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Magazine Luiza

Magalu: prejuízo de R$ 79 milhões e queda em receita

Companhia amargou, mais uma vez, a queda nas lojas físicas, responsáveis pela maior parte da receita e margem

Magalu: foco no crescimento digital para chamar a atenção de investidores (Leandro Fonseca/Exame)
Magalu: foco no crescimento digital para chamar a atenção de investidores (Leandro Fonseca/Exame)

Publicado em 14 de março de 2022 às 20:04.

Última atualização em 15 de março de 2022 às 17:43.

O Magazine Luiza conseguiu quadruplicar o tamanho do marketplace nos últimos dois anos, mas ainda enfrenta o desafio de conquistar rentabilidade. É a conclusão que o balanço da companhia, divulgado nesta segunda-feira, permite. O quarto trimestre de 2021 foi especialmente desafiador, pela combinação de esforço de crescimento com o ambiente econômico ruim do país. A companhia teve prejuízo de R$ 79 milhões, comparado a um lucro líquido de R$ 232 milhões, de igual período de 2020. Contabilmente, créditos tributários ajudaram o negócio a ficar no azul, R$ 93 milhões positivos, mas apenas por esse ganho fiscal. 

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O desafio começa pelo faturamento. A receita líquida da companhia teve queda de 6,6% na comparação anual dos últimos três meses do ano, para R$ 9,4 bilhões. Na prática, significa que a expansão da operação de marketplace, com venda de terceiros, não conseguiu compensar a forte queda nas vendas das lojas físicas (que encolheram em ⅕ na comparação anual). 

Analisando mais a fundo a receita, a prestação de serviços (que responde por uma fatia muito menor do que a revenda de mercadorias) teve variação positiva de 18,6%, enquanto a venda ficou 7,1% menor. Novamente, aqui está o esforço da companhia em melhorar o relacionamento com sellers do marketplace e acelerar o crescimento da base em meio à competição intensa com players nacionais – como a Via – e estrangeiros, como Mercado Livre e Amazon. 

A única métrica superior à do ano passado é a do GMV (a soma de tudo que é vendido e que passa pela plataforma da empresa), que fechou o ano em R$ 15,4 bilhões, aumento de 4,1% em relação aos últimos três meses de 2020. É o exemplo mais claro do desafio de rentabilidade que a companhia enfrenta: o número de itens vendidos sobe ano a ano, mas a receita gerada com o fee de 3P não é suficiente para gerar efeitos significativos em receita e em margem.

A margem bruta teve leve queda, de 0,6 ponto percentual, fechando o último trimestre em 25,3%. O tombo mesmo está no Ebitda, que caiu praticamente pela metade: de R$ 524 milhões para R$ 244 milhões. Isso é o que ocorreu operacionalmente. Mas, efeitos extraordinários, jogaram o cálculo tradicional para o terreno negativo: R$ 7,9 milhões. Os lançamentos não recorrentes aqui foram diversos, mas dizem respeito principalmente a honorários com advogados por aquisições e outros serviços prestados. 

Para coroar o cenário que já estava desafiador nas vendas, o dinheiro custando mais caro também pesou. No trimestre, a despesa financeira da companhia saltou de R$ 119 milhões para R$ 304,7 milhões, fruto do aumento da taxa de juros que impactou o serviço da dívida e os descontos de recebíveis. 

O Magalu em 2021 -- e o que esperar para 2022

A visão geral sobre o ano do Magalu segue, em boa parte, o que foi mostrado no quarto trimestre, tradicional pico de vendas para o varejo. Olhando somente para os fatores operacionais, a companhia fechou o ano com lucro de R$ 114,2 milhões, queda de quase 70% em relação ao ano anterior. Novamente, um efeito não recorrente  -- crédito tributário -- aumentou esse número para R$ 590,7 milhões. 

A receita líquida ao longo do ano teve aumento e também fechou no azul, em R$ 35,2 milhões. O foco no digital nos doze meses encerrados em dezembro teve seu papel na margem bruta da companhia, que recuou 0,6 ponto percentual na comparação com 2020 – ano de pico de vendas e recordes históricos. 

Em relação às vendas totais, como já era esperado, o índice também mostrou aumento de 27,8% em relação a 2020. Aqui, destaca-se a participação do e-commerce, que já representa 71% das vendas totais da empresa. 

O Ebitda fechou o ano em R$1,4 bilhão, queda de 1,9% em relação a 2020. A margem Ebitda caiu 1 ponto percentual, para 4,2%, também influenciada pelos fatores macroeconômicos que afetaram vendas nas lojas físicas – juros mais caros e inflação em alta postergam decisão de compra de bens duráveis, por exemplo.

Em relação aos planos de expansão, o Magalu fechou o ano com 1.481 lojas, 180 a mais do que em 2020. Em tempos de baixa nas vendas, a ideia é usar esses espaços físicos, cada vez mais, como “mini centros de distribuição” e como ponto para atrair novos vendedores para o marketplace. Principalmente os vendedores que não têm nenhuma base de como vender pela internet. No último ano, pelo menos 50 mil sellers vieram para o Magalu dessa forma (a companhia fechou o ano com 160 mil).

O racional da estratégia, em linhas gerais, é o de melhorar prazos de entrega alcançando a maior abrangência possível no país e, dessa forma, diminuir ainda mais os prazos de entrega para os sellers e baratear o frete em categorias de tíquete médio mais baixo – fator que se torna cada vez mais importante com a escalada dos preços do combustível no país. De quebra, o Magalu ainda consegue algum fator de diferenciação, principalmente diante de multinacionais como Mercado Livre e Amazon.

Não à toa, os investimentos mais do que duplicaram de um ano para o outro. A maior parte está em tecnologia, com R$ 330,6 milhões, aumento de 36% em relação a 2020. Em seguida, estão as lojas novas, que responderam por um investimento de R$ 222,2 milhões.

Com mais de 20 aquisições realizadas nos últimos dois anos, a companhia mostra que quase metade das vendas on-line vêm de categorias comercializadas pelas empresas adquiridas, como moda (principal categoria em volume de vendas no e-commerce geral), além de esporte, casa e cuidados pessoais.

A ideia, agora, é usar parte do caixa da companhia – que fechou o ano no maior patamar histórico – para desenvolver as empresas adquiridas e integrá-las totalmente ao ecossistema do Magalu. “A gente vê o impacto das companhias adquiridas no negócio já em 2021. Fizemos muitas compras nos últimos anos e, embora estejam dando resultado, têm muito a crescer ainda. Por enquanto, estamos ‘bem-servidos’”, diz Eduardo Galanternick, VP de Negócios do Magazine Luiza.

Em um 2022 que já começa com muitos desafios – guerra, aumento de juros, inflação e eleições – o foco do Magalu é mostrar que a companhia continua com o pé no acelerador para os investimentos no marketplace. Mesmo que o custo disso, a curto prazo, seja o encolhimento das margens da companhia. Com a ânsia de mostrar que tem a liderança do marketplace nacional, o Magalu deve continuar investindo nas operações digitais e acredita que tempos melhores devem vir este ano.

“A gente tem uma visão muito clara da nossa estratégia, confiança na capacidade de conquistar objetivos. Estamos bem posicionados em uma visão de curto prazo. Óbvio que, no curto prazo, tem coisas acontecendo que fogem ao nosso controle, mas também temos Copa do Mundo no segundo semestre, que tende a ser boa para o nosso negócio. Vamos continuar de olho no que está nas nossas mãos”, diz Eduardo.

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