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Banco Central

Com ‘upgrade’ da Selic, Brasil passa Rússia e tem o 2º maior juro do mundo

Copom confirma o esperado, eleva Selic a 6,25% ao ano e Brasil volta à cabeça do ranking de 40 maiores pagadores

Taxa Selic tem a quinta alta consecutiva e Copom, de Roberto Campos Neto, sinaliza 7,25% para a reunião de outubro  (André Coelho/Bloomberg/Getty Images)
Taxa Selic tem a quinta alta consecutiva e Copom, de Roberto Campos Neto, sinaliza 7,25% para a reunião de outubro (André Coelho/Bloomberg/Getty Images)

Publicado em 22 de setembro de 2021 às 19:55.

Última atualização em 23 de setembro de 2021 às 10:25.

Bola cantada, o Comitê de Política Monetária (Copom) cumpriu o script e anunciou, na quarta-feira à noite, o quinto aumento consecutivo da Selic que triplicou em seis meses. Mais uma dose de 1 ponto percentual eleva a taxa a 6,25% ao ano e já sinaliza 7,25% em outubro. Ao confirmar a sua própria sinalização e a expectativa do mercado, o Copom reinstalou o Brasil na segunda posição no ranking de 40 países por juro real – aquele que supera a inflação e, portanto, dá alguma compensação ao investidor. O Brasil paga agora 3,34% acima da inflação esperada ao final de um ano e desbanca a Rússia para a terceira posição, com 1,87%. A Turquia, porém, segue firme na liderança e é o país que melhor remunera o investidor, com taxa de 4,96%. O cálculo do juro real feito pelo economista-chefe da Infinity Asset, Jason Vieira, leva em conta a inflação 12 meses à frente, de 5,12%, segundo a Focus, descontada do contrato de DI com vencimento em outubro de 2022, de 8,63%.

Juro alto, mesmo acima da inflação, não garante, porém, o interesse de investidores, sobretudo os estrangeiros, que fogem de incertezas econômicas e políticas, evitando colocar em risco a expectativa de retorno de suas operações. Contudo, o Brasil à frente de 38 países em taxa de juro é relevante e, mantida a estabilidade econômica com metas de equilíbrio fiscal,  porque tende a atrair mais dinheiro, algo que o país não pode dispensar em nenhum momento – seja para financiar sua trilionária dívida pública ou promover investimentos na economia real, em setores que alimentem produção e consumo.

Vieira, que faz o monitoramento das decisões de política monetária de 40 economias há mais de uma década, revela, com o ranking global de juros, que a inflação tem surpreendido os bancos centrais. Do elenco de 40 países listados, 33 estão com juro real negativo – oferecem taxas que nem compensam a própria inflação. “Numa visão mais abrangente, considerando 168 países, 82,7% mantiveram os juros, 14,3% elevaram e 3% cortaram. Entre os 40 países do ranking, 80% mantiveram suas taxas, enquanto 17,5% aumentaram e 2,5% reduziram suas taxas de juros”, informa o economista.

O juro médio praticado pelos 40 países listados por Jason Vieira é negativo em 1,35% em setembro – bem inferior aos 3,34% positivos do Brasil, o que aumenta a chance de atrair mais investidores para a renda fixa.

Ventos sopram para renda fixa

Os juros mais altos já se refletem nos dados de captação da indústria de fundos. Levantamento divulgado, nesta quarta-feira, pela Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) confirma a expansão do patrimônio líquido dos fundos de investimentos no país e a participação privilegiada da renda fixa como uma classe de ativos. Em agosto, a captação líquida alcançou R$ 43,45 bilhões, montante que elevou o ingresso acumulado no ano – excluindo resgates – a R$ 359,23 bilhões e, em 12 meses, a R$ 370,82 bilhões.

A renda fixa agregou, naquele mês, R$ 45,4 bilhões – volume superior, portanto, ao consolidado, segundo Ranking de Administração de Fundos de Investimento por Classe Anbima. As carteiras de ações registraram captação líquida de R$ 459,1 milhões. Em agosto, registraram captação negativa, com resgates superiores às novas entradas, os fundos de Previdência e os FIDCs de, respectivamente, R$ 1,43 bilhão e R$ 5,48 bilhões.

A Anbima informa também que, em agosto, o patrimônio líquido dos fundos de investimentos totalizou R$ 6,806 trilhões. A parcela da renda fixa, mais beneficiada pela elevação das taxas de juros, responde por R$ 2,46 trilhões ou 36,1% do total; os multimercados têm patrimônio de R$ 1,57 trilhão ou 23,17%; e os fundos de ações abrigam R$ 675,2 bilhões, 9,9% do total.

O apetite de investidores estrangeiros pelo juro brasileiro já vem crescendo revelam as estatísticas de portfólio divulgadas pelo Banco Central. Estrangeiros já colocaram mais de US$ 20 bilhões em carteira no país de janeiro a julho, sendo US$ 14 bilhões em títulos negociados no mercado doméstico. Em sete meses de 2020, investidores externos tiraram US$ 27,155 bilhões do Brasil.

Em julho – dados mais recentes publicados – ingressaram em portfólio US$ 3,257 bilhões no total. Os estrangeiros aplicaram US$ 1,911 bilhão em títulos. Já as aplicações de investidores estrangeiros em ações somam US$ 6,667 bilhões em sete meses do ano. Em julho, porém, houve desinvestimento de US$ 2,08 bilhões.

Sinalização do Copom

O apelo da renda fixa segue inabalável com a decisão do Copom, que confirmou a nova Selic de 6,25% e, no seu comunicado, disse que “para a próxima reunião, o comitê antevê outro ajuste da mesma magnitude”. Portanto, 7,25% em outubro.

A despeito dessa sinalização, o Copom elevou o tom em relação ao último encontro e afirma que no atual estágio do ciclo de elevação de juros, esse ritmo de ajuste é o mais adequado para garantir a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante e , simultaneamente, permitir que o comitê obtenha mais informações sobre o estado da economia e o grau de persistência dos choques. “Neste momento, o cenário básico e o balanço de riscos do Copom indicam ser apropriado que o ciclo de aperto monetário avance no território contracionista”. Na reunião de agosto – quando elevou a Selic a 5,25% - o comando do BC considerou apropriado “um ciclo de elevação de taxa de juros para patamar acima do neutro”.

Em poucas palavras, o juro segue em alta ao menos até o fim do ano.

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