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Natura &Co: CFO assume diálogo com mercado após tombo de 70% na B3

Mudança ocorre após críticas do mercado sobre comunicação da companhia

Guilherme Castellan, da Natura &Co, vai unir função de CFO e relações com investidores: experiência no mercado financeiro e AB Inbev (Natura &Co/Divulgação)
Guilherme Castellan, da Natura &Co, vai unir função de CFO e relações com investidores: experiência no mercado financeiro e AB Inbev (Natura &Co/Divulgação)
GV

Graziella Valenti

31 de maio de 2022 às 09:24

A Natura &Co, dona também das marcas Avon, The Body Shop e Aesop, ouviu e entendeu as queixas do mercado. Guilherme Castellan, que está à frente da diretoria financeira global desde julho de 2021, agora assume também a área de relações com investidores. Longe de ser uma medida burocrática, o movimento é parte da reação da companhia aos últimos eventos na sua rotina com os acionistas não controladores.

O objetivo é que Castellan, com seus quase 20 anos de experiência no mercado financeiro no Brasil e nos Estados Unidos e como executivo do grupo AB Inbev, estabeleça uma dinâmica nova e mais próxima ao mercado. Gerir expectativa é algo que conhece bem e, por vir de fora do grupo, traz um olhar fresco para o assunto. Antes de assumir a cadeira na Natura &Co, foi o CFO e relações com investidores da unidade asiática do grupo de bebidas, responsável pelo IPO de 2019 em Hong Kong, que avaliou o negócio em mais de US$ 40 bilhões. Com o anúncio de hoje, a companhia retoma o modelo que tinha até 2019, com o mesmo executivo na liderança financeira e de relações com investidores.

"A primeira coisa importante para ressaltar é que a gente escutou o mercado, de maneira transparente, e a ideia é reforçar muito a comunicação. A Natura &Co sempre presou pela governança e pelo ESG. Acho que minha experiência, de companhia pública na Ásia, com diversos tipos de investidores ajudará muito nessa tarefa. E acredito que o investidor local quer mesmo essa conexão mais próxima com o grupo", disse Castellan, em exclusiva ao EXAME IN.

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Desde o terceiro trimestre de 2021, quando a receita líquida consolidada da companhia caiu 8,5%, para R$ 9,5 bilhões, os investidores começaram a castigar as ações da Natura &Co, preocupados especialmente com o desempenho de Avon. De lá para cá, a sensação de acionistas relevantes consultados é que a companhia se fechou. Essa dificuldade de diálogo foi alvo de críticas. Para alguns, o entendimento é de que isso agravou a "percepção" de crise, fazendo-a parecer maior.

Em julho de 2021, a ação da empresa chegou a superar os R$ 61, com a empresa avaliada em aproximadamente R$ 83 bilhões na B3. Hoje, os papéis são negociados abaixo de R$ 17 – a companhia vale menos de R$ 23 bilhões. É uma perda superior a 70% em relação ao pico histórico. Na mínima, o papel bateu em R$ 15,15.

Na opinião de Castellan, o crescimento da Natura &Co, com as diversas marcas e modelos de negócios, tornou o entendimento da empresa mais complexo. "Quem não segue a companhia há muito tempo e não está tão familiarizado com a história, não entende muito bem. Uma das grandes coisas que vamos tentar mudar é trazer uma comunicação mais clara, simples e direta sobre cada uma das unidades", afirma. A ideia é dar um direcionamento mais claro sobre a rentabilidade e o caminho de cada uma.

Apesar das frustrações entre o fim de 2021 e começo deste ano, não faltou tentativa da empresa de alertar o mercado sobre o cenário. Desde outubro do ano passado, o presidente global da Natura &Co, Roberto Marques, inclusive em duas entrevistas exclusivas ao EXAME IN, apontava a dificuldade do ambiente macroeconômico, brasileiro e global: uma combinação de demanda mais fraca, com inflação elevada nas matérias-primas da indústria.

A decepção com a rotina da empresa em relação ao mercado alcançou o ápice pouco antes da divulgação do balanço do primeiro trimestre deste ano. Ao iniciar uma conversa sobre a “temperatura dos números” com analistas, a companhia acabou revelando demais e teve de antecipar receita e Ebitda do período. Somente no pregão do dia em que a conversa ocorreu, as ações caíram 15,5%.

O número, que já não era dos mais animadores — uma queda 12,3%, para R$ 8,2 bilhões de receita líquida consolidada — ficou ainda mais amargo com a trapalhada. O Ebitda, que no terceiro trimestre de 2020 chegou a quase R$ 1,5 bilhão, somou apenas R$ 515 milhões de janeiro a março deste ano, depois de encolher 38% na comparação anual. E na divulgação do balanço, veio novo ajuste negativo dos papéis. Mais uma vez, um balde de água fria com os guidances dados na teleconferência sobre os resultados e com o tom da empresa. Mas nada que deveria ter surpreendido quem estava próximo da empresa, mesmo com todos os desafios no diálogo.

Investidores relevantes, como o fundo Verde, de Luis Stuhlberger, destacaram em carta aos cotistas (ou conversas) que o desempenho da carteira no mês passado sofreu, entre outras razões, pela posição em Natura &Co. Até onde o EXAME IN apurou, porém, nenhum grande fundo mudou a crença no negócio, mas muitos estavam bastante insatisfeitos com a dinâmica — ou a falta dela — da companhia com o mercado. "Não se consegue mais falar em profundidade com o C-level", disse um gestor, com ações da fabricante de produtos de higiene e beleza. Desde a aquisição da Avon, o grupo é o 4º maior do mundo no setor.

Quem acompanha o negócio de perto, nem mesmo acha que Avon seja um caso grave ao ponto de tirar tanto valor do negócio, mas acreditam que a empresa não está sendo hábil o suficiente para demonstrar de um jeito positivo o trabalho realizado. Os ajustes na operação internacional da marca, que sabidamente demandava uma profunda reestruturação de negócios e revitalização de nome, machucaram o desempenho consolidado, mas a crença é que o caminho está na direção correta.

“Estamos conversando com a empresa, especialmente para tentar ajudar, e fazê-los entender que precisam cuidar dessa comunicação”, disse o gestor de um fundo com posição relevante no negócio, antes do anúncio de Castellan. Além do Verde, a Natura &Co tem outros acionistas renomados como as gestoras cariocas Dynamo e JGP, além do fundo de pensão canadense CPP.

Na semana seguinte ao balanço, a Natura &Co realizou um investor day em Nova York. No evento, tentou abrir mais algumas informações que, na visão da empresa, fazem a gestão ter confiança de que a estratégia para a Avon, apesar dos impactos iniciais, está correta.

Além de trazer sinalizações importantes a respeito do plano para a Avon Internacional, a empresa também compartilhou dados sobre a operação brasileira — informações sobre aumento da rede de representantes (que sofreu com as alterações de modelo comercial, em um primeiro momento) e melhoria na sua produtividade. O grupo também indicou que haverá contínua simplificação de portfólio: adicional à redução de SKUs de 20 mil para 15 mil, realizada entre 2019 e 2020.

Apesar do encontro ter ocorrido nos Estados Unidos, a Natura &Co colocou em espera o plano de mudar sua listagem primária da B3 para a Nyse. "Temos que completar alguns milestones ainda, como terminar a integração das empresas na América Latina, os ajustes na Avon Internacional, a The Body Shop, com o processo de turn around iniciado em 2017. Ouvimos muito os investidores. Não estamos mais perseguindo essa mudança nesse momento. Não tem um cronograma para retomar isso."

 

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