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Infracommerce enxuga operação e reduz investimentos de olho em breakeven em 2024

Companhia conduz esforços para melhorar rentabilidade e diminuir queima de caixa - mas ainda há muito trabalho a fazer, apontam analistas

Menos investimentos, mais rentabilidade: o mantra das empresas de tecnologia para 2023 também é seguido pela Infracommerce (Infracommerce/Divulgação)
Menos investimentos, mais rentabilidade: o mantra das empresas de tecnologia para 2023 também é seguido pela Infracommerce (Infracommerce/Divulgação)
Karina Souza

Karina Souza

10 de maio de 2023 às 11:32

A Infracommerce entregou um início de ano em linha com o que havia sinalizado ao mercado: esforços visíveis para se tornar mais rentável. A partir de uma receita 10,1% maior, de R$ 214,2 milhões, o Ebitda da companhia cresceu 56,8% nos primeiros três meses de 2023, para R$ 26 milhões -- com ganhos também de margem bruta e margem Ebitda.

Para chegar a esse resultado, a companhia demitiu 8% da força de trabalho, aproximadamente 300 colaboradores, além de diminuir investimentos, mantendo os níveis de capex próximos aos necessários para manutenção. Isso, além de frear os M&As, como já havia sinalizado no ano passado. O objetivo final é cumprir a meta de breakeven em 2024, como afirmaram Kai Schopen, CEO da companhia, e Fábio Bortolotti, CFO, ao EXAME IN — e reforçaram no call com analistas nesta manhã. 

Por enquanto, assim como boa parte do Ibovespa, a companhia viu a despesa financeira aumentar, puxando o lucro líquido para baixo na comparação anual, fechando os primeiros três meses do ano negativo em R$ 79,9 milhões, 34,1% maior do que o registrado no ano passado.

Importante notar que, apesar dos avanços reportados, ajustando o Ebitda com as despesas financeiras de recebíveis antecipados, o indicador ainda segue negativo, como escrevem os analistas Carlos Sequeira, Osni Carfi e Guilherme Guttilla, do BTG Pactual, em relatório divulgado nesta manhã. De acordo com o material, o Ebitda fica negativo em R$ 1 milhão, considerando todos os ajustes não recorrentes que a empresa faz. Ainda nessa mesma conta, o lucro líquido  é negativo em R$ 61 milhões.

Do lado de geração de receita, em um ambiente desafiador para o varejo eletrônico, com retração de 13% em faturamento, segundo a Neotrust, a companhia ganha mercado ao focar a operação na oferta de direct-to-consumer, ou seja, apoiada nas indústrias que estão querendo se comunicar diretamente com o consumidor final. Em números, a unidade de negócio B2C (que oferece plataformas de e-commerce para comércios que vendem diretamente ao consumidor final) cresceu 7,2% no período, enquanto a vertical B2B (que disponibiliza a plataforma de vendas para a indústria) cresceu 29,6%. 

Também foi esse grupo o principal responsável pelo aumento da quantidade de clientes da companhia na comparação anual, passando de 572 no primeiro trimestre de 2022 para 669 no início deste ano. O efeito desse incremento ainda não foi totalmente capturado no primeiro trimestre, mas deve ficar claro ao longo de 2023. 

Ao vender mais para a indústria, a companhia consegue melhorar os indicadores de rentabilidade, uma vez que esse tipo de operação tem margens maiores, mas um take rate menor. É uma relação que decorre da própria oferta comercial: com menos serviços de logística, a companhia oferece a esse público somente os de tecnologia, resultado em uma receita menor, mas margem melhor. Como parte desse efeito, o crescimento de lucro bruto veio em patamares próximos aos do ganho de receita, com aumento de 11,2%, para R$ 90,8 milhões.

Com perspectivas otimistas de aumento de vendas -- com margens melhores -- ao longo do ano, a Infracommerce completou a "lição de casa" com uma reorganização de sua estrutura própria. A companhia demitiu mais de 300 colaboradores nos primeiros três meses de 2023, ainda como rescaldo das aquisições realizadas até aqui, de olho em uma estrutura mais enxuta. Além disso, diminuiu o investimento em tecnologia em 27%, principalmente considerando integração de sistemas e redução de custo de licenças -- reduzindo as redundâncias a partir de aquisições.

O que aconteceu no primeiro trimestre é um indício do caminho que a companhia deve seguir ao longo de todo o ano, segundo Bortolotti. "Os investimentos vão ser reduzidos este ano e vão ser repriorizados. Ou seja, a gente está dando prioridade aos investimentos de maior retorno no curto prazo. Aqueles investimentos que mais rapidamente vão se converter em uma geração de caixa positiva. Assim, a prioridade é a geração de caixa e melhor lucratividade para a companhia”, diz ao EXAME IN.

Queima de caixa segue como ponto de atenção

No início deste ano, a companhia registrou uma posição de caixa de R$ 267,7 milhões, 36% maior do que a dos três meses correspondentes de 2022. A queima de caixa, no período, foi de R$ 25,6 milhões, revertendo a geração positiva de R$ 64,5 milhões um ano atrás. Um fator que também é visto com cautela pelos analistas do BTG.

"A companhia tem feito um esforço tremendo para reduzir o consumo de caixa, mas se isso não desacelerar de forma visível nos próximos trimestres, a Infracommerce pode ter de fazer um aumento de capital em um futuro não muito distante", escrevem. No fim do ano passado, a companhia conduziu um aumento de capital de R$ 401 milhões.

Além dos efeitos operacionais, a Incracommerce também contratou um empréstimo no fim de março, de olho em quitar obrigações assumidas anteriormente, além de emitir a segunda tranche de debêntures, no valor de R$ 165 milhões, para rolar a dívida da primeira emissão, realizada em 2021. O aumento da despesa financeira apareceu no balanço, é claro: aumento de 73% na comparação anual, com uma despesa de R$ 71,9 milhões. "Os níveis estão dentro do que esperávamos para cumprir com os nossos objetivos", diz o CFO.

Enquanto os juros continuam altos, além de a despesa financeira da companhia ficar maior, a Infracommerce também vê caminhar mais devagar o plano de trazer mais liquidez aos papéis. Com a negociação das ações aberta à pessoa física desde o fim do ano passado,  o efeito capturado até agora foi do de segurar o volume de negociações no mesmo patamar que estava há aproximadamente um ano.

"A gente conseguiu um ganho no relativo. Vimos a bolsa como um todo, talvez nos últimos seis meses ou ano, perdendo alguma coisa entre 20% e 30% do volume negociado. A gente se manteve estável. É uma perspectiva para todo o ano de 2023", afirma o CFO.

Em tempos de juro alto e aversão a ativos alavancados, a Infracommerce quer mostrar que o negócio é resiliente -- e que vai cumprir com a meta de chegar ao breakeven no próximo ano. É tempo de apertar os cintos.

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Karina Souza

Karina Souza

Repórter Exame IN

Formada pela Universidade Anhembi Morumbi e pós-graduada pela Saint Paul, é repórter do Exame IN desde abril de 2022 e está na Exame desde 2020. Antes disso, passou por grandes agências de comunicação.