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B3: estrangeiro comprou sozinho na semana passada e deixou R$ 3,1 bi

Fluxo positivo de investidor internacional na semana passada é o primeiro do ano e reflete desconto da bolsa brasileira em dólares

Ibovespa: pessoa física e institucional doméstico aproveitaram alta para realizar parte dos lucros (Amanda Perobelli/Reuters)
Ibovespa: pessoa física e institucional doméstico aproveitaram alta para realizar parte dos lucros (Amanda Perobelli/Reuters)
GV

Graziella Valenti

9 de junho de 2020 às 17:36

A alta do Índice Bovespa da semana passada, quando passou de 87.402 para 94.367 em uma sequência positiva contínua, traz uma surpresa: o único comprador líquido de bolsa na semana passada foi o estrangeiro. Deixou um saldo positivo de 3,1 bilhões de reais, ou o equivalente a pouco mais de 600 milhões de dólares, aproximadamente, entre segunda e sexta-feira.

A pessoa física, que carregou o mercado nas costas durante o auge da crise, e o institucional doméstico, que aproveitou maio para buscar oportunidades, foram vendedores líquidos nesse brilhante começo de junho para a bolsa. Cada um desses grupos vendeu, em termos líquidos, 820 milhões reais e 2,3 bilhão de reais, respectivamente.

Desde que a crise teve início, em março, o investidor estrangeiro acentuou a retirada de recursos do Brasil. De março a maio, sacou nada menos do que 37 bilhões de reais da B3. A tabela da primeira semana de junho é a primeira de 2020 a ficar positiva. Em janeiro e fevereiro, já tinham saído outros 28 bilhões de reais.

Jerson Zanlorenzi, responsável pela mesa de renda variável e derivativos do BTG Digital, contou que tem percebido um fluxo positivo de recursos externos, o que é explicado pela grande liquidez no mercado internacional e pelo desconto da bolsa brasileira em dólares. “Os mercados lá fora já recuperaram mais do que o Brasil. Esse desconto que ainda existe aqui e o preço em dólar deprimido estão atraindo o estrangeiro.”

O valor de mercado somado das empresas do Índice Bovespa, em reais, saiu de 2,5 trilhões ao fim de março para 3,4 trilhões ontem — uma alta de 36%. O total já é quase o mesmo do fim de fevereiro: 3,5 trilhões de reais.

Já em dólares, a capitalização das companhias mais líquidas da B3 saiu de 934 bilhões em fevereiro para 689 bilhões ontem — queda de 26%. Em relação ao mês de março, a alta é de apenas 2,8%.

Além disso, Zanlorenzi comentou que a pessoa física está agora criando sua “reserva de oportunidade”. Na prática, isso significa que o investidor está realizando parte dos lucros que obteve e “guardando” como caixa para aproveitar ou em alguma nova realização do mercado ou em ativos pontuais que julgar interessante — que poderá ser em bolsa ou em outros ativos.

O pequeno investidor foi o grande comprador de bolsa no piso. Portanto, é quem tem o maior saldo a realizar nesse momento e seria natural ver uma parte disso ser concretizada para ser preservada ou diversificada. “Se eu não estivesse vendo de perto o comportamento da pessoa física, nem eu acreditaria nisso. Mas o investidor está muito mais estratégico e menos emocional do que no passado.”

A expectativa de Zanlorenzi é que o investidor pessoa física vai realizar entre 10% e 20% da posição construída na crise. Apesar disso, o especialista acredita que a tendência do mercado segue de recuperação — ainda que haja uma realização pontual no meio do caminho —, pois o fluxo para ações continua positivo diante do juro baixo e a migração de recursos para bolsa continua sendo uma realidade.

Além disso, ele acredita que o estrangeiro voltará a comprar, dado o desconto comparativo muito maior em Brasil, pela soma do efeito cambial ao atraso na recuperação, em comparação, por exemplo, ao S&P 500, que já voltou ao patamar pré-pandemia.

 

 

 

 

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