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Como a Qualcomm quer se tornar referência em 5G no mercado brasileiro

Companhia faz parceria com Intelbras e vê oportunidade de estender serviços a diferentes setores no país

KS

12 de setembro de 2022 às 11:04

“Acredito que o 5G, diferentemente do 3G ou do 4G, foi realmente desenhado para países em desenvolvimento. Eles vão se beneficiar mais dessa nova frequência do que de qualquer outra lançada anteriormente”. Essa é uma das primeiras ideias lançadas por Jim Cathey, COO da Qualcomm, em entrevista ao EXAME IN, em um bate-papo que aconteceu na passagem-relâmpago do executivo pelo país para atender ao 5G Summit Brazil, evento promovido no fim de agosto. O tom da conversa – e do próprio encontro de líderes – é de ânimo em relação à nova frequência para o futuro. Num país em que 80% da população brasileira acima de 10 anos não tem conexão de qualidade na internet, a companhia quer aproveitar esse potencial sendo o principal parceiro de tecnologia para empresas de segmentos variados, incluindo chips em produtos que vão de notebooks a aplicações de IoT industrial. Moral da história? A Qualcomm quer estar em todos os lugares —  diversificando cada vez mais as fontes de ganhos para além dos chips para smartphones.

É um ponto que reflete os investimentos da companhia há pelo menos cinco anos. Desde 2017, afirma em apresentações a acionistas que está liderando o movimento para o 5G e que está bem posicionada para expandir sua atuação a novos mercados, como automotiva, redes e Internet of Things (IoT). As três foram mencionadas no último relatório anual da companhia, como mostrou o CEO Cristiano Amon em call com o mercado: a receita dessas divisões ultrapassou US$ 10 bilhões em 2021, crescimento de 69% ano a ano. É quase um terço da receita gerada no período– de US$ 33,5 bilhões. De olho no futuro, até mesmo investimentos em Metaverso foram anunciados em 2022.

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O olhar atento aos mercados emergentes e no desenvolvimento dessas tecnologias não vem sem razão. Para uma corporação que viu a receita crescer mais de 75% nos últimos dez anos e o preço das ações mais do que duplicar nesse período – passando de US$ 60,81 para US$ 129,92 – manter o ritmo ganha cada vez mais desafios. O mais recente foi a crise global de semicondutores, impulsionada pela pandemia. A partir da crise de suprimentos, a empresa acelerou investimentos em outras áreas além dos chips em si e focou em produtos de maior valor agregado, uma vez que não seria possível focar em entregar tudo que estava programado. 

O impacto mais recente é o da guerra comercial entre Estados Unidos e China. Apesar de as empresas norte-americanas do setor, incluindo a Qualcomm, atenderem a eventos como a Conferência Mundial de IA (realizada em Xangai) nesta semana e destacarem como podem contribuir para a China, o governo norte-americano caminha para cada vez mais restrições ao país. Em agosto deste ano, Biden assinou um decreto para destinar US$ 52,7 bilhões em subsídios para empresas de semicondutores aumentarem os esforços de produção e se tornarem mais competitivas diante da concorrência chinesa. Nesta quarta-feira, outras fabricantes de semicondutores como AMD e Nvidia relataram terem recebido uma comunicação do governo a respeito de exportações de componentes usados em aplicações de IA para o país. 

Nesse cenário, diversificar é a palavra de ordem. Entrando um pouco mais no tático, sem revelar detalhes, pontos como foco no agro, na indústria e em atender à população de baixa renda são enfatizados em vários pontos da entrevista com o executivo. No intuito de deixar isso ainda mais claro para o empresariado brasileiro, uma gama de produtos foi apresentada no evento da companhia, realizado há cerca de uma semana. Por lá, era possível ver desde óculos de realidade virtual até produtos mais ‘tradicionais’, como modem de internet e notebook. 

Cathey cita o exemplo de “fazendas inteligentes” para mostrar o potencial de inteligência que pode ser agregado ao dia a dia da gestão de animais e de checagens sobre a saúde deles de forma digital e em tempo real. E afirma que estará cada vez mais próximo da ponta final de uso dessas tecnologias, de olho em identificar oportunidades. 

O destaque mais próximo de um lançamento ao público, entretanto, fica com a parceria com a Intelbras, uma das poucas empresas a enfrentar um cenário de bonança na bolsa brasileira em meio à queda generalizada de ativos de tecnologia. O produto em questão é um modem, desenvolvido desde julho do ano passado e a ser lançado ao mercado em outubro deste ano. Com uma parceria exclusiva entre a Qualcomm e a fabricante brasileira, conta com um chip snapdragon e deve oferecer uma conectividade wireless em patamares melhores do que os de atuais roteadores.

O aparelho é o pontapé inicial para que a companhia nacional consiga crescer de forma acelerada no país apoiada no 5G, segundo  Amilcar Scheffer, diretor da unidade de redes da empresa. “Num prazo de cinco anos, nossa estimativa é que a banda larga 5G alcance 20% da quantidade de usuários instalados hoje, cerca de nove a 10 milhões de clientes. Isso porque, além do potencial do 5G de trazer clientes que atuavam com fibra, vai complementar o acesso de banda larga e contribuir para eliminar tecnologias mais antigas como DSL ou internet via rádio”, diz.

A ideia é que seja ofertado, em um primeiro momento, principalmente para operadoras de telecomunicações. As vencedoras dos leilões de 5G estão contempladas, é claro, mas a companhia direciona seus esforços também aos provedores regionais, que miram licenciamentos via rede neutra. O produto deve operar em três frequências 3,5 GHz (o “padrão ouro” para o setor), 2,3 GHz e 700 MHz.

Falar em rede neutra é sinônimo de lembrar dos avanços que a V.Tal (companhia criada a partir da rede de fibra ótica da Oi) vai trazer para o país. O projeto da nova empresa é levar a fibra até 34 milhões de casas até o fim de 2025, o que equivale a mais do que dobrar a infraestrutura comprada da Oi. E por que isso importa? De modo geral, porque o avanço do 5G no país vai precisar do suporte de uma rede robusta que consiga segurar o volume de tráfego em alta velocidade. Ou seja: trata-se de um mercado que deve crescer cada vez mais. 

Questionado a respeito do potencial de retorno que essas iniciativas podem trazer para a Qualcomm, Cathey não menciona nenhuma cifra diretamente para não dar guidance, mas ressalta os investimentos em pesquisa e desenvolvimento feitos pela companhia. Com base nas informações enviadas à SEC, eles representaram cerca de 20% da receita nos últimos dez anos, fechando 2021 com US$ 7,1 bilhões. 

 

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