Logo Exame.com
Assai

Assaí acelera conversão de lojas do Extra e quer separar custo de expansão no balanço

Companhia vai inaugurar 40 lojas adquiridas da rede de hipermercados até o fim do ano e planeja outras 21 para o primeiro trimestre de 23

Belmiro Gomes: disciplina na gestão de custos para avançar no Brasil (Assaí/Divulgação)
Belmiro Gomes: disciplina na gestão de custos para avançar no Brasil (Assaí/Divulgação)

Publicado em 30 de agosto de 2022 às 19:32.

Última atualização em 30 de agosto de 2022 às 19:32.

O Assaí, que fatura R$ 60 bilhões anualmente e tem mais de 220 lojas no Brasil, estuda abrir uma seção especial no relatório do terceiro trimestre deste ano para explicar os custos pré-operacionais de abertura de lojas, segundo Belmiro Gomes, CEO da companhia. A declaração foi feita em um evento à imprensa nesta terça-feira (30), no qual executivos apresentaram o novo modelo desses estabelecimentos, com foco em mais serviços aos consumidores. O local escolhido foi a loja da Anhanguera, em São Paulo, ponto de venda que pertencia ao Extra — incluído no ‘pacote’ de 71 lojas adquiridas da rede de hipermercados por R$ 5,2 bilhões em outubro do ano passado.  O plano é que as inaugurações contribuam para o guidance da companhia, de chegar a R$ 100 bilhões de faturamento em 2024.

Inscreva-se no EXAME IN e saiba hoje o que será notícia amanhã. Receba no e-mail os alertas de notícias e links para os vídeos do talk show quinzenal.

A intenção de apresentar os dados separadamente não vem sem razão. O Assaí tem a meta de inaugurar 40 das lojas adquiridas (ou seja, 60%) até o fim deste ano, o que traz um peso relevante ao balanço quando o assunto é despesa. Hoje, a companhia tem oito mil funcionários contratados para estabelecimentos que ainda não entraram em operação. É um número que representa mais do que o tamanho da companhia inteira em 2011 — e aproximadamente 13% do quadro total de funcionários do Assaí atualmente. Esse gasto com pessoal, somado às reformas, traz custos pré-operacionais 2,5 vezes maiores em relação ao mesmo período do ano passado, por uma razão simples: em 2021, nesse período, eram cinco lojas em fase de construção e, hoje, são 30 só do Extra. Ao todo, a empresa tem 53 obras em andamento. 

Olhando principalmente para o efeito das lojas convertidas, o segundo semestre deste ano é o período mais pesado em investimentos. Entre as demais, 21 estão planejadas para começarem a operar a partir do ano que vem e as remanescentes ainda aguardam negociações com proprietários ou licenças fornecidas por órgãos públicos. Questionado a respeito da probabilidade de essas lojas não virem pro portfólio do Assaí, Gomes explica que é baixíssima. O projeto das lojas do Extra, de modo geral, deve durar até o primeiro trimestre do ano que vem. 

Até lá, o intuito do disclaimer no relatório é o de trazer ainda mais transparência e clareza para os resultados da companhia, uma vez que as despesas maiores também devem impactar a margem da companhia no curto prazo. No segundo trimestre, pouco desse efeito já apareceu: a margem bruta teve queda de 0,7 ponto percentual e a margem Ebitda ficou estável (queda de 0,1 ponto percentual), para 7,4%, mesmo com a expansão do Ebitda em 29,9%, para R$ 978 milhões.

Para o terceiro trimestre, a conta fica mais pesada porque, além da concentração da aberturas de lojas (que já têm como característica terem preços menores na inauguração) e reformas, o mês de setembro é marcado por promoções de aniversário do Assaí. Tudo isso já estava previsto pela empresa, que chegou a anunciar um guidance para 2022 de uma margem Ebitda 0,5 ponto percentual menor do que a registrada em 2021, o que daria algo em torno de 7% no fim deste ano. 

Mesmo com tudo já comunicado, dentro do possível, o CEO repetiu várias vezes aos jornalistas o compromisso de manter a rentabilidade e o crescimento da companhia, olhando para o futuro. Hoje, as despesas gerais e administrativas da companhia representam 9,5% da receita, um patamar estável nos últimos dez anos, de acordo com os resultados da empresa — e que deve se manter assim ao longo dos próximos anos. “Existe um benchmarking da CostCo, de chegar a 9%, mas o que se tem de levar em consideração é que a companhia norte-americana usa esse fator para lojas já maduras, com mais de cinco anos em funcionamento”, diz. 

Tomando esse fator como base e o intuito do Assaí de não parar de expandir tão cedo, a perspectiva de que a margem se mantenha nos patamares já observados persiste. Para exemplificá-lo, Gomes explica que a companhia continua de olho em terrenos em grandes cidades e regiões metropolitanas. Aquisições de pontos de venda do Makro, de concessionárias e fábricas já foram realizadas pela companhia, num esforço de expansão. Um outro ponto que destrava esse crescimento, na visão do executivo, é o fato de o Assaí hoje atuar de forma separada do GPA — uma vez que, quando estavam sob o mesmo guarda-chuva, os pontos de venda eram selecionados pensando no todo. 

A loja da Anhanguera tem capacidade para 10.500 produtos, ante a média de 8.500 da companhia em geral. Como reflexo da maior área e do maior mix de produtos, as novas lojas devem faturar mais. A estimativa é de R$ 500 milhões por ano, em comparação aos R$ 400 milhões de lojas localizadas em grandes centros urbanos e com porte similar. A venda bruta por metro quadrado é estimada em R$ 5,3 mil, ante R$ 4,5 mil na média da companhia. 

A adaptação de um formato de loja de hipermercado para o atacarejo levou 150 dias, segundo José Leon, diretor de expansão e obras do Assaí, e foi feito seguindo todos os protocolos ESG. Entre os principais pontos para transformar um ponto de venda em outro está a adaptação para receber caminhões — hoje, 80% da mercadoria vendida no local é entregue ali, enquanto só os 20% restantes vêm do CD — e a transformação do piso de loja: o de um hipermercado aguenta aproximadamente 800 quilos por metro quadrado e o da loja, atualmente, aguenta quatro toneladas.

O foco do discurso do executivo é mostrar que o esforço da companhia vai compensar. A razão está principalmente na ‘raridade’ dos ativos sob a gestão da companhia no momento: grandes espaços que já eram de área construída e estão em pontos de grande circulação em centros urbanos. Para ter uma ideia do que isso significa em custo, o executivo afirma que construir uma loja como a que será inaugurada amanhã, do zero, levaria um investimento de R$ 100 milhões, enquanto o custo total de colocá-la de pé foi de metade disso. 

De olho no futuro

Para fornecer alguma projeção de ganhos futuros, o executivo aponta um ‘case de sucesso’ da loja de Carapicuíba, que triplicou vendas em relação ao faturamento do Extra no 18º mês em funcionamento. Essa é a segunda loja em faturamento pra o grupo, ficando atrás somente da do shopping Aricanduva. Em um horizonte da companhia como um todo, o aumento de vendas de três vezes em relação ao Extra deve ser mantido, com três meses para atingir o potencial de vendas, break even no primeiro ano e maturação total no segundo ano. Ao todo, as lojas do Extra devem adicionar 400 mil metros quadrados à área de venda da companhia, principalmente em capitais, regiões metropolitanas ou cidades grandes.

Como um dos principais pontos para avançar e chegar até o horizonte desejado, Gomes ressalta o fato de que o atacarejo consegue ser competitivo no comércio de alimentos, um ponto a favor em relação aos hipermercados, no varejo físico, e ao próprio e-commerce. Tomando como base as 23 lojas convertidas de hipermercados enquanto a companhia ainda estava dentro do GPA, a companhia afirma que a venda bruta das lojas transformadas em atacarejos é três vezes maior: passou de R$ 2,1 bilhões para R$ 6 bilhões.

Além disso, as lojas convertidas são mais rentáveis do que a média das lojas do Assaí. A margem bruta fica em 17,6% (ante 16,7%), os custos gerais e administrativos são de 8,9% (ante 9,5%) e a margem Ebitda é de 9%, ante 7,5%. 

Potencial do atacarejo

“O que derrubou os hipermercados não foram os supermercados. Foram as vendas on-line, que trouxeram maior venda de categorias como linha branca, que eram usualmente vendidas por esses estabelecimentos e ajudam a balancear o ganho de margem das empresas. Com a migração desse consumo para o e-commerce, o aumento de preços se tornou uma realidade e daí o atacarejo ganhou mais espaço”, diz Gomes.

Com base em dados da Nielsen apresentados pela companhia, o atacarejo tem uma participação de mercado de 46,4% — em relação ao total de empresas analisadas pela companhia de análises, e não em relação ao Brasil como um todo — enquanto o supermercado tem 25,5%, o hipermercado tem 19,7% e os comércios de vizinhança têm 8,4%. 

Dentro dessa análise, considerando o patamar histórico desde janeiro de 2020, o atacarejo foi o único a crescer. A participação de mercado da categoria era de 37,7% na data, o que dá um ganho de 9 pontos percentuais em dois anos e meio. O impulso, é claro, considera benefícios do próprio modelo em relação ao cenário macroeconômico e o avanço das próprias redes. 

Em uma outra análise com base em dados da Nielsen, hoje o modelo de atacarejo representa menos de 20% dos gastos mensais dos brasileiros (mais precisamente, 19,7%). A categoria de bares aparece logo atrás, com 17,9%, e em terceiro lugar, está o supermercado, com 11,2%. Importante destacar que mais de um terço (38,7%) da amostra da Nielsen está em “outros”, ou seja, cujo consumo não foi mapeado pela empresa de pesquisas.

 

De 1 a 5, qual sua experiência de leitura na exame?
Sendo 1 a nota mais baixa e 5 a nota mais alta.

Seu feedback é muito importante para construir uma EXAME cada vez melhor.

Para quem decide. Por quem decide.

Saiba antes. Receba o Insight no seu email

Li e concordo com os Termos de Uso e Política de Privacidade

Acompanhe:

Continua após a publicidade
Postergar abertura de lojas não vai afetar nossa competitividade, diz CEO do Assaí

Postergar abertura de lojas não vai afetar nossa competitividade, diz CEO do Assaí

Citando ‘juros altos’, Assaí corta pela metade previsão de abertura de lojas em 2025

Citando ‘juros altos’, Assaí corta pela metade previsão de abertura de lojas em 2025