Receita

Durante o ano de 2021, a receita líquida da Natura & Co somou R$ 40,1 bilhões, quase 9% mais do que 2020, impulsionada pela expansão das vendas da Avon na América hispânica. Do total do faturamento, 52% foram produzidos com vendas digitais. Em relação a 2019, o crescimento foi superior a 21%.

No período de outubro a dezembro de 2021, a receita líquida ficou em R$ 11,6 bilhões, 3% a menos do que no mesmo período do ano anterior — mas 21% maior do que em 2019. A Natura &Co recorrentemente ressalta que o segundo semestre de 2020 foi excepcional, além de bom, fora da curva.

Pela primeira vez, as vendas na América espanhola responderam por mais da metade do total na região, precisamente 52%. A expansão de 22,4% nos demais países ajudou a compensar a queda de 6,4% no mercado brasileiro. O desempenho consolidado no Brasil foi afetado pela redução de 12,4% na receita da Avon, que ainda enfrenta os reflexos dos ajustes nos modelos usado para as consultoras. “Apesar desse impacto, as notícias dos últimos meses já começam a ser positivas, mostrando que as medidas foram na direção correta”, enfatizou Marques.

No trimestre passado, de julho a setembro, quando apareceram os reflexos da mudança de modelo, a Natura &Co foi alvo de questionamento dos investidores. A companhia relembra que quando implementou esse mesmo modelo de gestão nas vendedoras da marca Natura também houve impacto negativo no curto prazo, mas com ganho de produtividade relevante no longo prazo.

A Aesop continua sendo destaque para crescimento da receita consolidada do grupo de beleza, o 4º maior do mundo: expansão de 22,8% no trimestre e 33,4% no ano. Os mercados que se destacaram para a marca são América do Norte e Ásia.

Ainda a Ucrânia

Marques destacou que além das decisões sobre produção na Rússia, o grupo também acredita ser fundamental contribuir com o país. Além de R$ 3 milhões em doações, em especial para as ações da Cruz Vermelha, também forneceu produtos para o país.

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