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Com Pioneer, Exxon aposta que o futuro está no shale

Megatransação de US$ 60 bilhões reforça aposta da americana no futuro dos combustíveis fósseis

Exxon: petroleira vai mais que dobrar sua produção na chamada bacia de Permian (Luke Sharrett/Bloomberg)
Exxon: petroleira vai mais que dobrar sua produção na chamada bacia de Permian (Luke Sharrett/Bloomberg)

11 de outubro de 2023 às 16:05

No seu maior negócio desde a compra da Mobil nos anos 1990, a Exxon anunciou hoje a compra da Pioneer, uma das principais produtoras de petróleo e gás de xisto no país, por US$ 60 bilhões – dobrando sua aposta em combustíveis fósseis, a despeito das preocupações climáticas e das pressões para que as petroleiras acelerem a transição energética. 

Com  a compra, a Exxon vai mais que dobrar sua produção na chamada bacia de Permian – o hotspot entre o Texas e o Novo México que tornou os Estados Unidos o maior produtor de petróleo do mundo na última década – para 1,3 bilhão de barris por dia. É mais de um quinto da produção da região e quase um décimo da produção total de petróleo dos EUA.  

Trata-se de uma mudança radical na postura da companhia, que nos últimos anos vinha investindo menos, com foco na distribuição de dividendos e recompra de ações.   

“As capacidades combinadas das nossas duas empresas proporcionarão a criação de valor a longo prazo muito superior ao que qualquer uma das empresas é capaz de fazer isoladamente”, afirmou Darren Woods, CEO da Exxon Mobil, em teleconferência com analistas.  

O acordo avaliou a Pioneer a US$ 253 por ação, um prêmio de 7% sobre o fechamento da terça-feira, numa transação que será feita mediante troca de ações. Desde que os rumores sobre a compra começaram, na quinta-feira passada, o prêmio é de 18%.  

Após décadas investindo fora do país, o negócio mostra que o futuro da Exxon está mais próximo da sua sede, em Houston – e diretamente no shale, uma área que foi negligenciada pelo Big Oil nos primeiros anos da revolução do fracking 

Mais do que a produção atual, o que a Exxon quer garantir é o acesso a poços bem posicionados para exploração na região do Permian. Ao contrário da extração convencional de petróleo, feita em mais profundidade, no fracking os poços se esgotam mais rapidamente e é preciso abrir novas fronteiras de exploração.  

“A Pioneer tem uma das melhores posições de estoque do mercado”, afirmou o analista Neal Dingmann, do Trust Securities, ao WSJ.  

A Exxon tem 850 mil acres para explorar na região da bacia do Permian, que se somam aos 570 mil acres da Pioneer. O estoque combinado é estimado em 16 bilhões de barris de petróleo – que poderão ser explorados com mais sinergias. A junção das áreas complementares vai permitir ampliar as perfurações horizontais em mais de seis quilômetros, sinalizaram hoje as empresas  

(No fracking, petróleo e gás são extraídos a partir do fraturamento das rochas, em perfurações que não são tão profundas quanto na exploração tradicional, mas podem ter vários quilômetros de longitude.) 

A compra é também uma aposta de que, apesar do foco do governo Biden na agenda verde, o governo dos Estados Unidos não deve ser tão restritivo em relação a combustíveis fósseis.  

“Enquanto o mundo precisar de óleo e gás, vamos garantir que tenhamos a forma mais eficiente e responsável de produzi-lo, com a menor pegada de carbono”, disse Woods.  

A companhia já afirmou publicamente que vai investir US$ 17 bilhões até 2027 em captura de carbono – uma tecnologia ainda relativamente incipiente – para reduzir sua pegada ambiental. Este ano, comprou a Denbury, uma empresa do Texas com gasodutos que podem transportar dióxido de carbono, por US$ 4,9 bilhões.  

A mega aquisição da Pioneer vem num momento em que as grandes petroleiras estão bem capitalizadas, após um ano de lucros recordes com a disparada do preço do petróleo no pós-pandemia, em especial após a invasão da Ucrânia pela Rússia.  

E coloca ainda mais pressão na rival Chevron, cujas ações têm ficado para trás em relação à concorrente no mercado americano.  

A compra da Pioneer é a mais recente de uma série de fusões e aquisições na indústria de petróleo nos últimos anos. Há quatro anos, a Occidental comprou a Anadarko, por cerca de US$ 40 bilhões, num negócio que fez da Occidental a maior competidora de Exxon e Chevron na bacia do Permian.  

A própria Pioneer gastou mais de US$ 10 bilhões comprando outros dois produtores do Permian, Parsley Energy e DoublePoint Energy, em 2021.  

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Acompanhe:

Karina Souza

Karina Souza

Repórter Exame IN

Formada pela Universidade Anhembi Morumbi e pós-graduada pela Saint Paul, é repórter do Exame IN desde abril de 2022 e está na Exame desde 2020. Antes disso, passou por grandes agências de comunicação.

Natalia Viri

Natalia Viri

Editora do EXAME IN

Jornalista com mais de 15 anos de experiência na cobertura de negócios e finanças. Passou pelas redações de Valor, Veja e Brazil Journal e foi cofundadora do Reset, um portal dedicado a ESG e à nova economia.