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Futuro da Audi tem carros movidos a gás, elétricos e autônomos

Em entrevista a EXAME, presidente da Audi do Brasil, fala sobre mobilidade, veículos premium movidos a GNV e infraestrutura insuficiente para elétricos

Audi E-Tron: Modelo chega ao Brasil em 2019 (Lucas Agrela/Exame)

Audi E-Tron: Modelo chega ao Brasil em 2019 (Lucas Agrela/Exame)

Lucas Agrela

Lucas Agrela

Publicado em 11 de novembro de 2018 às 07h00.

Última atualização em 11 de novembro de 2018 às 08h51.

São Paulo – Johannes Roscheck, presidente da Audi do Brasil, vê o futuro da empresa em três tendências principais: novos serviços de mobilidade, carros elétricos e os autônomos, que contam com auxílio da tecnologia para tirar grande parte–ou toda–a responsabilidade de dirigir das mãos dos seres humanos. Nesse contexto, a próxima etapa da Audi deve combinar a venda de veículos com a de serviços. Em entrevista a EXAME, Roscheck conta como o Brasil se insere nessas tendências. Leia a seguir.

EXAME: Nos Estados Unidos, o setor de carros elétricos está mais desenvolvido. No Brasil, nem os carros híbridos nem os 100% elétricos vingaram até o momento. Quais são os principais desafios para popularizar esses veículos?

Johannes Roscheck: Esse tema está vinculado à economia. O Brasil é número 1 em biocombustível. Pelo cuidado com o meio ambiente, seria o suficiente ter uma frota de carros flex, com todo mundo usando bioetanol, sem caminhões velhos nas ruas. Os carros novos já resolvem o problema de emissão demasiada de CO2. O etanol, como biocombustível de primeira geração, faz com que praticamente 80% de tudo que é queimado seja neutro em CO2. O Brasil, por isso, não teria tanta necessidade de se mover em direção ao carro elétrico. Nos Estados Unidos, a história é diferente. O movimento de cuidar do meio ambiente é forte e o país não tem tanto combustível próprio. A necessidade de reduzir poluentes é muito maior. Isso cria um ambiente favorável a uma tecnologia nova.

Por outro lado, precisamos falar de geração de energia elétrica no Brasil. Grande parte é gerada em hidrelétricas, mais de 80%. EUA e Europa têm menos do que isso. Um carro movido a eletricidade nos Estados Unidos pode ser mais negativo para o meio ambiente do que o a gasolina. É uma discussão de dilema de Tostines.

Por fim, há a questão do preço. O Brasil cria, através da redução dos impostos de importação e do IPI, um incentivo para o cliente comprar carros que hoje em dia ainda são muito mais caros do que um movido a gasolina. O carro elétrico faz parte do futuro da Audi e da realidade de centros urbanos, como São Paulo. Outras regiões vão demorar mais para ter a infraestrutura necessária para ele.

Além dos veículos movidos a energia elétrica, quais combustíveis a Audi considera usar em seus automóveis?

Estamos buscando a melhor opção para o mercado brasileiro. Globalmente, o mercado se voltou para o carro elétrico. O que é uma decisão bastante válida. Por isso, no ano que vem, traremos o E-Tron para o país. Pessoalmente, acredito na necessidade de haver alternativas e trouxemos um veículo movido a gás natural (GNV) para experimentar isso. É o A5 G-Tron. Ele é um carro normal que tem um tanque de combustível e vários tanques menores de gás. A autonomia dele, que é um A5, pode chegar 900 kms. Essa é uma tecnologia híbrida que testamos no mercado brasileiro, com o foco de ter alguma coisa com combustíveis sintéticos.

Vemos carros a gás nas mãos das pessoas que trabalham com o carro. Elas fazem instalações por conta própria, o que pode ser perigoso. É por isso que a Audi considera trazer uma opção movida a gás?

Sim. O carro convertido a gás sempre tem alguma desvantagem, como um cilindro gigantesco de gás. Nosso carro é um Audi normal, não há nada que faça transparecer que ele é movido a GNV. Você roda com o carro com dois combustíveis diferentes e nem percebe quando há alteração entre eles, porque isso é automático. Ele é um carro Audi como todos os outros, com altíssima qualidade, que vem com tanques de fibra de carbono abaixo da carroceria, de modo que não atrapalhem de forma nenhuma.

As montadoras já têm uma visão clara de mudança no mercado da mobilidade: a venda de carros vai diminuir e a receita será composta, também, por serviços. A Audi compartilha dessa visão ou, por estar em um segmento acima da média da concorrência, vocês acreditam no modelo de venda de carros para o futuro?

As coisas vão acontecer em paralelo. Sempre teremos pessoas que querem comprar um carro, que querem ter o carro na própria garagem para, simplesmente, se sentir dono. Outra coisa que acontece mundialmente é que as pessoas jovens não necessariamente sentem essa necessidade. Para elas, basta ter acesso ao carro, poder usá-lo. A gente vai ter cada vez mais serviços, como um pool  de veículos Audi para que as pessoas paguem um aluguel, ou leasing, e tenham acesso a uma gama de automóveis para escolher. Quando estiver sozinho, você pode preferir andar com um Audi TT. Com amigos e família, pode querer um carro maior. Isso traz uma comodidade para motorista e passageiros.

Quais outros serviços devem compor a receita da Audi em um futuro previsível?

Sempre pensamos em alternativas e estudamos o melhor caminho para o Brasil. Consideramos o car sharing, pensamos em dar mais um passo nesse sentido. Estamos abertos a tendências nesse sentido, mas ainda não podemos afirmar o que exatamente faremos dentro de um ou dois anos porque o mercado é muito dinâmico.

Qual é a visão da Audi sobre carros autônomos?

O sistema de um carro autônomo é super complexo. O A8 é o nosso primeiro carro no mundo que tem todas as tecnologias necessárias para a condução semi-autônoma nível 3, das 5 possíveis. Isso significa que o piloto pode passar parte da responsabilidade ao carro. Acreditamos fortemente que os autônomos são parte do futuro, precisamos de infraestrutura, legislação e também de mais experiência, mas estamos indo nessa direção. Temos uma equipe muito dedicada a esse tema. Junto com o autônomo, chegam as novas formas de mobilidade. Ele oferece novas possibilidades. Trabalhamos hoje com um sistema modular chamado Pop Next, que combina um veículo colocado em cima de um chassis e pode ser desvinculado e transformado em drone para voar de um lugar para o outro. A mobilidade para os nossos clientes precisa ser uma experiência única no mundo Audi, com comodidade e tecnologia. Podem existir vários módulos de transporte dentro de um conteúdo só. Mas isso é algo que ainda vai levar de cinco a dez anos para virar realidade.

A segurança no trânsito será o principal benefício dos autônomos?

Eles vão diminuir bastante os acidentes causados por seres humanos, dependendo do país, a redução pode ser de algo como entre 80 ou 90%. Nossos veículos têm radares que olham para trás, para frente e para os lados. O A8 traz também um sistema a laser que enxerga até a 250 metros, mais do que consegue ver um humano. Muitas pessoas não se atentam devidamente ao retrovisor e essa tecnologia ajuda nisso. Fora isso, há o problema do uso do celular. Se o motorista não vir um carro ou um pedestre, o sistema automaticamente aumenta a pressão dos freios, fecha os vidros e aperta os cintos.

Como é a relação da Audi com as startups diante desse cenário de carros autônomos, elétricos e serviços de mobilidade?

O tema da infraestrutura tem muitas perguntas em aberto e startups brasileiras têm propostas interessantes para desenvolver o mercado. Eu diria que todo o projeto de carro elétrico no mundo ainda está em uma fase só um pouco maior do que o de uma startup e, aqui no Brasil, mais ainda. Queremos ter infraestrutura para carregar nossos veículos, isso é algo que ainda não existe. Além disso, fizemos uma parceria com a Vuum, que é uma startup de helicópteros da Airbus, para uma oferecer uma solução de mobilidade aos nossos clientes. O setor já caminha em direção a soluções integradas de transporte.

Esta é a sua segunda passagem pela Audi no Brasil, a primeira foi nos anos 1990, agora à frente da empresa no país. O que mudou no mercado brasileiro entre as suas duas atuações?

Uma coisa que mudou dramaticamente é o fato de que as informações são livres e disponíveis a cada segundo, no mundo inteiro. O conceito, no passado, era entrar com produtos gerações mais avançados do que os que eram vendidos aqui. Agora, estamos em um mercado muito mais competitivo. Os carros da Europa e de outros países chegam ao país apenas com um pouquinho de atraso. Isso mudou bastante as expectativas dos brasileiros, a vontade de ter produtos novos e o interesse pela tecnologia.

Isso fez a Audi mudar sua estratégia no país?

Toda a indústria mudou. Nós, como empresa super dinâmica, sempre tentamos trazer os produtos mais novos ao mercado brasileiro. Para nós, não mudou nada dentro de casa. O que mudou foi o mercado inteiro e, também, o cliente.

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