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BNDES quer assinar acordo com aéreas ainda nesta semana

Azul prepara operação para usar linha do banco público e Gol avalia outras fontes de captação

Avião da Azul
Avião da Azul
GV

7 de julho de 2020 às 18:55

O BNDES espera estar pronto para assinar até o fim desta semana os termos com Azul e Gol para as operações que poderão resultar em uma capitalização de até 2 bilhões de reais em cada empresa, de acordo com fontes próximas ao governo. O banco de fomento poderá fornecer até 1,2 bilhão de reais por companhia, ou seja, 60% dos recursos.

O EXAME In apurou que a Azul espera fechar em breve o acordo. Contudo, no caso da Gol, a empresa tem buscado outras formas de reforçar sua estrutura de capital. Ontem, anunciou um acordo com a Smiles para venda antecipada de 1,2 bilhão de reais de passagens à companhia de programas de fidelidade. Não está claro, portanto, se a empresa vai usar a operação desenvolvida pelo BNDES nem quando.

Somente após assinatura dos termos com o BNDES é que as companhias teriam condições para estruturar junto com os bancos de investimento as captações que efetivamente seriam lançadas ao mercado — no formato já divulgado, 75% dívida (debêntures simples) e 25% bônus conversíveis em ações. A assinatura com o banco estatal não é a etapa final para obtenção dos recursos. Ao contrário, é a inicial.

As operações, conforme já divulgado, deverão ser lançadas ao mercado e serão precificadas pelos próprios investidores, com base em parâmetros dados pelo banco de fomento. Mas, ao fim, o BNDES vai aderir ao que for obtido no processo de bookbuilding. A expectativa do governo é que a melhora de mercado fará com que não seja necessário o banco assumir o teto previsto das operações.

Ambas as companhias, Azul e Gol, já tiveram recuperação expressiva do valor de mercado — embora ainda estejam distantes de suas máximas. A Azul saiu de 5,78 bilhões ao fim de março para os atuais 7,35 bilhões de reais, enquanto a Gol mais que dobrou sua capitalização em bolsa, de 3,1 bilhões para 7,1 bilhões de reais no mesmo período.

Os títulos de dívida, os bonds emitidos fora do Brasil, indicam a quantas anda a percepção de risco de crédito das companhias. Os papéis da Azul com vencimento em 2024 são negociados com desconto de 55% e os da Gol, com prazo em janeiro de 2025, de 42%. Quanto maior o desconto, maior a percepção de risco dos investidores. A explicação para a diferença está na situação mais apertada de caixa da Azul.

Para acessar o máximo de 1,2 bilhão de reais do BNDES, mais 200 milhões de reais dos bancos comerciais parceiros na operação, as empresas terão de encontrar no mercado apetite para, pelo menos, 600 milhões de reais. Sem mercado, não tem BNDES.

A atuação do governo brasileiro no caso do setor aéreo tem despertado críticas, pois está demorando mais do que em outros países, sendo que as companhias estão igualmente afetadas pela crise do coronavírus no mundo todo. Questionada a respeito dos prazos, fonte ligada ao governo disse que o BNDES deve ser encarado como “a última opção”, pois as companhias precisam buscar se ajustar ao cenário atual.

Nessa direção, a Azul anunciou recentemente uma parceria comercial com a Latam, para compartilhamento de voos, conexões domésticas e programas de pontos. Ontem, a companhia também iniciou um processo de demissão e os sindicatos estimavam mais de 1.000 desligamentos — número não confirmado pela empresa.

A Gol, por sua vez, além da operação com a Smiles que está gerando polêmica com os minoritários da controlada, avalia outras alternativas de captação e tenta retomar conversas que estavam em andamento no mundo pré-covid. A empresa já havia comunicado ao mercado anteriormete que poderia buscar 1 bilhão de reais por meio de linhas com garantia de peças e equipamentos.

Na semana passada, a Azul anunciou a venda de sua participação minoritária na TAP, dentro de um acordo com o governo português para capitalizar a aérea em 1,2 bilhão de euros. Pelo acordo, a Azul recebeu cerca de 10 milhões de euros da participação da Atlantic Gateway, de um total de 55 milhões — o restante foi para o bolso de David Neeleman, controlador da empresa e sócio na empreitada portuguesa.

O governo de Portugal pediu também que a Azul aceitasse não converter bonds que dariam uma participação econômica de 41,25% na empresa e para que fossem carregados até o vencimento em 2026. A medida trará perdas ao balanço da companhia brasileira.

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