Após comprar Insolo por R$ 1,8 bi, Ricardo Faria é maior emergente agro
Empresário, que também é dono da Granja Faria, assume posição de 5º maior produtor de grãos do país em área plantada
Graziella Valenti
Editora Exame IN
Publicado em 7 de novembro de 2021 às 11:01.
Última atualização em 4 de abril de 2023 às 12:05.
O mundo do agronegócio tem um novíssimo grande empresário. Em porte mesmo. O catarinense Ricardo Faria, que no início do ano passado criou a companhia de grãos Terrus, acaba de assinar a compra da Insolo, por R$ 1,8 bilhão. Juntas, as companhias têm 120 mil hectares de área para produção e devem ter uma receita de R$ 1 bilhão nesse ano safra. Agora, ele assume a 5ª posição no ranking de maiores áreas de produção do país. Considerando tamanho, fica atrás da líder, SLC Agrícola, que com aquisição da Terra Santa, passa a ter o equivalente a 660 mil hectares e é seguida por Grupo Bom Futuro, Amaggi e Scheffer, nessa ordem.
O pagamento pelo ativo é praticamente todo em dinheiro, uma vez que a companhia adquirida não tem dívida significativa, conforme contou Faria em entrevista exclusiva ao EXAME IN. O nome da empresa combinada será apenas Insolo, que já carrega reconhecimento do mercado. “Vamos aproveitar a marca, que se consolidou ao longo dos últimos 20 anos.” A Terrus começou com fazendas no chamado Matopi, apelido atribuído ao conjunto de estados Maranhão, Tocantins e Piauí. E a Insolo tem unidades concentradas no Piauí.
A Insolo pertencia a um fundo cujos recursos são do endowment da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos. Junto com a empresa vem toda inteligência desenvolvida em biodefensivos naturais (fungos e bactérias), que são usados no lugar de defensivos agrícolas tradicionais para proteger o plantio. A Fazenda Ipê, com 35 mil hectares e localizada no Piauí, tem a maior área do país integralmente usuária dessa solução biológica (12 mil hectares). A aquisição ainda depende de aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e será encaminhada para análise amanhã.
Faria cresceu no agronegócio com largas e rápidas passadas. Até 2017, ele era dono da lavanderia industrial Lavebras, com 70% do negócio — os outros 30% pertenciam ao empresário Edson Bueno, fundador do Grupo Amil. No início daquele ano, em uma transação de R$ 1,3 bilhão, vendeu a Lavebras à francesa Elis.
O empresário, então, partiu para o campo e começou a Granja Faria, hoje a maior produtora de ovos do país, segundo ele. Passou, então, de um faturamento na casa dos R$ 180 milhões quatro anos atrás para R$ 785 milhões em 2020 e prevê R$ 1,2 bilhão para 2021. São 14 milhões de aves.
Recentemente, ele causou frisson até no universo gastronômico, ao abrir o restaurante Eggy, no Itaim paulista, onde tudo, absolutamente, visa ressaltar o brilho do ingrediente principal: ele, o ovo. A Eggy mira estar perto do consumidor final.
Os movimentos todos de Faria chamam atenção. Mas, no caso particular da Insolo, como todas as companhias na sua frente em tamanho pertencem a múltiplos donos, ele pode ser considerado o maior produtor agrícola do Brasil individualmente, uma vez que é o único controlador da empresa de grãos. Quem conhece a disposição ao trabalho do empresário, acredita que o apetite dele não para por aí. Questionado se é o novo "rei do agro", Faria nega: "Nossa, nada disso. Sou, no máximo, rei da minha casa. Mas, nem isso. Você sabe, né!?", brinca, bem humorado.
Planos
A compra da Insolo acaba de ser assinada e o planejamento já está traçado. A primeira providência vai ser ampliar o plantio ao equivalente a 30 mil hectares, dentro da área detida. “A grande beleza desse negócio é que já começamos com a previsão de ampliar a produção em aproximadamente 30% no próximo ano safra completo”, afirma ele, referindo-se à produção 2022/2023.
Além da expansão, há mais novidades. Dentro de quatro anos, após estudar com profundidade clima e solo, a intenção de Faria é incluir o cultivo do algodão. Não dá para esquecer que o passado da Lavebras deu ao empresário bastante conhecimento da cadeia têxtil, além de boas relações. “Essa cultura tem uma grande capacidade de agregação de valor, apesar de exigir mais capital de giro. Na mesma área plantada, consegue fazer uma receita até três vezes maior [que o cultivo de grãos]”, explica ele.
“As chapadas do Piauí são as melhores do país na combinação entre luminosidade e precipitação [chuva]”, conta Faria. Além disso, segundo ele, o algodão é o que melhor permite à fazenda desenvolver os profissionais, pois exige equipes mais técnicas.
O agro, as próximas fintechs
Faria é um símbolo da renovação que está ocorrendo no setor de agronegócios, que passa por uma revolução fomentada pela explosão das agtechs no país e pelo surgimento de novos empresários. Há quem acredite que elas serão as “fintechs” do futuro, no sentido de atenção, atração de capital e efeito sobre o mercado. Tal mudança traz, ao mesmo tempo, maior produtividade, menos uso de defensivos e fertilizantes químicos e produtos com menor impacto ambiental e mais saudáveis.
O objetivo do empresário é banir os defensivos químicos de 85% da sua produção em três anos. Em cinco anos, por completo. Para isso, vai usar a área de pesquisa dentro da Insolo, que acompanha a aplicação de biodefensivo em diversas lavouras. Além disso, quer ampliar a adoção de fertilizantes orgânicos, no lugar dos químicos conhecidos — e polêmicos — para 40 mil hectares já na próxima safra e seguir crescendo.
Questionado sobre transações com partes relacionadas entre a Granja Faria e a Insolo, Faria faz questão de explicar que uma é cliente da outra — e já eram antes da troca de controle. A granja fornece fertilizantes orgânicos e compra grãos da Insolo. “A produção da companhia [Insolo] é usada para alimentar aves, porcos e o gado que vai para a mesa dos brasileiros”, ressalta ele.
E fazer um IPO, uma oferta pública de ações em bolsa, para agregar valor à companhia está nos planos, Ricardo? “Não. Vamos apostar na biotecnologia”, diz, explicando que não há nada no radar por enquanto.
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Graziella Valenti
Editora Exame INCriadora do EXAME IN, espaço dedicado à cobertura de negócios, com foco em mercado de capitais. Na EXAME desde março de 2020, ficou 13 anos no Valor Econômico, oito como repórter especial, sete anos na Broadcast, do Grupo Estado.