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Aviação

Azul prevê demanda em 40% no fim do ano e vida normal só em 2022

A Azul acredita que sofrerá com uma queima de caixa de 3 milhões a 4 milhões de reais ao dia durante maio e junho, por causa do coronavírus

Azul: empresa divulgou balanço nesta quinta mostrando que setor estaria em expansão sem coronavírus (Alexandre Battibugli/Exame)
Azul: empresa divulgou balanço nesta quinta mostrando que setor estaria em expansão sem coronavírus (Alexandre Battibugli/Exame)
GV

Graziella Valenti

14 de maio de 2020 às 14:18

O cenário pré-pandemia continua em um horizonte distante ainda para as companhias aéreas. A Azul, que divulgou hoje mais cedo o balanço do primeiro trimestre, espera uma recuperação “conservadora” da demanda para cerca de 40% dos níveis pré-crise até o fim de 2020.

A expectativa de relativa normalidade está em um futuro dentro de 18 a 24 meses “Temos diversos cenários e um tipo de reação para cada um deles, mas esse é o que consideramos possível nesse momento”, afirmou Alexandre Malfitani, vice-presidente de finanças e relações com investidores. “Sempre foi difícil prever o futuro no Brasil. Mas, atualmente, dezembro parece daqui cinco anos.”

Enquanto isso, a empresa acredita que sofrerá com uma queima de caixa de 3 milhões a 4 milhões de reais ao dia durante os meses de maio e junho, após ter encerrado março com 3,1 bilhões em caixa, para uma dívida bruta total de 20 bilhões de reais. O total das responsabilidades subiu 33% na comparação com dezembro em razão do efeito da alta do dólar sobre o estoque dos compromissos.

“Nosso chairman [o fundador David Neeleman] está mais otimista do que nunca. Mas preferimos adotar uma postura conservadora. Faremos o que for necessário para levar a Azul até o outro lado dessa crise”, afirmou John Rodgerson, presidente da companhia durante teleconferência com analistas. Essa foi a única menção ao fundador, que no mês passado permitiu que uma execução de garantias, no valor de 30 milhões de dólares, resultasse na venda de quase toda sua posição em ações preferenciais da empresa. “Nós criamos esse negócio e vamos superar essa situação.”

Rodgerson afirmou que haverá grande esforço para que a empresa alcance o “break even”, ou seja, pare de queimar recursos com a operação, mas não forneceu um prazo exato para tanto. Segundo o executivo, esse ponto dependerá de uma série de variáveis, incluindo demanda dos clientes e a operação com o BNDES, que poderá fornecer recursos para as empresas do setor. “O mundo não será ‘infinanciável’ para sempre.”

Ao longo deste mês, o plano da empresa é realizar uma média de 115 voos diários, com 20 aviões, para 38 destinos. A frota contratada total é de 167 aeronaves, sendo que 140 estavam operacionais ao fim de março. Sobre junho, Rodgerson afirmou que ainda não é possível saber qual será o total de voos. “Gostaríamos de chegar a 140. Vamos experimentar mais e mais a cada semana, mas é a demanda que vai ditar.”

Nesse momento, 120 aviões estão estacionados e a empresa disse estar desenvolvendo um plano para readequar o tamanho de sua infraestrutura. Da dívida bruta total, 16,5 bilhões de reais estão relacionados a arrendamentos ou subarrendamentos de aviões.

A Azul apresentou ao mercado uma série de medidas que está promovendo para tentar reequilibrar suas contas. Entre elas, adiou para 2024 a entrega de 59 aeronaves da Embraer previstas para ser recebidas entre este ano e 2023.

Prejuízo explosivo

O balanço do primeiro trimestre deste ano, afetado pela pandemia apenas em meados de março, aponta que se não fosse o coronavírus o setor continuaria em expansão. A receita líquida da empresa teve alta de 10,3%, para 2,8 bilhões de reais. Contudo, a crise iniciada no fim do mês e a variação cambial sobre os custos fizeram o Ebitda recuar 9,7%, para 654,2 milhões de reais.

A Azul teve prejuízo de 6,136 bilhões de reais nos três primeiros meses do ano, comparado a um lucro de 125,3 milhões de reais em igual período de 2018. A última linha do balanço foi fortemente afetada pela valorização do dólar, uma vez que os compromissos das empresas do setor são em sua maioria em moeda estrangeira.

As despesas financeiras somaram 5,9 bilhões de reais de janeiro a março, ante 230 milhões no ano anterior. Desse total, 4,2 bilhões são relacionadas à variação cambial sobre o estoque da dívida.

 

Para completar o quadro, o balanço ainda sofreu com uma baixa no valor contábil relacionada à participação na companhia aérea portuguesa TAP, no valor de 618,5 milhões de reais.

Alexandre Malfitani, vice-presidente financeiro e de relações com investidores, explicou que a companhia já conseguiu liberação dos credores para os limites de alavancagem trimestrais e está negociando o anual. “É uma conversa que está acontecendo. Já conseguimos isso no passado, durante a recessão no Brasil em 2016.”

O pacote com o BNDES, segundo Rodgerson, ficou muito menor do que se imaginava. O total de crédito ofertado para as três companhias será de 4 bilhões de reais. “Num cenário de incerteza como esse, seria melhor se houvesse mais”, afirmou. A proposta do banco de fomento foi recebida nessa semana. Mas, segundo o presidente da Azul, muitos detalhes ainda precisam ser vistos. O valor final a cada uma dependerá se todas as companhias usarem ou não a linha.

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