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Bolsa: fundos de ações podem ter 1º ano de resgates desde 2016

Fundos de ações e multimercados passaram a sofrer saques consecutivos no segundo semestre do ano

Carteira: investidor tira dinheiro da bolsa, com pessimismo para 2022 (DircinhaSW/Getty Images)
Carteira: investidor tira dinheiro da bolsa, com pessimismo para 2022 (DircinhaSW/Getty Images)
GV

Graziella Valenti

28 de dezembro de 2021 às 13:13

Para quem tinha esperanças que dezembro poderia reservar boas surpresas no mercado, em especial para renda variável, já é possível afirmar que as expectativas foram frustradas. Os investidores seguem resgatando suas aplicações, sejam as realizadas diretamente na B3, sejam via fundos de investimentos. Depois de superar os 130 mil pontos, o Índice Bovespa está perto de fechar 2021 pouco acima de 105 mil pontos. Mas os números que realmente não deixam espaço para esperanças de curto prazo são os relacionados aos fluxos.

Dados da Anbima apontam que 2021 está prestes a fechar com um saldo líquido de resgates nos fundos de ações. Se confirmado, será o primeiro ano negativo desde 2016. Entre o início de 2017 e o fim de 2020, essa categoria havia atraído investimentos líquidos somados de R$ 224,38 bilhões. O interesse dos investidores pelos fundos dedicados a bolsas veio caindo de forma acentuada ao longo do segundo semestre, quase no mesmo ritmo do aumento da taxa de juros. Somente em dezembro, até dia 22, a saída de recursos já estava em quase R$ 3 bilhões, fazendo o total de 2021 ficar negativo em mais de R$ 450 milhões. Até o fim de novembro, o saldo anual ainda era positivo.

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A pessoa física segue desacreditada do mercado acionário e a fotografia não muda quando o olhar mira as aplicações diretas na B3. Depois de alcançar uma participação no giro de mercado próxima de 22%, agora em dezembro esse percentual está abaixo de 15% — e nessa fatia, as vendas seguem superando as compras, mês após mês.

Vendas líquidas relevantes também se repetem mensalmente entre os investidores institucionais que, em dezembro, já tiraram mais de R$ 11 bilhões das aplicações em bolsa, como resultado dos resgates nos fundos de ações e multimercados (que estavam bastante alocados em ações desde 2020). O conservadorismo tende a fazer as vendas superarem, inclusive, os pedidos de resgates. Em períodos assim, os gestores de recursos ampliam o percentual da carteira em caixa, justamente para deixar o fundo preparado para novos saques.

Os estrangeiros seguem os maiores compradores. Apesar de os volumes serem expressivos no acumulado histórico, está distante de ser um total absoluto que consiga carregar o desempenho da bolsa ou empurrar os números para cima. O saldo positivo no ano está perto de R$ 100 bilhões. A questão é que o câmbio atual torna as cifras em moeda estrangeira todas superlativas quando convertidas para reais. Mas o Brasil está distante de ser a preferência de alocação das grandes carteiras globais.

CPFs

O ritmo de adesão de novos investidores diretos no pregão também despencou. Depois de explodir em 2020, quando a sensação de saldão na bolsa e a taxa de juros de 2% ao ano fizeram o número de CPFs na B3 praticamente dobrar, de 1,4 milhão para 2,7 milhões, a expansão agora anda a passos de tartaruga. O total de investidores está praticamente estagnado em 3,3 milhões desde meados de 2021, com o total de contas abertas pouco acima de 4 milhões.

Saída geral

Em dezembro, com as pessoas preparadas para ampliar os gastos com a mistura de viagens, festas contas de início de ano, o resgate é generalizado. Até a renda fixa, que estava com saldos históricos de captações (e assim segue no acumulado anual, com captação de R$ 226 bilhões), teve saída de recursos neste mês. Mais de R$ 50 bilhões foram sacados desses fundos, fazendo com que a indústria, no total, acumule uma saída superior a R$ 70 bilhões em dezembro, até dia 22.

As carteiras dos multimercados também vivem o pior mês de 2021, com as retiradas líquidas acima de R$ 15 bilhões. O saldo no ano para essa categoria, contudo, ainda é positivo: R$ 52,7 bilhões.

Ainda que, de forma geral, a torcida seja pelo fim de 2021 e por uma aposta de renovação das melhores expectativas em 2022, o caminho não deve ser simples. A lista de indicadores que precisa melhorar é grande. Mas, dentre todos, é primordial que haja confiança na melhora do cenário inflacionário e, consequentemente, de contenção da escalada dos juros. Mas, por enquanto, o horizonte segue totalmente incerto. Até agora, nem mesmo os alertas dos especialistas a respeito dos preços potencialmente interessantes para compras, conseguiu conter o mau-humor.

 

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