Android impulsionou inclusão digital no Brasil nos últimos anos
Estudo inédito da Bain & Company estima que o sistema operacional proporcionou 136 bilhões de reais de receita em 2019 e 630.000 empregos no país
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(Flashpop/Getty Images)
Publicado em 7 de outubro de 2020 às, 17h38.
Última atualização em 7 de outubro de 2020 às, 20h12.
O Brasil é um dos cinco maiores mercados do Android no mundo. Por aqui, cerca de nove em cada dez usuários de smartphone utilizam dispositivos com o sistema operacional do Google. Para entender a importância da plataforma na economia nacional, assim como seu papel na inclusão digital dos brasileiros e na geração de empregos, o Google fez uma parceria com a Bain & Company para que a consultoria global realizasse uma pesquisa inédita no mundo.
O estudo foi divulgado em uma live realizada pela EXAME. O evento contou com a participação de Lívia Moura, sócia da Bain & Company, Maia Mau, head de marketing de Android para a América Latina, e Luis Felipe Monteiro, secretário de Governo Digital do Ministério da Economia. Os principais resultados da pesquisa estão disponíveis aqui.
Os impactos econômicos do ecossistema do Android, segundo o levantamento, apontou que existem cerca de 630.000 empregos (35% dos trabalhadores de TI e telecomunicações) na cadeia de valor direta da plataforma, que também viabilizou a geração de 136 bilhões de reais em receitas em 2019, o que equivale a 2% do produto interno bruto do Brasil no período.
O montante considera a receita das empresas impactadas pelo ecossistema do Android, ou seja, negócios diretamente associados ao hardware (como manufatura dos dispositivos, varejo, acessórios, reparo), ao software (vendas, desenvolvimento e manutenção de aplicativos e vendas e publicidade in-app), além de conectividade (serviços de conectividade, infraestrutura e manutenção de redes móveis).
A receita adicional de outros negócios indiretamente impactados pelo sistema operacional é ainda mais expressiva. Inclui uma gama de negócios viabilizados pelo Android, voltados para distribuição, internet das coisas, serviços de streaming, e-commerce, bancos digitais, ensino à distância, taxi hailing. Também é significativo o número de empregos gerados por empresas viabilizadas pelo ecossistema do smartphone, como aplicativos de transporte privativo urbano, serviços de entrega via aplicativo e bancos digitais.
“Na verdade, todos esses negócios já estão bem mesclados e presentes em praticamente toda a economia brasileira. Na pesquisa, preferimos ser mais conservadores e mensurar apenas os impactos diretos”, diz Maia Mau, head de marketing de Android para a América Latina.
Smartphones: para 97% dos usuários de internet no Brasil é a principal forma de acesso à web (Flashpop/Getty Images)
Acesso democratizado
Nos últimos dez anos, o acesso à internet foi impulsionado pelo smartphone. Com um maior número de usuários, os preços do equipamento diminuíram constantemente, impulsionados pelos ganhos em escala de produção e pela redução de custos de seus componentes. Da mesma forma, redes de telecomunicações ampliaram e melhoraram a qualidade de seu sinal, enquanto novas aplicações surgiram, transformando o dia a dia das pessoas.
“O Android contribui para esse ciclo por meio de um sistema operacional aberto gratuito, dinâmico e acessível que possibilita que diversos fabricantes desenvolvam uma ampla gama de aparelhos com capacidade, funcionalidade e faixas de preço diferentes, começando em torno de 300 reais”, aponta Lívia Moura, sócia da Bain & Company. Segundo a pesquisa, 80% das pessoas das classes D e E pagam menos de 1.000 reais pelo smartphone.
Nos últimos cinco anos, 24 milhões de brasileiros foram introduzidos à internet por meio de um dispositivo Android. Hoje, o smartphone é um meio de acesso muito importante à internet: 97% dos usuários de internet no Brasil acessam a web por meio de um smartphone e 51% exclusivamente dessa forma. Nove em cada dez usuários utilizam o aparelho todos os dias e 93% acreditam que o acesso à internet teve um impacto positivo na vida delas.
“Temos uma oportunidade gigantesca no Brasil e a indústria está aproveitando o potencial da quarta maior população de usuários conectados do mundo. De cada quatro pessoas, três acessam a internet frequentemente, independentemente da região geográfica”, afirma Monteiro.
Para o secretário, chama a atenção o dado de que o brasileiro passa, em média, 9 horas por dia conectado à internet, um volume 30% maior do que o registrado pelos americanos. “Faz parte da nossa cultura se conectar, seja física, seja digitalmente, e o brasileiro definitivamente adotou a internet”, diz.
De acordo com o estudo, a comunicação – incluindo a troca de mensagens – continua uma das principais finalidades do aparelho, tanto em importância quanto em frequência de uso. Na sequência vem o acesso a redes sociais. Outros serviços, como educação, finanças pessoais, leitura de notícias, fotografia, lazer, navegação com o uso de mapas e serviços públicos, também têm espaço entre os usuários.
Apesar dos avanços da inclusão digital nos últimos anos, 30% dos brasileiros ainda não têm acesso à internet. Se considerarmos apenas as classes D e E, 50% ainda não são digitalizados. “Para mudar essa realidade, trabalhamos em conjunto com fabricantes para achar soluções mais viáveis ou novas soluções, como o Android Go, uma versão mais leve e otimizada para aparelhos de entrada”, afirma a executiva do Google.
Pandemia
A quarentena imposta pela pandemia causada pelo novo coronavírus ajudou a acelerar um processo que já andava a passos largos. A pesquisa apontou que 70% dos consumidores aumentaram o tempo gasto no smartphone e mais de 60% intensificaram o uso de plataformas de comunicação e redes sociais, como YouTube, Facebook, Instagram, WhatsApp e TikTok.
Pela primeira vez, 46% dos consumidores assistiram a uma live em seu celular. Essa nova atividade foi experimentada por pessoas de diferentes idades e não apenas por jovens. Entre os consumidores com mais de 55 anos, 33% viram sua primeira live durante o período.
A importância relativa de compras online cresceu significativamente. Durante o período de isolamento, 34% dos consumidores brasileiros fizeram seu primeiro pedido de delivery de comida via aplicativo. E o gasto em compras via WhatsApp aumentou para 8% dos consumidores.
Pagamentos móveis também cresceram: 44% dos consumidores reportaram sua primeira experiência bancária online e, desse total, 72% fizeram-na pelo smartphone. A adoção foi ainda maior nas classes sociais mais baixas: 53% dos consumidores de baixa renda usaram o internet banking pela primeira vez durante a pandemia.
Desde o surgimento do coronavírus no Brasil, 28% dos consumidores participaram de seu primeiro curso online e 17% fizeram sua primeira consulta médica virtual usando o smartphone. Empresas migraram para setups virtuais e, como consequência, 19% dos consumidores usaram softwares de trabalho virtual pela primeira vez via smartphone.
Em meio à pandemia, o smartphone foi a porta de acesso da população a importantes benefícios financeiros concedidos pelo governo. Segundo a pesquisa, quase 60% dos usuários utilizam smartphones para ter acesso a serviços públicos.
O auxílio emergencial do governo federal, por exemplo, foi disponibilizado por meio de um processo 100% digital. Do total de 60 milhões de vulneráveis, 30 milhões não tinham conta bancária e, ainda assim, conseguiram acessar o suporte do Estado. Já a carteira de trabalho digital foi responsável por mais de 90% dos pedidos de seguro-desemprego.
Atualmente, existem mais de 130 aplicativos de serviços públicos e mais de 900 serviços já são entregues em canais digitais, cerca de 60% do total. Além disso, outros serviços já são parcialmente digitais. “A proposta é chegarmos a 100% até 2022”, aposta o secretário.
O Portal gov.br, que inclui os aplicativos de serviços públicos, tem 80 milhões de usuários e 40 milhões de dispositivos instalados. Esse volume representa uma economia de mais de 50 milhões de horas gastas com burocracia no Brasil, segundo Monteiro.
E o processo de aceleração digital não tem volta. A pesquisa mostrou que a maioria dos consumidores acredita que manterá suas novas atividades após o fim do período de isolamento, em especial o uso de online banking e serviços de delivery de comida.
Além de dar acesso a serviços, o smartphone virou meio de suplementar a renda de 32% das pessoas impactadas financeiramente pela pandemia, por meio de vendas de produtos em redes sociais ou sites especializados, aulas online e aplicativos de entrega.
Profissão: desenvolvedor
O Android também é uma porta de entrada muito importante para o mundo da programação. Cerca de 78% dos desenvolvedores entrevistados para o estudo iniciaram sua jornada com o sistema operacional. E ele continua sendo relevante ao longo da carreira dos desenvolvedores. Hoje, 80% deles trabalham com Android e 60% com iOS.
Por ser um sistema operacional aberto e gratuito, o Android ajuda a criar um ecossistema altamente colaborativo entre seus integrantes. Esse é um dos principais motivos de escolha do sistema para 83% dos desenvolvedores brasileiros, de acordo com a pesquisa. E 73% deles consideram o Android a principal plataforma de trabalho – em média, os desenvolvedores brasileiros dedicaram no último ano 66% de seu tempo de programação ao Android, 26% ao iOS e 8% às demais plataformas.
“O ambiente colaborativo, juntamente com a massificação do Android, possibilitou o desenvolvimento de aplicativos que transformaram a sociedade e permitiram a criação de novas indústrias e formas de trabalho”, diz Lívia, da Bain.
Cursos de programação online, comunidades, fóruns e colegas são as principais fontes de conhecimento que permitem que os desenvolvedores se qualifiquem e avancem na carreira. Com perfil autodidata, quase 50% deles não possuem ensino superior completo. E até mesmo nas horas vagas eles aprimoram suas habilidades: 46% dos profissionais passam em média 4 horas por semana programando como hobby.
A profissão é nova, mas de intenso crescimento. Quase metade dos profissionais do mercado atua há menos de dois anos na área e 78% iniciaram sua trajetória nos últimos cinco anos. Além disso, a força de trabalho é jovem – 60% dos desenvolvedores têm menos de 30 anos de idade – e está concentrada na Região Sudeste, com 65% dos desenvolvedores, seguida do Nordeste e do Sul, com 12% e 11%, respectivamente.
Segundo os próprios desenvolvedores, o mercado é atrativo por algumas questões. A primeira é financeira: o salário bruto mensal médio é de 2.750 reais no primeiro ano de trabalho, chegando a 11.750 reais para profissionais com dez anos de profissão. Também são atrativas a grande demanda por mão de obra e a alta possibilidade de crescimento, tanto na carreira de desenvolvedor mobile quanto na carreira de desenvolvedor de softwares.
Atento ao potencial desse negócio, o governo brasileiro tem investido na modernização da legislação – tanto trabalhista quanto tributária – para atender às demandas do mundo digital. Antes, por exemplo, um desenvolvedor precisava ter alvará de funcionamento e uma instalação física em um ponto comercial para registrar uma empresa de atividade 100% digital.
“Isso não faz sentido em um mundo desmaterializado em que esse profissional pode estar em qualquer lugar, por isso essa exigência não existe mais”, finaliza o secretário de Governo Digital do Ministério da Economia.