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Logística

CLI, de terminais portuários, quadruplica de tamanho após transação com a Rumo

Alavancagem cai pela metade e traz espaço para companhia mirar novas aquisições, consolidando liderança como operadora independente

Grãos: CLI ficará dedicada ao agronegócio e, com Santos, além de grãos também movimenta açúcar (Lucas Ninno/Getty Images)
Grãos: CLI ficará dedicada ao agronegócio e, com Santos, além de grãos também movimenta açúcar (Lucas Ninno/Getty Images)
GV

Graziella Valenti

25 de novembro de 2022 às 18:50

A CLI, que opera 25% do Terminal de Grãos do Maranhão (Tegram), conclui a compra de dois terminais da Rumo (RAIL3), do Grupo Cosan (CSAN3), no Porto de Santos, há cerca de dez dias e se transformou na maior empresa independente de terminais portuários do país. E esse passo foi só o começo. Com o negócio, a geração de caixa da CLI vai ser multiplicada por quatro. O presidente da companhia, Hélcio Tokeshi, contou, em entrevista exclusiva ao EXAME IN, que o Ebitda, que neste ano deve ser de pouco mais de R$ 100 milhões, agora poderá chegar a R$ 400 milhões.

A transação, que envolveu o pagamento de R$ 1,4 bilhão à Rumo, foi anunciada ao mercado em julho e concluída no dia 14 deste mês. A CLI assumiu 80% dos terminais 16 e 19 — a fatia minoritária continuou com a empresa do grupo de Rubens Ometto.

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Porém, tão importante quanto o acréscimo em capacidade operacional e financeira, é o que a transação faz com a alavancagem da CLI. A companhia foi adquirida pela gestora de private equity IG4 Capital, fundada por Paulo Mattos, em dezembro de 2020, dentro de um processo de reestruturação de dívida — uma especialidade da casa. A alavancagem, medida pela relação entre a dívida líquida e o Ebitda, que estava em quase 7 vezes ao fim de setembro deve alcançar menos de 3 vezes logo de cara, e continuar em trajetória de queda, após a combinação com os terminais de Santos. Os vencimentos líquidos combinados somam pouco mais de R$ 900 milhões.

O pacote completo dessa entrada em Santos inclui um aporte de R$ 500 milhões na CLI pela Macquaire Asset Management — divisão de investimento do banco australiano Macquaire e maior casa global dedicada à infraestrutura. A gestora, dona de um patrimônio da ordem de US$ 800 bilhões, passará a ser sócia, com 50% da CLI.

“O negócio tem uma dimensão financeira muito importante. A CLI só operava Itaqui e ainda tinha um nível de alavancagem alta, porque tivemos de fazer uma reestruturação de dívida. Na medida em que o terminal da Rumo, em Santos, praticamente não tinha dívida, o conjunto ficou muito saudável. Além disso, agora temos a Macquaire como sócia, que trouxe recursos. Abrimos espaço agora para nos alavancar mais”, afirma Tokeshi. Na prática, significa novas aquisições. A ideia, contudo, é ser seletivo nas escolhas. O Sul do país passa a ser uma região quase óbvia para se buscar oportunidades. "Poderemos olhar outros corredores e outros terminais, e também complementar o serviço da ponta com alguns transbordos no interior."

O acordo inclui uma previsão de investimentos em Santos de R$ 600 milhões em um período entre dois e cinco anos. Os recursos serão aplicados na modernização da estrutura, uma vez que os terminais são muito antigos. “Já passou muito café por lá”, relembra Tokeshi. Com as modernizações de estrutura e mais a cultura de eficiência a ser implantada pela CLI, a expectativa é que a capacidade da empresa alcance 20 milhões de toneladas.

No primeiro ano que operou em Itaqui (MA), no Tegram, a nova CLI movimentou 2,7 milhões de toneladas. Esse total deve chegar a 4 milhões neste ano. Considerando que o T16 e o T19 devem movimentar cerca de 12 milhões de toneladas neste ano, o total chega a 16 milhões. Contudo, a expectativa é que esse total avance 25% com as melhorias e benfeitorias de estrutura, mais uma cultura de eficiência a ser implementada.

A CLI, apesar de ter 25% da capacidade de operação do Tegram, responde por um porcentual entre 30% e 35% da movimentação. Tokeshi destacou que a cultura de uma operadora independente, que não está ligada a um produtor ou a uma trading, como é a praxe no país, é de cuidar de cada detalhe, para ganhar agilidade e produtividade. “Enquanto nas operações integradas a logística é uma central de custos, aqui, na CLI, é um negócio que precisa ser lucrativo e eficiente.” A empresa, de acordo com o executivo, combina a posição de ser uma operadora bandeira branca no principal corredor logístico do país, que é Santos, e também do maior terminal (em termos de volume) no corredor que mais cresce, que é o Mapito (Maranhão-Piauí- Tocantins). “Essa união dá um valor e uma capacidade de conversar com cliente muito diferenciada, em especial para uma operadora independente.”

A expectativa de Tokeshi é levar para Santos a expertise de eficiência que foi desenvolvida no Maranhão, em Itaqui. O executivo destaca que, para a companhia, a aquisição também representa uma importante diversificação de risco. Em Santos, além de grãos, também há a operação de açúcar. “O Brasil é muito grande e o agronegócio é suscetível às questões climáticas. Às vezes, chove mais em um canto e menos no outro. Do ponto de vista de risco para o negócio, a empresa fica mais robusta”, diz o executivo.

Outra iniciativa da companhia, ainda em fase de estudo, é operar o contra-fluxo dos terminais. Com foco no agronegócio, a empresa é porta de saída para grãos e açúcar que são exportados. Nesse momento, a empresa considera a possibilidade de receber fertilizantes, já que o Brasil é importador do insumo e isso traria uma capacidade de os terminais serem usados para entrada e saída de produtos.

A CLI foi a porta de entrada da IG4 em logística portuária. E Santos é só o começo da jornada de expansão. A gestora de Paulo Mattos tem como tradição transformar as empresas em plataformas de consolidação, recebendo investimentos privados de sócios de longo prazo até que a companhia possa ser levada até uma oferta pública inicial (IPO), na bolsa. A CLI já está nessa rota.

 

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