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Guerra comercial no TikTok: o que sabemos sobre vídeos chineses que 'desmascaram' grifes de luxo

Marcas como Hermès, Louis Vuitton e Lululemon estão entre as mais citadas pelos usuários da rede social chinesa

Vídeos no TikTok são novo capítulo na guerra comercial (TikTok/Reprodução)

Vídeos no TikTok são novo capítulo na guerra comercial (TikTok/Reprodução)

Publicado em 17 de abril de 2025 às 10h27.

Última atualização em 17 de abril de 2025 às 11h02.

A guerra comercial entre Estados Unidos e China chegou a novas arenas nas últimas semanas. Saiu do âmbito político para entrar também em um aplicativo em específico: o TikTok.

Diversos usuários na plataforma têm publicado vídeos explicando como, supostamente, produtos de luxo são feitos em fábricas chinesas. Eles também explicam como os preços podem ser mais baixos se os consumidores optarem por comprar itens direto com os fabricantes, e não com marcas como Hermès, Louis Vuitton e Lululemon.

Os vídeos são criados sobretudo por fornecedores e fabricantes chineses. Mostram os bastidores das fábricas e revelam como bolsas e roupas de supostas grifes são produzidas a preços muito inferiores aos cobrados pelos produtos no mercado ocidental.

Um exemplo emblemático é o da bolsa Birkin, da Hermès, que pode ser vendida por até US$ 38 mil nos Estados Unidos, mas, segundo os comerciantes, tem um custo de produção que varia entre US$ 1.000 e US$ 1.400 na China. O mesmo ocorre com leggings inspiradas nas da Lululemon, fabricadas por menos de US$ 6 na gigante asiática, que chegam a ser vendidas por até US$ 100 nos Estados Unidos.

Fábrica no TikTok: verdade ou mentira?

Mas nem tudo é exatamente o que parece. Segundo a Louis Vuitton, os produtos da marca são fabricados somente na França, Espanha, Itália e nos Estados Unidos. A Gucci, por sua vez, afirmou que fabrica somente em território italiano.

Em entrevista ao site Business of Fashion, o analista da Bernstein, Luca Solca, argumentou que “duvida que os TikToks sejam verdadeiros”, mas faz um alerta: podem representar um problema sério na reputação das marcas.

Nos últimos anos, um crescente mercado paralelo de produtos de luxo desafia as marcas mais renomadas do mundo, colocando em evidência as limitações da indústria no combate à pirataria. A nova trend do TikTok pode deixar esse mercado ainda mais forte, segundo especialistas do setor.

"Não subestime o que isso pode significar para o luxo", disse o consultor de marcas e especialista em marketing Fabio Becheri em uma publicação no LinkedIn. "Esses vídeos podem parecer apenas barulho agora. Mas a narrativa que estão promovendo pode, silenciosamente, remodelar como as pessoas percebem valor, origem e autenticidade”.

Quem faz e de onde vem

Grande parte dos vídeos sob a hashtag "Trade War" no TikTok são reposts de contas que não foram identificadas. No entanto, uma usuária com 1 milhão de seguidores, chamada lunasourcingchina, parece se destacar entre eles, com postagens que falam de carros até marcas de luxo.

Em um dos vídeos, LunaSourcingChina fala sobre dois fornecedores localizados em Yiwu, uma cidade famosa pelo mercado atacadista, afirmando, sem provas, que a Lululemon compra suas leggings de US$ 98 diretamente dessas fábricas.

"Imagino que a maioria de vocês já conhece os preços da Lululemon ou de outras grandes marcas… e adivinhem, nessas duas fábricas, você pode comprar essas leggings por cerca de cinco a seis dólares", disse ela.

A Lululemon afirmou que produz aproximadamente 3% de seus produtos na China, mas que não trabalha com os fabricantes que aparecem nos vídeos divulgados no TikTok. Ambas as fábricas mencionadas também não estão na lista de fornecedores da marca de luxo, embora a Lululemon mantenha parcerias com várias fábricas na Chinam e fornecedores em países como Vietnã, Peru e Camboja.

@lunasourcingchina

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♬ original sound - LunaSourcingChina

 

Outro perfil no TikTok que entrou para a trend foi o dhgateofficial, com 125,9 mil seguidores. A loja diz vender produtos direto da fábrica e, em um dos vídeos mais recentes, mostra uma bolsa que, originalmente, custaria US$ 3.600, sendo vendida por US$ 600 — sem confirmação da originalidade da peça.

A guerra comercial digital: contexto e impacto das tarifas

Os vídeos não surgiram de forma isolada.

Eles se inserem em um contexto de intensa disputa comercial entre os EUA e a China, com tarifas de até 145% impostas pelos Estados Unidos sobre produtos fabricados no país asiático.

Essa situação criou um terreno fértil para as estratégias digitais de retaliação. As postagens no TikTok podem ser vistas como uma forma de pressionar o consumidor americano a comprar diretamente de fornecedores chineses, ignorando as tarifas e intermediários — o que pode ser um golpe direto contra as políticas comerciais de Donald Trump.

A propaganda digital na plataforma, alimentada por vídeos amplamente visualizados e com milhões de curtidas, influencia os consumidores a questionar a autenticidade e o real valor das marcas ocidentais. A mensagem que fica para os usuários nos comentários é clara: por que pagar preços exorbitantes por algo que pode ser comprado diretamente da fonte, a um custo muito mais baixo?

Ainda segundo Becheri, “quando a distância entre o custo de fábrica e o preço de varejo se torna muito evidente, a confiança começa a se corroer [...] E a confiança, no setor de luxo, é tudo”, concluiu.

Batalha de narrativas e controle da plataforma

Em um cenário mais amplo, o TikTok se tornou um campo de batalha na guerra comercial. Os vídeos funcionam como uma forma de propaganda econômica, no que agora é conhecido como “Trade War TikTok”.

A plataforma tem sido usada como um canal para expor as contradições do sistema de tarifas e questionar as práticas de grandes marcas. Além disso, a própria negociação para a venda dos ativos do TikTok nos EUA está entrelaçada com o contexto tarifário. O governo chinês tem utilizado seu controle sobre o aplicativo como moeda de troca nas negociações com os Estados Unidos.

A repercussão desses vídeos tem gerado uma série de reações, desde desconfiança dos consumidores até tentativas de burlar o sistema para comprar diretamente da China. Plataformas como WeChat e Taobao estão se tornando pontos de vendas alternativas, onde consumidores buscam evitar as tarifas e adquirir produtos a preços mais baixos.

No entanto, especialistas alertam que muitos desses produtos podem ser versões falsificadas ou de qualidade inferior, e a compra direta pode não garantir as mesmas condições de segurança e garantia oferecidas pelas grandes marcas ocidentais.

Na guerra comercial, a China parece ter conseguido uma nova arma. E milhares de vídeos já foram disparados.

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