EXAME Plural
18 de março de 2025 às 11:27
Não é porque um papel sempre foi desempenhado por um determinado gênero por simples convenção, que o outro não tenha a mesma habilidade de fazê-lo. Um exemplo clássico é o da Orquestra Sinfônica de Chicago.
Para aumentar a diversidade dos seus músicos, decidiu-se fazer o recrutamento às cegas, para que nada, além da capacidade técnica, influenciasse a seleção.
Nos primeiros testes, notou-se que nenhuma mulher fora aprovada. No entanto, os organizadores perceberam que as mulheres entravam de salto alto e, além do ruído, podia-se espiar os calçados por baixo da cortina.
Os organizadores da seleção então resolveram que os músicos entrariam descalços e o resultado foi que a participação feminina subiu de 5 para 25% da orquestra e atualmente supera 50%.
O viés da maternidade é um dos mais punitivos para as carreiras femininas. Existe a ideia de que quem decide ser mãe será automaticamente menos produtiva e que o homem, ao se tornar pai, ficará mais comprometido, independentemente de como os filhos impactam o trabalho.
Segundo um relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT) publicado em 2018, mães no Brasil têm salários 8% menores que mulheres sem filhos, enquanto homens com filhos têm rendimentos 7% maiores do que homens sem filhos.
O Brasil oferece apenas 5 dias corridos de licença-paternidade, um cenário alarmante que posiciona o país em 37º lugar entre 43 países analisados pela OCDE, muito atrás das melhores práticas internacionais. Este contexto prejudica diretamente a equidade de gênero.
Atualmente, está em curso o prazo de 18 meses dado pelo Supremo Tribunal Federal para que o Poder Legislativo regulamente a licença-paternidade, tema praticamente ignorado pelo Congresso Nacional desde 1988.
Esse baixo interesse fica ainda mais evidente ao considerar que homens representam mais de 80% dos deputados federais na composição atual da Câmara, mas apenas 21% do pequeno grupo parlamentar disposto a aprofundar o debate.
Uma licença-paternidade com duração semelhante à oferecida às mães ajudaria ainda a nivelar o ambiente competitivo entre homens e mulheres, desde a contratação até a permanência no mercado formal de trabalho.