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Arm: IPO de US$ 52 bi é menor que Softbank esperava, mas pode ser o maior do ano

Empresa será negociada a múltiplos menores do que os da Nvidia, refletindo expectativa de investidores com IA e China

Arm: na rota de volta para a bolsa, um choque de realidade  (Getty Images/Reprodução)
Arm: na rota de volta para a bolsa, um choque de realidade (Getty Images/Reprodução)
Karina Souza

Karina Souza

6 de setembro de 2023 às 09:14

O Softbank teve que abrir mão de parte do valuation pretendido na abertura de capital da fabricante de chips Arm, um dos IPOs mais aguardados do ano na Nasdaq.

A gestora de Masayoshi Son queria listar a companhia num valor de mercado de US$ 60 bilhões a US$ 70 bilhões, segundo informações que circulavam na mídia internacional, mas parece ter sofrido um choque de realidade na sondagem com investidores.

No prospecto que foi publicado ontem, a empresa mira agora algo entre US$ 48 bilhões e US$ 52 bilhões — cerca de 20% menos que a expectativa inicial. A oferta ainda não tem data oficial confirmada, mas especula-se que deve ser concluída na próxima semana.

A emissão é totalmente secundária, conduzida pelo Softbank, que hoje detém 100% da companhia. Ao final da oferta, o fundo vai ficar com cerca de 90% das ações, com 10% destinados ao mercado e, no limite, movimentando US$ 5,2 bilhões.

A oferta vai quebrar o jejum de IPOs de tecnologia nos Estados Unidos e deve vai servir como um importante termômetro do apetite dos investidores por esse tipo de empresa em uma era de juros altos.

O valuation da Arm deixa claro, desde já, que a empresa não é uma Nvidia. Mas ainda vem a múltiplos expressivos, diante das concorrentes listadas. Tomando como base a receita de US$ 2,6 bilhões do último ano e o lucro líquido de US$ 524 milhões, a Arm vai a mercado procurando um múltiplo de preço/lucro de 92 a 100 vezes. É menos do que a Nvidia, negociada a 117 vezes. Mas é mais do que a Qualcomm, por exemplo, negociada a um P/L de 15 vezes.

Pessoas próximas às negociações, ouvidas pelo Wall Street Journal, apontaram que o consórcio de mais de 20 bancos escalado para a oferta optou por deixar uma gordura para que as expectativas de preço sejam revistadas para cima durante o processo de precificação. A expectativa é de alta demanda durante o roadshow que começa agora oficialmente.

Um dos sinais positivos é a adesão de sócios de peso da Arm à oferta. De acordo com o prospecto, Apple, Nvidia, Google, Intel, Samsung, TSMC, Intel, Cadence Design, MediaTek e Advanced Micro Devices indicaram um interesse de comprar até US$ 735 milhões no IPO.

O valor, apesar de tímido em relação ao tamanho da oferta, foi interpretado pela mídia norte-americana como um voto de confiança na companhia.

Outro ponto que joga a favor da Arm é o fato de ser uma empresa rentável em um setor (tecnologia) cheio de boas promessas mas que, frequentemente, conta com empresas que ainda dão prejuízo. A última linha do balanço positiva deve trazer um alento para investidores.

Nem tudo são flores, entretanto. Na mira do mercado estão o potencial de crescimento da companhia daqui para frente e as relações com a China – uma subsidiária sobre a qual a empresa a ser listada tem pouco controle, e que gera uma fatia relevante da receita, de dois dígitos altos.

O ritmo de crescimento daqui para frente também é outro ponto de atenção. Além de ameaças de concorrência surgindo — como a RiscV — a Arm não tem um horizonte tão claro de posicionamento na era da inteligência artificial como a Nvidia.

A companhia quer justificar boa parte dos múltiplos com sua investida em direção à IA, mas a arquitetura de chips da companhia não é dedicada aos GPUs, que são processadores mais adaptados ao avanço da inteligência artificial.

Esse conjunto faz crer que o auge já ficou para trás, com um crescimento da receita ainda sólido, mas longe de exponencial, na casa de um dígito ou “dois dígitos baixos”, como escreveu Albie Amankona, analista da Third Bridge, em um relatório divulgado nesta semana.

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Karina Souza

Karina Souza

Repórter Exame IN

Formada pela Universidade Anhembi Morumbi e pós-graduada pela Saint Paul, é repórter do Exame IN desde abril de 2022 e está na Exame desde 2020. Antes disso, passou por grandes agências de comunicação.