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A Petrobras está de volta às renováveis. Faz sentido?

Investidores não esperam impactos no curto prazo, mas ainda são céticos quanto aos retornos na transição energética

Alternativa aos fósseis: energias renováveis precisam triplicar para ajudar a conter aquecimento (Getty Images/Getty Images)
Alternativa aos fósseis: energias renováveis precisam triplicar para ajudar a conter aquecimento (Getty Images/Getty Images)
Karina Souza

Karina Souza

15 de setembro de 2023 às 11:31

A Petrobras está definitivamente de volta ao mercado de energias renováveis. Com um combo de anúncios nesta semana – que envolveu de pedidos para licenciamento ambiental para eólicas offshore, investimento com a WEG para desenvolvimento de turbinas e memorando de entendimentos com a Casa dos Ventos e a TotalEnergies , a estatal deu contornos práticos e ambiciosos para seu plano de diversificação para além dos combustíveis fósseis.

“A Petrobras assume a posição de maior desenvolvedora de projetos de energia eólica no Brasil. A companhia chegou chegando”, resumiu um entusiasmado Jean Paul Prates, marcando o tom que a Petrobras quer imprimir no caminho para a transição energética.

Os 10 pedidos de licenciamento para eólicas em alto-mar feitos ao Ibama totalizam 23 GW, o que somado aos 14,5 GW já anunciados em uma parceria ainda em fase de estudo com a Equinor totalizam 37,5 GW em análise – mais do que toda a geração eólica em operação no país hoje, de 26 GW.

Com inúmeros desafios de execução, preços da energia elétrica deprimidos para os próximos anos em meio ao excesso de oferta e investidores calejados com tentativas anteriores de diversificação que resultaram em prejuízo, ainda há bastante ceticismo em relação aos planos da Petrobras.

Se no passado tentativas de diversificação apavoraram os investidores, os anúncios ambiciosos mexeram pouco com o mercado: a visão de analistas é a de que nada será colocado em prática em curto prazo. Os papéis da petroleira subiram esta semana, muito mais na esteira da alta do petróleo, próximo às máximas do ano, do que relacionados a um futuro mais sustentável.

Em evento esta semana, o diretor de transição energética Maurício Tolmasquim afirmou que a intenção, por ora, é “estudar áreas, medir os ventos em cada região e depois ver custos, capex e analisar a viabilidade”, ressaltando que “a Petrobras só entra em projetos em que o Valor Presente Líquido (VPL) é positivo.”

“Nós acreditamos que esses projetos [eólicos] não serão incluídos no próximo plano estratégico da Petrobras e pode levar de um a dois anos do anúncio até os desembolsos de capex", afirmaram os analistas do Itaú BBA em relatório.

Nas contas deles, tomando como base o novo PAC a Petrobras deve investir US$ 86 bilhões nos próximos cinco anos, aumento de 11% em relação ao anunciado no ano passado, com  US$ 1,2 bilhão dedicados ao fundo de descarbonização.

A equipe do BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da Exame) foi na mesma linha e estima que a atividade de extração de petróleo deve continuar a gerar 80% do Ebitda da companhia no médio prazo.

Eles não esperam nenhum impacto na distribuição de dividendos da companhia dentro de três a cinco anos com os potenciais investimentos em transição energética. E avaliam que, nos múltiplos atuais, com um dividend yield de 12% para 2023 e de 17% para 2024, eventuais riscos já estão precificados – reforçando, portanto, a recomendação de compra.

Faz sentido?

Se por um lado ninguém espera impactos no curto prazo, a discussão sobre a viabilidade de eólicas offshore no Brasil no médio e longo prazos é mais estrutural.

Em março, quando a Petrobras anunciou a parceria com a Equinor para explorar uma geração de 14,5 GW, o analista Antônio Junqueira, do Citi, foi categórico: "Ainda que não haja problema em estudar novas iniciativas, vamos aproveitar a oportunidade para antecipar os estudos da Petrobras e recomendar: Não invista em eólica offshore!".

A tese é que, nos países do norte global, com poucos ventos no continente, baixa insolação e terras caras ir para o mar para gerar energia pode até fazer sentido estratégico e econômico. Mas, no Brasil, com um cenário inverso, seria rasgar dinheiro.

“Não duvido nada que possa surgir uma ideia de criar ‘campeões nacionais’ do offshore, com crédito do BNDES, e projetos [de energia] conduzidos pela Petrobras”, afirma outro analista de mercado.

Fora do Brasil, empresas têm mostrado dificuldade em viabilizar projetos como esses, até mesmo em regiões nas quais há algum subsídio para esses projetos, como é o caso dos Estados Unidos. No fim de agosto, a empresa dinamarquesa de energia renovável Orsted anunciou uma baixa contábil de US$ 2,34 bilhões no balanço do terceiro trimestre por conta de prejuízos em três projetos de eólicos offshore em terras americanas. Desde então, perdeu quase um quarto de seu valor de mercado.

A Equinor e a BP estão desenvolvendo três parques eólicos na costa de Nova York e afirmaram, em junho, que precisam renegociar os preços da energia ou os projetos que venceram em licitações não teriam viabilidade financeira.

Na Europa, a Vattenfall, estatal sueca de energia, também anunciou recentemente a paralisação de um projeto de eólica offshore no Reino Unido. E, aos investidores, também reafirmou a necessidade de mecanismos capazes de incentivar esse mercado em curto prazo -- já que as negociações com fornecedores e com o governo continuavam.

Oportunidades

O preço dos equipamentos que compõem esse tipo de geração também caiu nos últimos anos, como aponta um estudo da A&M (antiga Alvarez & Marsal). As informações são de que a média de custos de instalação de projetos eólicos offshore no mundo caiu 40% de 2010 a 2020, de US$ 4.876 por kilowatt para US$ 2.858/kW.

Senador pelo Rio Grande do Norte, Prates sempre foi um dos maiores entusiastas das eólicas, devido à vocação do Estado. Um de seus principais pontos é que, com o hidrogênio verde – produzido a partir de fontes renováveis – abre-se um espaço para ‘exportação’ de energia, criando um novo vetor de demanda para as eólicas em alto mar.

A ideia já começou a ser colocada em prática, ainda que de forma embrionária. A companhia firmou recentemente um memorando de entendimento com a China Energy, durante a passagem do presidente Lula pelo país asiático, propondo justamente o estudo de uma planta de hidrogênio-amônia no Rio Grande do Norte.

“O Brasil será um dos ambientes competitivos mais disputados do mundo em menos de sete anos. É raso, não tem intempéries climáticas, vamos fazer manutenção de jangada. Vai custar barato e esses ganhos vão se incorporar ao nosso fluxo de caixa. Vencemos a barreira do pré-sal, agora vamos vencer o offshore”, afirmou Prates em evento na quinta-feira.

O caminho rumo a esse futuro — para produzir hidrogênio verde ou não — ainda depende de mais leis, como o marco regulatório em discussão, além de leilões a serem feitos pelo governo federal.

“Seria um golaço se, no primeiro leilão, tivesse um PPA atrelado, já que, em um contrato de longo prazo, o risco cai enormemente. Ao fazer isso, a gente vai descobrir que a eólica offshore pode não ser tão cara assim. Também pode ser um critério misto, de quanto a empresa candidata paga pela área que quer explorar e quanto de tarifa ela vai dar”, afirmou Prates.

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Karina Souza

Karina Souza

Repórter Exame IN

Formada pela Universidade Anhembi Morumbi e pós-graduada pela Saint Paul, é repórter do Exame IN desde abril de 2022 e está na Exame desde 2020. Antes disso, passou por grandes agências de comunicação.