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Jovens de 23 anos criam startup do novo normal e captam US$ 1,2 mi

Brasileiro e amigo checo criam plataforma de gestão para eventos online, a Ribbon Experiences

Matteo Carroll (sentado) e Vojta Drmota (monitor)

Foto: Germano Lüders
21/10/2020
Matteo Carroll (sentado) e Vojta Drmota (monitor) Foto: Germano Lüders 21/10/2020
GV

26 de outubro de 2020 às 10:33

Tente lembrar o que estava fazendo aos 23 anos. Já estava pensando em negócios? No seu próprio? Pois é o que faz a dupla de jovens Matteo Carroll e Vojta Drmota, 24 horas por dia, sete dias por semana. A única diferença é que cada um deles está em um fuso-horário. Carroll, no Brasil, e Drmota, na República Tcheca. Os amigos, que se conheceram jogando futebol em Harvard, onde ambos acabam de concluir suas graduações, são agora sócios e fecharam a primeira rodada de captação de recursos mais estruturada de suas vidas, de capital semente, para a Ribbon Experiences. Estreantes, atrairam a atenção de fundos habituados a investir em negócios do Vale do Silício.

O projeto foi pensado, executado e colocado em operação em menos de dois meses. A Ribbon, uma plataforma eletrônica para gestão de eventos online, não é apenas uma solução para problemas contemporâneos. É, toda ela, um exemplo do novo normal. Além de ser fundada por jovens que, mais do que conhecem, vivem o universo digital, não tem sede física, é usada internacionalmente e os novos funcionários poderão também estar em qualquer lugar do mundo. É fluída e sem fronteiras, embora oficialmente baseada em São Francisco. E, impossível não notar, seu fundador trabalha de moleton e sandálias birkenstock.

Quando veio a pandemia, Carroll e Drmota voltaram temporariamente para seus países de origem. Cada um em seu canto, os amigos foram trocando ideias e perceberam a carência do momento: com os negócios físicos fechados, as pessoas precisavam continuar vendendo seus serviços para sobreviver de alguma outra forma. Havia todo um coletivo dos diversos tipos de professores e criadores de conteúdo que estavam sem seus negócios tradicionais, mas com suas capacidades plenas.

O mundo digitalizado e interligado deu as ferramentas para que o conteúdo pudesse ser distribuído para as pessoas em suas casas. Mas faltava ainda uma solução que organizasse a vida comercial, que permitisse uma gestão eficiente. Era, então, meio de abril quando eles colocaram a mão na massa decididos a dar um jeito nisso.

No início de junho, chegava ao mercado a Ribbon Experiences. Pela plataforma, professores de yoga, pintura, desenho, mágicos e toda sorte de criadores, mestres e disseminadores de conteúdo podem oferecer seus conteúdos online ou montar uma biblioteca própria e organizar desde a programação das aulas, a comunicação com alunos, a formação de grupos e até controlar a vida financeira. Dentro da solução, é possível fazer a cobrança, incluindo a facilidade do cartão de crédito, e acompanhar quem está em dia ou não com os pagamentos.  Tudo automatizado.

Sem grande esforço de marketing e divulgação, a Ribbon já tem ou teve (alguns são permanentes e outros usuários de eventos únicos) 950 criadores em sua plataforma, de dez diferentes países do mundo, e mais de 45 mil usuários clientes desses profissionais conectados. Tudo isso nesses poucos meses de vida. O desempenho levou os sócios naturalmente a buscar recursos para crescer e contratar equipe.

“Vimos muita gente colocando cursos, aulas de ginástica, yoga, no Instagram ou promovendo aulas transmitidas via Zoom”, lembra Carroll. “Mas não tinha nada para organizar isso, e muitas vezes era difícil fazer a venda propriamente, cobrar e acompanhar pagamentos.”

O objetivo da Ribbon Experiences é facilitar a vida para que “creators” — como os fundadores chamam os criadores de conteúdo — possam ganhar a vida dessa forma. Mas ela também trilha a rota da nova normalidade, ou seja, daquilo que se tornou possível durante a pandemia e que as pessoas vão incorporar como hábito. “Quem gosta de yoga pode procurar mestres da Índia sem ter de viajar até lá. Do jeito que o mundo está interligado isso é perfeitamente possível”, conta Carroll.

(EXAME Academy/Exame)

A Ribbon não é o meio da transmissão, que continua sendo o de preferência do profissional — Zoom, Google Meeting, Instagram, ou o que o cliente julgar conveniente. "Mas 99% usa Zoom." Se o cliente tiver um site próprio, a Ribbon faz a integração. Se não tiver, pode fazer um com as ferramentas da plataforma, que se integra com a rede que o criador quiser usar. As próximas ferramentas que os sócios vão agregar são mais e mais facilidades de comunicação, com tecnologia para produção de newsletters ou mensagens instantâneas. “Esse mercado de eventos online tem um enorme potencial a ser explorado”, diz Carroll.

A Ribbon acaba de concluir sua primeira rodada em busca de capital semente, num total de 1,2 milhão de dólares. A ideia, com os recursos, é contratar gente — em qualquer lugar do mundo — e seguir agregando funcionalidades. O fundador conta ainda, por ser um facilitador da gestão, a plataforma é versátil para controle de aulas presenciais também. “Alguns usuários já começaram a ter esse mix.”

Break-even? Praticamente sem custos (pois hoje trabalham basicamente ele e o sócio amigo), a plataforma já é lucrativa. A remuneração vem de uma taxa de serviço cobrada dos criadores. Quando questionado se não se sentia excessivamente responsável e demandado profissionalmente para sua idade, simplificou que não sente esse peso. “Não é só trabalho, é paixão.”

Juventude empreendedora

Entre os investidores que a Ribbon atraiu está a gestora de venture capital ONEVC, fundada pelos brasileiros Arthur Brennand — da família de artistas do Recife — e Bruno Yoshimura. A gestora tem um fundo, registrado nos Estados Unidos, de 30 milhões de dólares  e já pensa no próximo, pois a fase de investimento está praticamente concluída (metade dos recursos fica em caixa para rodadas futuras das empresas já investidas). Na plataforma de Carroll, foram aportados 250 mil dólares.

A ONEVC tem atualmente metade dos investimentos no Brasil e a outra metade no Vale do Silício, ou seja, o foco é tecnologia e inovação na veia. O fundo, de preferência, faz aportes nas rodadas de capital semente. Brennand é outro exemplo da precocidade e modernidade: tem apenas 27 anos. Antes de ser gestor de fundo, era investidor anjo. “Buscava oportunidades e investia o que eu podia na época, 1 mil, 10 mil, o que eu tivesse. Nos últimos anos, esse mercado se organizou muito no Brasil e não funciona mais assim”, explica ele. Depois de seis anos acumulando experiência dessa forma, atraiu tanta atenção e tinha tantos contatos e interessados, que decidiu profissionalizar a gestão.

A escolha pela Ribbon é fruto de um mercado que se tornou evidente durante a pandemia, o de eventos online. Como se trata de algo novo e com poucas informações organizadas, Brennand gosta de citar dados organizados pela Forbes que estimou que esse mercado vai passar de 77 bilhões de dólares, em 2019, para mais de 400 bilhões de dólares, até 2027.

 

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