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Economia

Aumentar participação feminina no mercado de trabalho pode turbinar PIB global, diz Banco Mundial

Segundo instituição, aumentar a participação feminina na força de trabalho pode elevar em até 20% a riqueza gerada no mundo

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Economia

Aumentar participação feminina no mercado de trabalho pode turbinar PIB global, diz Banco Mundial

Segundo instituição, aumentar a participação feminina na força de trabalho pode elevar em até 20% a riqueza gerada no mundo

Por Luciano Pádua

Publicado em 08/03/2024, às 14:13.

Última atualização em 08/03/2024, às 14:13.

Mais riqueza

Uma economia pode crescer de diversas formas: mais máquinas nas linhas de produção, mais produtividade de seus trabalhadores e, é claro, maior inclusão de pessoas na força de trabalho. Um estudo recente do Banco Mundial mostra que incluir mais mulheres no mercado de trabalho poderia impulsionar a riqueza do mundo em até 20 pontos percentuais do PIB global.

"As mulheres têm o poder de turbinar a economia global, e no entanto, leis e falta de aplicação delas tendem a mantê-las à margem", diz trecho do relatório Women, Business and the Law 2024 da instituição. Para o banco, em uma era de crescimento persistentemente lento, aumentar a participação das mulheres na força de trabalho global poderia melhorar significativamente as perspectivas econômicas.

LEIA MAIS: Mulheres estudam mais e ganham menos que os homens no Brasil, segundo estudo do IBGE

"Fechar a lacuna de gênero no emprego e no empreendedorismo poderia aumentar o produto interno bruto global em mais de 20%. Eliminar a disparidade de gênero na próxima década essencialmente dobraria a taxa de crescimento global atual", destacam os analistas do órgão.

Atualmente, em nível mundial, 50% das mulheres trabalham, enquanto entre os homens essa taxa é de 75% (veja a imagem abaixo).

Ao se regionalizar os dados, ficam expostas as diferenças. No sul da Ásia, por exemplo, uma em cada 4 mulheres trabalha. No Oriente Médio e no norte da África, apenas uma em cada 5. Na América Latina, 81% dos homens estão inseridos no mercado e apenas 57% das mulheres.

"Essa divisão de gênero prejudica o desenvolvimento econômico. Ela dificulta a alocação eficiente de recursos. Ela limita a força de trabalho", escreveram em janeiro Anna Bjerde, diretora de operações do Banco Mundial, e Indermit Gill, economista-chefe do órgão. 

"Em pelo menos 65 países, as mulheres são impedidas de profissões lucrativas em transporte, manufatura, construção, água, energia e mineração — setores que frequentemente oferecem remuneração mais alta", observaram no texto. "Quando as mulheres são autorizadas a desempenhar funções idênticas às dos homens, muitas vezes encontram uma diferença salarial significativa. Em 93 países, ainda é legalmente aceitável pagar menos às mulheres por trabalhos de igual valor."

Oferta e demanda

O Banco Mundial analisa a lacuna na inserção na força de trabalho por dois aspectos: de oferta e de demanda por mulheres no mercado. Em suma, uma série de elementos limitam a participação feminina — a parte de oferta dessa equação. As evidências catalogadas pelo órgão mostram que ampliar a disponibilidade de creches e cuidados para crianças  — cuja responsabilidade atualmente é desproporcional para mulheres —,  garantir inclusão financeira e acesso à informação, entre outras, são políticas efetivas para combater a lacuna de gênero.

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Nas contas do órgão, o aumento no acesso a creches por meio de leis de cuidado infantil está associado a um crescimento médio de 1 ponto percentual na participação das mulheres na força de trabalho — efeito que cresce ao longo do tempo, alcançando até 2,2 pontos percentuais dentro de cinco anos após a implementação.

Também auxilia nesse esforço focalizar programas em acesso a crédito e ao sistema bancário. "Por exemplo, um estudo experimental com mulheres beneficiárias de um esquema de trabalho público na Índia central descobriu que dar a elas contas bancárias com depósito direto em seu próprio nome (combinado com treinamento) as levou a aumentar sua oferta de trabalho", exemplifica o Banco Mundial.

Outros fatores para mitigar a diferença no mercado de trabalho são estudados ao redor do mundo. Entre eles, o órgão multilateral cita a capacidade de mulheres transitarem com segurança, intervenções comportamentais (orientação na busca de emprego, por exemplo) e até políticas públicas para garantir itens básicos como máquinas de lavar — atividade que, novamente, se concentra desproporcionalmente sobre mulheres — e, assim, garantir mais tempo para outras demandas.

"Um programa de reembolso para refrigeradores e máquinas de lavar na China também contribuiu para a redução do tempo que as mulheres gastavam em atividades domésticas e um aumento no seu engajamento na força de trabalho", destaca o Banco Mundial em seu estudo. 

Do lado da demanda, apontam os especialistas, mesmo quando as mulheres acessam o mercado de trabalho, restrições podem impedir o emprego feminino. Os analistas do órgão identificaram que mulheres frequentemente enfrentam barreiras ao emprego por causa de vieses implícitos ou explícitos dos empregadores.

"Fornecer informações críveis e sinais às empresas contratantes pode reduzir algumas dessas barreiras", avaliam. "Evidências da África do Sul revelam que sinalizar suas habilidades às empresas através de uma carta de referência aumentou significativamente as convocações para mulheres em relação aos homens."

Mulheres recebem 77% do salário dos homens, na média

Para além da inclusão no mercado de trabalho, há também uma discrepância nos salários de homens e mulheres. De maneira geral, profissionais femininas recebem 77 centavos para cada dólar pago para homens, de acordo o Banco Mundial.

Segundo a instituição, 92 países não tem legislação que preveja pagamento igualitário entre gêneros, 20 nações proíbem mulheres de trabalhar à noite e 45, de trabalhem em atividades consideradas perigosas.

O Banco Mundial avalia que a questão tem quatro principais dimensões que explicam a lacuna:

  • disparidades de gênero em habilidades,
  • segregação ocupacional baseada em gênero,
  • subrepresentação de mulheres em posições de liderança,
  • vieses de gênero no local de trabalho

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Habilidades, gênero e segregação de ocupações

Um dos pontos que o levantamento traz é que,  embora tenha havido uma melhora na educação de meninas de 2010 a 2020, esses ganhos não se traduziram em melhoria nas oportunidades econômicas para as mulheres — o que o Banco Mundial chamou de "disparidades de gênero em habilidades".

"Um possível fator que impulsiona essa lacuna é o acesso limitado ao treinamento em habilidades relevantes para o trabalho que poderia aumentar a empregabilidade das mulheres em um mercado de trabalho em constante evolução. Isso inclui habilidades técnicas (ou seja, habilidades técnicas e formação profissional) e habilidades socioemocionais", diz o documento.

Nesse ponto, os achados são contraintuitivos. Pesquisas feitas em diversas parte do mundo apontam que o treinamento de habilidades soft e socioemocionais — como iniciativa pessoal, negociação e comunicação —, têm potencial para aumentar os ganhos de longo prazo das mulheres e os lucros empresariais.

"Evidências recentes da República Dominicana mostram que o treinamento em habilidades não cognitivas e sociais permitiu às mulheres encontrar empregos melhor remunerados mais rapidamente. Esse efeito se sustentou mesmo 3,5 anos após o programa, com as mulheres relatando maior satisfação no trabalho, autoestima e expectativas melhoradas para o sucesso futuro", diz o relatório, em referência a um estudo de 2020.

No caso, pesquisadores avaliaram a interação entre treinamento vocacional e de habilidades e socioemocionais no país da América Central e seus resultados no mercado de trabalho e expectativas de jovens.

"Descobriu-se que o programa teve efeitos fortes e duradouros na aquisição de habilidades pessoais e expectativas, mas os resultados são marcadamente diferentes para homens e mulheres", apontam os pesquisadores Paloma Acevedo, Guillermo Cruces, Paul Gertler and Sebastián Martínez. "Logo após completarem o programa, todos os participantes relataram melhores expectativas para melhorar o emprego e meios de vida. Esse resultado é revertido para participantes masculinos após três anos e meio, potencialmente explicado pelos efeitos negativos de curto prazo do programa nesse grupo. Por outro lado, as participantes femininas experimentaram resultados melhorados no mercado de trabalho a curto prazo e exibiram níveis substancialmente mais altos de habilidades pessoais após três anos e meio; as mulheres no estudo se tornaram mais otimistas e relataram maior autoestima."

Em contraponto, as evidências coletadas pelo banco ao redor do mundo mostraram que o impacto de educação técnica e vocacional é pequeno para fechar essa lacuna.

Segregação de ocupações

Nas contas do banco, a segregação ocupacional — a distribuição de trabalhadores entre e dentro das ocupações — é responsável por  até metade da disparidade salarial de gênero, assim como boa parte da disparidade de lucros entre empreendedores de diferentes gêneros. 

"As mulheres tendem a se agrupar em setores diferentes dos homens, e os setores dominados por mulheres tendem a ser de baixo valor, com escopo limitado para crescimento e promoção", diz o relatório. "Tal agrupamento pode ocorrer devido à falta de habilidades apropriadas e educação necessárias para empregos de alto valor, assimetrias de informação, acesso limitado a modelos profissionais e redes sociais para entrar em setores dominados por homens, normas sociais restritivas, restrições de capital e pobreza de tempo, o que pode forçar as mulheres a aceitar empregos menos remunerados com melhores características não monetárias, como licença remunerada, horas mais curtas e flexíveis, e seguro saúde e social."

Subrepresentação de mulheres em posições de liderança e os vieses de empregadores

Globalmente, apenas 32% das posições de liderança (ou seja, gerência sênior e média) em governos, grandes empresas e instituições são ocupadas por mulheres, segundo o Banco Mundial. Esta proporção é mais alta na América Latina (38%) e mais baixa no sul da Ásia (17%).

"A subrepresentação de mulheres em posições de liderança e diferenças de gênero nas taxas de promoção é um dos principais impulsionadores da disparidade salarial de gênero e da disparidade de ganhos a longo prazo. A lacuna nas taxas de promoção pode explicar aproximadamente 70% da lacuna no crescimento salarial até os 45 anos de idade", diz o relatório.

As evidências mais recentes demonstram que não foi efetivo solucionar essa questão com políticas de cotas para mulheres em conselhos. "Nos países que aprovaram cotas para representação feminina em conselhos, como Noruega e Itália, análises encontram que aumentar a proporção de mulheres em conselhos ou em gestão sozinho não foi suficiente para reduzir a disparidade salarial de gênero ou aumentar os salários das mulheres não gerenciais", apontam os pesquisadores. 

No caso da Noruega, esse sistema levou a conselhos mais jovens e menos experientes, aumentos em alavancagem e aquisições, e deterioração do desempenho operacional das empresas, bem como aumentos nos custos de mão de obra relativa e reduções nos lucros das empresas, relata o Banco Mundial. 

Em contraste, programas voltados para o avanço de carreiras femininas por meio de treinamento direcionado e mentorias se mostraram uma promessa em impulsionar os ganhos das mulheres, com registro de aumento das taxas de promoção ou desempenho melhorado — as evidências nesse aspecto levaram a instituição a criar um programa específico para treinamentos e mentorias

Vieses de gênero no local de trabalho

O relatório também traz evidências de projetos que buscam evitar que os vieses de gênero levem a salários menores para mulheres, como fazer processos seletivos anônimos — nos quais não se sabe o nome ou gênero do candidato ou da candidata. Essa política, embora tenha se mostrado efetiva inicialmente, acabou por postergar a discriminação para etapas posteriores dos processos seletivos.

Pesquisas em países desenvolvidos, porém, mostram que a obrigatoriedade da transparência salarial pode ajudar a fechar a disparidade salarial de gênero, ao mesmo tempo em que aumenta o número de mulheres contratadas e promovidas a posições sênior, aponta o documento.

"Uma lei de divulgação salarial do setor público no Canadá reduziu a disparidade salarial de gênero em 20-40%. Essas evidências iniciais criam um caso promissor para a adoção mais ampla da transparência salarial para reduzir as disparidades salariais de gênero em diferentes contextos", diz o relatório. 

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Créditos

Luciano Pádua

Luciano Pádua

Editor de Macroeconomia

Formado pela UFRJ e mestre em administração pública pela Harvard Kennedy School. Tem passagens pelo JOTA, revista VEJA, Jornal do Brasil e O Antagonista. Atualmente, é responsável pelas editorias EXAME Agro, Brasil, Economia e Mundo.

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