6 de dezembro de 2024 às 09:37
Após dois anos no Palácio dos Campos Elíseos, o Museu das Favelas, dedicado à valorização da cultura periférica, inaugura nesta sexta-feira, 6, sua nova casa no Largo do Pateo do Collegio, centro histórico de São Paulo.
Além da mudança de local, uma nova exposição deve atrair os fãs de hip hop e rap. A data também marca a abertura da mostra Racionais MC’s – O Quinto Elemento, que revela a intimidade, trajetória pessoal e processo criativo do grupo de maior impacto no rap nacional.
A EXAME visitou a exibição e conversou com os integrantes Mano Brown, KL Jay, Edi Rock e Ice Blue sobre como as obras celebram e homenageiam os mais de 30 anos de história e música.
Logo no início da mostra, placas e letreiros apresentam detalhes das rimas mais famosas do quarteto. Os cartazes também remetem à estação São Bento, marco zero do rap na cidade. Lá, em 1988, surgiu o Racionais MC's.
De acordo com Eliane Dias, curadora e CEO da Boogie Naipe, produtora que gere a carreira dos Racionais, o trabalho de seleção das memórias vem sendo feito há uma década.
A mostra ainda apresenta itens do acervo pessoal dos rappers que retratam sua infância e adolescência, como o kimono e faixas de jiu-jitsu de Ice Blue, discos de vinil de KL Jay, a bicicleta azul de Edi Rock e os escritos à mão que originaram Diário de um detento, de Mano Brown.
O olhar íntimo de Eliane – que, além de curadora e produtora, também é esposa de Mano Brown desde 1994 – colaborou para representar a arte dos Racionais MC’s além das letras de resistência, mas como eram antes da fama, do dinheiro e do sucesso: quatro jovens pretos e de favela.
Para KL Jay, a mostra consegue transportar o público de volta a mais de 30 anos. “É a história de quatro pretos brasileiros que já estavam juntos, ancestralmente falando, e se encontraram de novo”, explica.
Para o grupo, o segredo de se manter relevante é discutir a atualidade. “O Racionais conta a história com a arte, com a rima e a música. A gente procura falar do momento que a gente vive — só que parece que a gente passa pelas mesmas coisas em looping”, conta Edi Rock.
Quando perguntado sobre o que esperar dos próximos 35 anos, Mano Brown afirma que ainda vê muito racismo e disputas. “O verdadeiro racismo a gente só vai conhecer quando disputar os mesmos amores, os mesmos carros e perfumes", diz.
"Eu vejo a raça muito atrasada em todos os setores”, explica. Para Brown, conforme a ocupação de espaços por pessoas negras aumentar, o racismo vai crescer proporcionalmente.
A entrada para o Museu das Favelas é gratuita. O funcionamento é de terça-feira a domingo, das 10h às 17h, com permanência até 18h. O novo endereço é Largo Páteo do Colégio, 148 - São Paulo.