Logo Exame.com
Gerdau

Demanda nos EUA impulsiona resultados da Gerdau no 1º trimestre de 23

Reestruturação conduzida pela companhia desde 2015 e plano macroeconômico de foco em infraestrutura colaboraram para aumentar demanda por aço nos Estados Unidos

Gerdau: desempenho na operação dos EUA tem a ver com preparação conduzida desde 2015 pela companhia (Gerdau/Divulgação)
Gerdau: desempenho na operação dos EUA tem a ver com preparação conduzida desde 2015 pela companhia (Gerdau/Divulgação)
Karina Souza

Karina Souza

3 de maio de 2023 às 12:03

A demanda nos Estados Unidos é a principal fonte de ganhos de desempenho da Gerdau ao longo deste primeiro trimestre. Os EUA geraram a maior receita líquida entre todas as divisões da companhia no período, de R$ 7,7 bilhões, enquanto o Brasil gerou R$ 6,9 bilhões.A distância entre ambas cresceu consideravelmente desde o ano passado, quando tinham patamares próximos de faturamento, na casa dos R$ 8 bilhões. A expectativa de um trimestre mais complicado para o Brasil, com dificuldades de aumentar preços e margens ainda pressionadas já era esperada por uma fonte que acompanha a empresa, ouvida pelo EXAME IN.

Pela primeira vez em 122 anos, a operação norte-americana contribuiu mais para o Ebitda da companhia dos últimos doze meses do que a brasileira, sendo responsável, sozinha, por 53,5% do indicador de rentabilidade, ante 24,2% gerados pelo Brasil.

No quadro geral para a companhia, todos os indicadores caíram ante o primeiro trimestre de 2022: a receita encolheu 7,2%, para R$ R$ 18,8 bilhões, o Ebitda foi de R$ 4,3 bilhões, 25% menor do que o registrado há um ano e, finalmente chegando à última linha do balanço, o lucro líquido foi de R$ 2,3 bilhões, 19% menor do que o de 2022. Em uma comparação trimestre a trimestre, todos os indicadores avançaram em relação ao mesmo período do ano passado, com um lucro líquido aproximadamente 80% maior.

Entendendo melhor o cenário deste início de ano -- e como a companhia chegou ao feito inédito na operação norte-americana -- a Gerdau aponta, no balanço, que este foi um período marcado por demanda estável da operação brasileira, mas com menor paridade de preços em relação ao material importado, o que fez a receita por tonelada cair. No quadro geral, o faturamento da divisão brasileira ficou 13,7% menor, para R$ 6,9 bilhões. Diante das incertezas macroeconômicas, mesmo com a demanda estável, a quantidade de vendas caiu 7,7% no início do ano, o que fez a companhia perder eficiência, mesmo com a queda nos custos de ligas metálicas, energia elétrica e sucata no período. O Ebitda da operação brasileira, no fim das contas, ficou 45,5% menor.

Enquanto isso, nos Estados Unidos, o volume comercializado cresceu. Não é o suficiente para ultrapassar a receita gerada no primeiro trimestre de 2022 (recorde para a companhia como um todo), mas chega perto: a queda, neste início de 2023, ficou em 5%. Apesar do aumento de custos gerado pelo spread metálico, a alta demanda diluiu esse incremento, fazendo com que o custo de vendas por tonelada ficasse estável em relação ao mesmo período do ano passado. Os fatores, combinados, ajudaram a segurar a queda no Ebitda diante do recorde do ano passado, com um indicador 13% menor do que o do primeiro trimestre de 2022.

"A operação norte-americana está muito sólida. É um reflexo do trabalho que fizemos ao longo dos últimos anos de melhorar desempenho, algo que veio principalmente com pessoas muito talentosas , além, é claro, do investimento em equipamentos. Estamos conduzindo esse processo desde 2015 e, em 2023, conseguimos um trimestre fantástico por lá", diz Gustavo Werneck, CEO da Gerdau, ao EXAME IN.

Há oito anos, a companhia decidiu sair de mercados menos lucrativos (Chile, Índia e Espanha) para focar na operação dos Estados Unidos. A razão? Por lá, a fábrica da Gerdau tinha indicadores de eficiência distantes dos registrados nas operações brasileiras e também dos pares locais. Ao identificar esse gap, a companhia criou um plano para levar a operação para o patamar similar ao brasileiro. 

Esses fatores internos vieram, em 2023, acompanhados de fatores externos nos Estados Unidos -- impulsionando a demanda em um momento no qual a companhia está mais preparada para atendê-los. "Um grande atestado de comprovação que fizemos a coisa certa veio neste trimestre. Pela primeira vez em muitos anos, tivemos margens melhores do que nossos concorrentes nos Estados Unidos", diz o CEO. 

Do lado de fora da empresa, o principal fator macroeconômico que impulsionou esse crescimento foi o foco do governo Biden em infraestrutura. Em 2021, para lembrar, o presidente dos EUA assinou um pacote de US$ 1,2 trilhão para investimentos em estradas, pontes, ferrovias, aeroportos e outros. Além disso, outro fenômeno do pós-pandemia vem acontecendo nos Estados Unidos: a desglobalização (ou near-shoring), conceito focado em trazer capacidade de produção para próximo do país. O que impulsiona a construção de fábricas novas e, consequentemente, a demanda da Gerdau. E, por último, um fator tem a ver com a matriz energética mais limpa, com priorização de energia solar e eólica -- que também demandam aço para serem construídas. 

ESG

 O tema de energia limpa pode ter ganhado mais destaque recentemente na terra do Tio Sam, mas, para a Gerdau, ESG não é uma sigla que vem de hoje. A companhia é hoje a maior recicladora da América Latina, com 71% do aço produzido feito a partir de sucata. A Gerdau também é, hoje, a maior produtora de carvão vegetal do mundo, com mais de 250 mil hectares de base florestal no estado de Minas Gerais. Tudo isso resulta, no fim das contas, em emissões cerca de dez vezes menores do que as de empresas que usam minério de ferro para produzir aço. 

De olho em um mundo que está cada vez mais atento à produção sustentável -- em diferentes áreas -- a companhia vai investir R$ 5 bilhões neste ano principalmente em projetos ligados à sustentabilidade. A maior parte do dinheiro deve ir para Minas Gerais, em três frentes: aperfeiçoar a atividade de mineração da companhia, tornando-a mais sustentável, melhorar a capacidade da usina de ouro branco para produzir produtos com maior valor agregado aos clientes e investimento em reflorestamento, de olho na produção de carvão via eucalipto.

Em tempos de juros altos, o investimento deve virá da própria geração de caixa e será distribuído ao longo do ano, segundo o CEO. No primeiro trimestre deste ano, a companhia investiu R$ 954 milhões em capex, 61% mais do que no mesmo período do ano passado.

No fim de março, a Gerdau tinha um caixa de de R$ 5,8 bilhões, 23% menor do que o do mesmo período de 2022. Enquanto isso, a dívida da companhia cresceu 24% em relação ao último ano, para R$ 6,4 bilhões, o que resulta em uma alavancagem de 0,31 vez. "Uma das coisas que a gente aprendeu ao longo dos nossos 122 anos é que uma empresa que atua num segmento como o nosso, de commodity, não pode ter dívida alta", diz Werneck. Além de ter uma dívida baixa, a companhia tem uma dívida longa, com 78% vencendo no longo prazo. 

Com uma estrutura de capital sólida, a companhia não perde o foco em alternativas de crescimento. Além do aço em si, um dos destaques dos últimos anos para a Gerdau -- ainda reflexo do processo de reestruturação conduzido desde 2015 -- tem a ver com inovação. A companhia criou a Next, braço de negócios dedicado a novos negócios, com uma atuação especial com startups. Recentemente, uma das investidas da vertical, a Brasil ao Cubo, deve chegar aos R$ 650 milhões de receita em 2023, um salto de mais de 100 vezes em relação a 2018, quando a vertical de inovação começou a ser colocada em prática. Além dos investimentos em si, a Gerdau também participa cada vez mais de eventos diferentes dos tradicionais do setor em que atua: patrocinou o Rock in Rio, na última edição do festival no Brasil, e, neste ano, marcou presença também no SXSW.

"A gente está em tudo. Para nós, estar presente nesse ecossistema traz muito valor e a transformação digital consegue nos ajudar não só a melhorar nosso desempenho financeiro. A experiência no SXSW foi muito relevante. Entramos para não sair mais", diz Werneck.

Para quem decide. Por quem decide.

Saiba antes. Receba o Insight no seu email

Li e concordo com os Termos de Uso e Política de Privacidade

Acompanhe:

Karina Souza

Karina Souza

Repórter Exame IN

Formada pela Universidade Anhembi Morumbi e pós-graduada pela Saint Paul, é repórter do Exame IN desde abril de 2022 e está na Exame desde 2020. Antes disso, passou por grandes agências de comunicação.