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Light: com novo CEO, conversa com credores entra em nova fase

Reunião já conduzida por Alexandre Nogueira teve postura mais "construtiva" e destravou diálogo na distribuidora

Light: Distribuidora de energia tem mais de R$ 6 bi em dívidas nas mãos de debenturistas (Light/Divulgação)
Light: Distribuidora de energia tem mais de R$ 6 bi em dívidas nas mãos de debenturistas (Light/Divulgação)
Natalia Viri

Natalia Viri

19 de outubro de 2023 às 22:09

Numa reunião já conduzida pelo novo CEO Alexandre Nogueira, a Light entrou hoje numa nova fase da negociação das suas dívidas – na postura mais “construtiva” até agora em relação aos credores da distribuidora, nas palavras de uma fonte.

Em uma apresentação institucional feita por Nogueira, o CFO Eduardo Gotilla e o chefe de operações Rodrigo Brandão, a companhia mostrou como pretende endereçar problemas estruturais, como o alto índice de perdas de energia.

Não houve nenhuma decisão prática, mas credores presentes apontam uma abordagem mais amigável nas conversas. “Até agora, era uma relação muito conflituosa, envolvendo mais detalhes processuais do que as negociações em si. Hoje, a chave virou”, aponta um interlocutor.

Ainda há um caminho longo para que se chegue a um acordo final, mas o diálogo ao menos foi estabelecido. “As conversas normalmente começam por essa etapa nos processos de recuperação judicial. Aqui, demoramos sete meses para chegar nesse ponto”, diz outro participante do encontro.

Na mesa por enquanto, está apenas um esboço com a espinha dorsal proposta, apresentada no começo de setembro. A ideia é que os atuais acionistas de referência – em especial Nelson Tanure – coloquem pelo menos R$ 1 bi na companhia, acompanhados de uma conversão de parte da dívida, hoje de mais de R$ 6 bi na mão de debenturitas, em ações.

A maior parcela da dívida terá seu prazo alongado, provavelmente em 10 anos, com uma correção de taxa. A Light chegou a propor IPCA+2%, mas credores querem uma taxa maior. O plano é que as dívidas fossem tombadas para a holding, o que também já foi rechaçado.

Nas próximas semanas, credores e a direção da companhia devem voltar a se reunir, tentando afinar premissas para balizar os pontos-chave de um acordo, como estrutura financeira, taxas de juros e valores de conversão.

A saída de Octávio Lopes da presidência da Light já era esperada pelo mercado desde que Tanure entrou na companhia, no fim do primeiro semestre. Em fato relevante divulgado ontem, a companhia sinalizou um “período de transição” até o fim do ano ou até o fim da RJ, o que chegar primeiro. Mas, na prática, o conselho já está colocando Nogueira como a cara da nova Light.

Para Tanure, o pedido de RJ foi um erro estratégico, principalmente porque dificulta o processo de renovação da concessão, que vence em 2026.

A Light teve que esticar a corda jurídica no pedido de proteção, o que não agradou a agência reguladora.

Como concessionárias não podem entrar em RJ, quem está sob proteção é a holding, com extensão do que se chama de ‘stay period’, que bloqueia a execução das dívidas da distribuidora e a geradora das quais a holding é controladora.

Nogueira já estava como diretor de relações institucionais da Light, e tem um bom trânsito em Brasília, construído ao longo de uma carreira de mais de 20 anos na Energisa, na área regulatória.

Nas últimas semanas, a Light vem sinalizando que prefere uma solução fora da recuperação judicial para conseguir um acordo rápido. Na geradora, o ativo menos encrencado do grupo, conseguiu fazer avanços com o Itaú, um de seus principais credores. É na distribuidora, contudo, que está o grosso da dívida, com mais de R$ 6 bilhões nas mãos de debenturistas.

“O importante é renegociar a dívida”, diz um dos credores. “Se isso vai ser dentro ou fora da recuperação judicial, a essa altura, é quase um detalhe semântico”.

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Natalia Viri

Natalia Viri

Editora do EXAME IN

Jornalista com mais de 15 anos de experiência na cobertura de negócios e finanças. Passou pelas redações de Valor, Veja e Brazil Journal e foi cofundadora do Reset, um portal dedicado a ESG e à nova economia.