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A Schroders traz para o Brasil a dobradinha da moda: ESG e ações globais

Fundo pretende captar R$ 100 milhões na largada, mas patrimônio pode alcançar R$ 500 milhões em 18 meses

Daniel Celano, da Schroders: "Dentro de dez anos, fatores de diferenciação das empresas hoje serão obrigatórios" (Schroders/Divulgação)
Daniel Celano, da Schroders: "Dentro de dez anos, fatores de diferenciação das empresas hoje serão obrigatórios" (Schroders/Divulgação)
GV

Graziella Valenti

12 de agosto de 2020 às 11:43

Já pensou juntar ações de companhias internacionais e sustentabilidade, as duas maiores novas modas — ou modalidades — do mercado brasileiro? Pois é o fundo que a Schroders, que tem 663 bilhões de dólares em ativos geridos globalmente, trouxe para o Brasil, onde cuida de 14 bilhões de reais. De início, a carteira do Schroders Sustentabilidade Ações Globais vai levantar cerca de 100 milhões de reais com grandes fundos de previdência e seguradoras.

Daniel Celano, presidente da Schroders no Brasil, acredita que o volume da carteira pode alcançar entre 300 milhões de reais e 500 milhões de reais nos próximos 18 meses. O produto, segundo ele, será oferecido, a princípio, apenas a clientes institucionais, e até o fim do ano há planos de oferecê-lo também em plataformas de investimentos. “Impressiona como essa combinação de ações globais e sustentabilidade está despertando atenção. As plataformas estão muito interessadas nesse perfil de produto, pois há demanda do público”, afirma ele, em entrevista ao EXAME IN.

O volume pode parecer pequeno para o porte da gestora, em um primeiro momento — ou para o tamanho do mercado de fundos que agora se dizem guiados em suas análises pelos fatores ESG (ambientais, sociais e governança, conforme a sigla em inglês). De acordo com pesquisa da MorningStar, ao fim do segundo trimestre, a indústria de fundos ESG alcançou, pela primeira vez, marca superior a 1 trilhão de dólares em patrimônio.

Comparado ao tamanho desse segmento no Brasil, a iniciativa da Schroders é significativa. As carteiras classificadas como ESG e de governança pela Anbima têm a menor participação na indústria de fundos de ações — a única categoria com patrimônio líquido abaixo de 1 bilhão de reais. Em junho, o total estava em 543 milhões de reais. Apesar de pequena, com expansão importante em um ano: 26% — em linha com a expansão internacional. No total, o patrimônio da categoria ações teve alta de 16,6%, para 465 bilhões de reais, de julho a junho deste ano

O portfólio da Schroders, porém, não é apenas focado em sustentabilidade. É também uma carteira internacional, o que permite a presença também de ações brasileiras. O fundo captado aqui investirá no fundo global da casa, cujo patrimônio internacional estava em 516 milhões de dólares. Ativos internacionais são formas para diversificar risco — além de papéis sem relação com a economia brasileira, são uma aplicação indireta no dólar. A ideia do produto, segundo Celano, também é fornecer uma exposição cambial. “É um caminho indireto.” Em 36 meses, a carteira global teve retorno de 67%, antes 39,4% do Índice Bovespa. E a volatilidade ficou 21,8% ante 28,4% do principal indicador brasileiro.

A Schroders havia planejado trazer o produto com foco no mercado de previdência em dezembro do ano passado, mas o processo burocrático de documentação da carteira levou tempo e Celano está impressionado com a forma como a pandemia amplificou o interesse pelos fatores ESG. “Não é moda passageira. Quem não tiver esse tipo de avaliação, vai ficar para trás. Daqui a dez anos, alguns fatores que hoje são considerados de diferenciação serão obrigatórios. Ninguém mais vai falar como algo adicional.”

De acordo com Celano, a Schroders tem uma equipe com 21 profissionais dedicados à análise das companhias com foco em sustentabilidade. A avaliação faz sentido, segundo ele, para criação de valor no longo prazo. A casa começou a incorporar fatores de governança em suas aplicações em 1998 e,  três anos depois, incorporou questões sociais. Em 2007, a gestora desenvolveu sua própria estratégia apoiada em questões climáticas e adotou a combinação ESG tal como é vista hoje em 2015. Neste ano, a Schroders integrou completamente os fatores ESG em sua seleção de investimentos, colocando toda a força de seu patrimônio gerido sobre o tema.

A carteira do Schroders ISF Global Sustentabilty Growth — o fundo mãe do que será oferecido no Brasil — inclui ativos como Nestlé, Unilever, Danone, Raia Drogasil, Deere, Vestas, Mastercard, Microsoft, Visa, Adobe Systems, Norsk Hydro, B3, BBVA, AIA Group, além das queridinhas Alphabet, Amazon e Tencent, entre outras.

A avaliação é feita por meio de um sistema proprietário quantitativo chamado “context”, que avalia 260 pontos das empresas e gera uma nota. A partir disso, os analistas se dedicam a estudar em maior profundidade os pontos de maior risco e sensibilidade em cada empresa. A incorporação de fatores ESG é das coisas mais diversas que existe entre as gestoras. Na maioria das vezes, cada casa tem sua metodologia própria que pode ser mais ou menos restritiva. Não por acaso a comissão de valores mobiliários dos Estados Unidos, a SEC, está avaliando o tema, de forma a tentar coibir adoções apenas marqueteiras do modelo.

“Questões como mudança climática, escassez de recursos, crescimento populacional e falhas corporativas colocaram o investimento responsável na vanguarda das preocupações dos investidores. Acreditamos que companhias com uma forte ética ambiental, social e de governança tendem a entregar resultados melhores para nossos clientes.” A frase de Peter Herrison, presidente do Grupo Schroders, sintetiza o pensamento da casa a respeito do assunto.

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