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Além do chocolate: vertical de ciência e saúde da Nestlé deve faturar R$ 32 bi neste ano

Companhia líder em ciência nutricional representa 6% do faturamento global da Nestlé e planeja chegar a 8% este ano, de olho em cinco mercados específicos

Nestlé Health Science: vitaminas e suplementos são a principal oportunidade para crescer no Brasil (Nestlé/Divulgação)
Nestlé Health Science: vitaminas e suplementos são a principal oportunidade para crescer no Brasil (Nestlé/Divulgação)
KS

Karina Souza

15 de julho de 2022 às 09:00

Falar em Nestlé é um sinônimo quase involuntário de pensar em chocolates: a famosa caixa de bombom no supermercado, produtos como chokito, prestígio e tantos outros que fazem parte do cotidiano dos brasileiros. Afinal, o país é o quarto maior mercado em receita do grupo. O que nem todo mundo se lembra é que a mesma visita ao supermercado pode trazer um contato com uma divisão da multinacional, a Nestlé Health Science (NHS), líder global em vitaminas, minerais e suplementos. As latinhas de Nutren e NAN Althera, por exemplo, são fabricadas por eles — e representam apenas a ponta da ampla gama de produtos que a companhia tem. Fundada em 2011, a divisão conta com 44 produtos (24 estão disponíveis no Brasil) e cresce ano após ano. A mensagem, no frigir dos ovos, é: o grupo conhecido pelos chocolates quer deixar a frente de ciência e saúde também um sinônimo da marca. 

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Em 2020, representava cerca de 4% das vendas totais da Nestlé, percentual que passou para 6% em 2021, totalizando 4,5 bilhões de francos suíços (aproximadamente R$ 24 bilhões) . “Nosso objetivo é chegar a 8% em 2022, ou 6 bilhões de francos suíços”, segundo Greg Behar, CEO global da Nestlé Health Science, em entrevista ao EXAME IN. A visão é a de que a busca por mais saúde é um processo contínuo, mas que ganhou ares de urgência recentemente com preocupações com o pós-pandemia.

A percepção é justificada com dados. Estimativas de mercado mostram que o mercado global de suplementos nutricionais é de aproximadamente US$ 358,8 bilhões e deve crescer a um CAGR (crescimento composto anual) de 6,3% até 2030. A divisão não divulga as vendas por país, mas os dados do relatório anual mostram que as Américas e a região da Ásia, Oceania e África Subsaariana registraram crescimento de dois dígitos na comparação com o ano anterior, olhando para a divisão de ciência da alimentação. Ao mesmo tempo, as vendas na EMEA (Europa, Oriente Médio e África) cresceram a “um alto dígito único”, segundo as informações do balanço.

A Nestlé Health Science quer competir por uma fatia maior desse mercado a cada ano, de olho principalmente em prevenção de doenças por meio da suplementação alimentar. A companhia trabalha com duas verticais: nutrição médica, de produtos podem ser encontrados em supermercado ou nos balcões de farmácias, quanto as soluções farmecêuticas — que têm um viés mais de medicamento do que de alimento em si — comercializadas hoje apenas no Estados Unidos, Canadá e alguns países da Europa. 

Os destaques em vendas de produtos no último ano foram as linhas de Consumer Care (os produtos ‘de balcão’, por assim dizer). Vitaminas, minerais e suplementos para impulsionar a imunidade — em época de pandemia, vale destacar — cresceram a dois dígitos no último ano.

Essa vertical é, para o executivo, a principal a ser explorada no Brasil ao longo dos próximos anos. “O Brasil tem um imenso público consumidor é bastante diversificado. De modo geral, vitaminas e minerais e outras soluções dentro da vertical de nutrição médica são as nossas principais apostas no país. Estamos confiantes do nosso crescimento no país”, diz Behar. Em 2021, o mercado brasileiro de suplementos foi estimado em R$ 3,5 bilhões, com crescimento de 47,8% sobre o ano anterior, segundo um levantamento do IQVIA. 

A companhia não está sozinha na busca por esse mercado. A Danone também tem uma divisão de nutrição especializada que atua por aqui, a Nutricia. Em um contexto global, a Glanbia também compete, em certa medida, pelo mesmo mercado, assim como a Medtriton. Isso sem falar nas farmacêuticas como a GSK e Pfizer. Isso sem falar que o setor de vitaminas e suplementos tem muitas empresas pequenas que vendem produtos de nicho para o mercado fitness, como New Nutrition, Growth Supplements, Dark Skull e Max.

Para se manter em alta, a companhia investe tanto em crescimento orgânico quanto em aquisições, de olho em avançar também em outras frentes. De 2014 para cá, globalmente, a vertical investiu mais de 10 bilhões de francos suíços (R$ 50 bilhões) na compra de empresas. No Brasil, a Nestlé Health Science comprou no início do ano a Puravida, empresa de alimentos naturais, outro segmento em ascensão no país, em uma transação que não teve o valor revelado. 

Questionado a respeito de futuras aquisições para compor o plano, o executivo não entrega números, mas afirma que a empresa vai “manter a disciplina”, pensando em estratégia e nível de impacto financeiro para avançar. Certo é que a empresa não pretende parar de ir às compras tão cedo. “Sempre estamos atentos a oportunidades. Avaliamos com disciplina e atuamos de forma rápida”, diz Behar. 

De olho no futuro

Em um resumo rápido das oportunidades identificadas pela companhia no Brasil e no mundo, o executivo cita cinco áreas que devem receber investimentos nos próximos anos, seja com desenvolvimento próprio de produtos ou com crescimento inorgânico: nutrição celular, alergias alimentares, saúde intestinal, comprometimento cognitivo leve (não Alzheimer) e Oncologia são áreas prioritárias para os próximos anos. 

Para entender melhor nutrição celular — um termo que pode parecer um tanto científico demais — Behar dá um exemplo. “Sem a bateria, um Tesla não anda. No nosso corpo, acontece o mesmo, se analisarmos o comportamento das mitocôndrias. Problemas podem trazer problemas para os rins, coração e outros órgãos. Essa é uma área onde estamos fazendo muitas pesquisas e desenvolvendo uma série de produtos e parcerias”, diz o executivo.

O foco em outras áreas também é justificado. O número de pessoas com algum tipo de alergia alimentar chega a 10% da população brasileira — com a maior parte formada por crianças, que respondem por 6% a 8% e os demais são formados pela população adulta. Behar não dá exatamente a dimensão completa do esforço que a empresa vai fazer para oferecer produtos a esse público, mas dá algumas dicas. “Nós podemos fornecer produtos para que pais e mães possam oferecer a seus filhos de modo que as crianças tenham uma proteção imunológica maior para a alergia a certos tipos de alimentos, por exemplo”, diz o executivo. 

Em relação ao ponto de saúde do intestino, o executivo destaca um olhar mais global sobre o assunto. Behar afirma que, em 2023, o NHS (o ‘SUS’ do Reino Unido) deve lançar um tratamento à base de probióticos para prevenir infecções hospitalares — responsáveis, nos EUA, por 26 mil mortes por ano. É apenas uma das pontas em que a companhia pode atuar. Estudos já comprovaram a correlação entre saúde do intestino e doenças como Parkinson e depressão, por exemplo, oferecendo um campo vasto para a divisão da Nestlé atuar.

Por fim, dentro do segmento de oncologia, Behar destaca alguns pontos que podem indicar o caminho que a companhia quer seguir. “Podemos realmente ter uma influência importante a nível de nutrição dos pacientes e da capacidade de tomarem produtos cujo gosto seja mais agradável”, diz. 

É com esse conjunto de capacidades e investimentos que a companhia pretende avançar. Nos últimos onze anos, a estratégia deu resultados — e a conjuntura atual de busca por mais saúde deve continuar trazendo frutos. A divisão não divulga guidance de receita ou lucro para períodos a partir do ano que vem, nem quanto vai investir ao certo. Mas, pelo andar da carruagem, o que parece é que a empresa não vai tirar o pé do acelerador tão cedo.

 

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