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Parece um Bordeaux, mas é um vinho feito na China

O país oriental importou bons enólogos da Europa e já é o décimo produtor mundial da bebida. Só falta convencer os consumidores locais

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Chateau Changyu Moser XV: nas mãos de enólogos europeus (Changyu/Divulgação)

Chateau Changyu Moser XV: nas mãos de enólogos europeus (Changyu/Divulgação)

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Daniel Salles

Publicado em 13 de agosto de 2020, 05h30.

James Suckling, festejado crítico de vinhos, descreveu o Ao Yun 2016 do seguinte modo: “Um tinto muito puro com passas, amoras e folhas frescas. Cogumelos e um pouco de terra molhada. Um pouco de tabaco. Charuto. Carvão. Cresce no palato com taninos ‘mastigáveis’, porém redondos”. Indecifrável para quem não é letrado no linguajar desse meio, a descrição veio acompanhada de uma pontuação que deixa a opinião dele cristalina: 96 de 100. Tratando-se de um vinho chinês, à venda na Inglaterra desde julho por 195 libras a garrafa, equivale a um elogio de Boris Johnson aos celulares da Huawei.

Pressionado por Trump, em guerra comercial com a China, o premiê vetou a companhia de participar da rede 5G inglesa no mês passado. Isso coincidiu com a chegada à terra da rainha de mais um tinto chinês, o Purple Air Comes from the East 2016, este vendido por 150 libras. Trata-se de um cabernet sauvignon produzido na província de Ningxia, no sudoeste de Pequim, pelo Chateau Changyu Moser XV. Fundado em 2013, pertence à vinícola mais antiga do país, a Changyu, de 1892. O comando está nas mãos do enólogo austríaco Lenz Moser, o 15o na linhagem de uma conhecida família de vinicultores — daí o nome do empreendimento, que custou 70 milhões de euros.

A Ao Yun pertence à LVMH. Montada em 2008, a vinícola se espalha, a mais de 2.000 metros de altitude, pelas montanhas da província de Yunnan, quase na fronteira com o Tibete. Marcado por invernos não tão severos e clima seco, o terroir foi escolhido pelo aclamado enólogo australiano Tony Jordan, morto no ano passado, incumbido de encontrar o local ideal para produzir vinhos similares aos de Bordeaux, que os chineses idolatram. Atualmente, o mandachuva da Ao Yun é o enólogo francês Maxence Dulou, que analisa as amostras dos vinhos em Hong Kong — a altitude embaralha o paladar.

O novo rótulo, um blend de cabernet sauvignon, cabernet franc, syrah e petit verdot, é o quarto da vinícola. Está destinado aos Estados Unidos, à Europa e à própria China (os novos tintos não estão à venda no Brasil). Por sinal, os consumidores que mais interessam às duas vinícolas são os abastados chineses. De 2000 a 2011, as importações de vinho no país cresceram impressionantes 26.000%. Produtores locais interessados em aplacar tamanha sede não faltam — em matéria de volume, a China é o décimo maior produtor da bebida, de acordo com o último ranking disponível, de 2018. Só falta convencer os chineses de que o dragão também faz vinhos fora de série.

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