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J.R. Guzzo | Até tu, BNDES?

O banco tinha pose de coisa séria, com seu “corpo técnico” e regras de compliance. Mas deu dinheiro à Odebrecht, às empresas de Eike Batista e à JBS

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Luciano Coutinho, ex-presidente do BNDES: quem vai cobrir os empréstimos de 2,3 bilhões de reais a Cuba, Venezuela e Moçambique? | Joka Madruga/Futura Press /

Luciano Coutinho, ex-presidente do BNDES: quem vai cobrir os empréstimos de 2,3 bilhões de reais a Cuba, Venezuela e Moçambique? | Joka Madruga/Futura Press /

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J.R. Guzzo

Publicado em 9 de maio de 2019 às, 05h08.

Última atualização em 24 de julho de 2019 às, 16h56.

Durante os 13 anos e meio dos governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social funcionou como uma sociedade de ladrões. Ah, não diga — e daí? Alguma coisa localizada a menos de 5.000 quilômetros do Palácio do Planalto, da Esplanada dos Ministérios e de seus puxadinhos deixou de ser roubada por gente do governo durante esse período? Uma ou outra, é verdade, pois não dá para roubar tudo, de todos, em todos os lugares e ao mesmo tempo. É fato provado e contraprovado, em todo caso, que muito pouco escapou do arrastão — e, assim sendo, qual a novidade de que o BNDES tenha sido um dos “pontos” do crime em escala nacional nos governos petistas? (Assim como traficantes de droga têm “pontos”, ladrões do erário público também contam com os seus; é um fato sabido.)

A rigor, não há novidade nenhuma. Mas o BNDES, pelo menos, tinha pose de coisa séria, com seu “corpo técnico”, suas regras de compliance, suas obras de arte nas paredes da sede etc.; deveria ter disfarçado melhor a ladroagem desvairada que rolou ali durante mais de dez anos seguidos. Só que, no fim das contas, o que se vê é que o banco de desenvolvimento social sagrado para os economistas de esquerda foi tão grosseiro nas atividades gerais da corrupção quanto a maioria de seus pares.

Até tu, BNDES? Sim, até tu. No embalo Lula-Dilma, o pessoal se esqueceu de prestar atenção nas exigências mínimas de decoro na roubalheira — algo a prever, francamente, numa repartição pública de  2.000 funcionários, cheia de gente com mestrado em universidade, elogiada por um prêmio Nobel de Economia (foi só Joseph Stiglitz, é verdade, mas o homem é prêmio Nobel assim mesmo) e produtora regular de monografias incompreensíveis em qualquer língua.

Em resumo: o banco a serviço da pátria era apenas a corrupção do PT vestida de gravata, com cartaz na Unicamp e conhecedora de menus em restaurantes de Nova York. Seu alto comando não era diferente de um Antônio Palocci, um Sérgio Cabral, um Geddel Vieira de Lima e tantas outras estrelas inesquecíveis que o Brasil deve ao gênio político do ex-presidente Lula.

É certo que existe, do ponto de vista legal, uma diferença fundamental entre essa turma e o ex-presidente do BNDES Luciano Coutinho: ele até agora não foi condenado na Justiça. Está indiciado em diversos inquéritos criminais na Polícia Federal, foi proibido de exercer qualquer cargo público por seis anos e sofre um bloqueio em seus bens pessoais superior a 600 milhões de reais, mas continua livre da cadeia. Fora isso, Coutinho não parece ter nada em seu favor.

Basicamente, o problema de Coutinho é o seguinte: ele emprestou dinheiro público a gente que jamais teve a intenção de pagar um único centavo da dívida assumida, como qualquer criança com 10 anos de idade poderia prever. Só de Cuba, Venezuela e Moçambique tomou um calote superior a 2,3 bilhões de reais. Deu dinheiro brasileiro, que o BNDES tem obrigação de utilizar em desenvolvimento no Brasil, a governos estrangeiros que estão entre os mais vigaristas do planeta, como os citados acima. Gostava de emprestar, com juros mínimos e prazos máximos, a países com grau 7 de risco, o extremo do extremo. (Pior do que isso não fica; não existe grau 8.)

Deu empréstimo a quem Lula mandou que desse — segundo o ministro Paulo Guedes, financiou 300.000 caminhões para motoristas sem fretes, sem clientes e sem dinheiro para recauchutar um pneu. Deu dinheiro a Marcelo Odebrecht — sim, Marcelo Odebrecht. Precisa dizer mais alguma coisa? Sua coleção também inclui Eike Batista, a JBS e uma tentativa de emprestar 10 bilhões de reais à incomparável Sete Brasil. Tudo com “aval do Jurídico”, é claro. Seu desempenho na CPI que apura a “caixa preta” do BNDES foi uma coisa triste. Em pânico diante das perguntas, repetia, automaticamente, “não lembro”, “não sei”, “não posso dizer”.

Pois é. CPIs, no Brasil, não costumam dar em nada. Caixas pretas, ao contrário, têm o dom divino de continuar pretas para sempre. Homem de sorte, esse Coutinho.

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