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Com Jodie Foster, novo 'True Detective' revive caso macabro no Alasca

Em entrevista exclusiva à EXAME, elenco comenta bastidores da série que retorna à HBO após hiato de cinco anos

"True Detective: Terra Noturna": saiba o que esperar da série. (True Detective/HBO)

"True Detective: Terra Noturna": saiba o que esperar da série. (True Detective/HBO)

Luiza Vilela
Luiza Vilela

Repórter de POP

Publicado em 11 de janeiro de 2024 às 16h02.

Última atualização em 11 de janeiro de 2024 às 19h45.

Em 2014, quando a HBO vivia o auge do sucesso de "Game of Thrones", uma série entrou de mansinho no catálogo, bem distante do mundo fictício criado por George R. R. Martin e mais próximo da realidade como a conhecemos. "True Detective", no início, parecia só uma simples história de um detetive "a la Sherlock Holmes", mas se provou ser bem mais do que isso. A série se tornou o título de maior audiência da história da HBO no primeiro ano de exibição, com 11,9 milhões de espectadores por episódio — feito que durou por muitos anos até a chegada de "House of the Dragon".

A prepotente produção policial teve três temporadas, sendo a última lançada em janeiro de 2019, com atores como Matthew McConaughy, Woody Harrelson, Colin Farrell, Vince Vaughn, Mahershala Ali e Stephen Dorff, e foi aclamada pela crítica especializada. Ela só tinha um problema: seu elenco era masculino demais, tanto nos papeis principais quanto na produção.

Dez anos depois da estreia e cinco após o hiato deixado pela pandemia, "True Detective" retorna com algumas novidades. A primeira é o título, "Terra Noturna", e a segunda, o elenco. É tempo de dar adeus à energia masculina dos detetives; as protagonistas no quarto ano da série serão Jodie Foster, duas vezes vencedora do Oscar de melhor atriz com "Acusados" (1988) e "O Silêncio dos Inocentes" (1991), e a boxeadora Kali Reis, que estreou no cinema em 2021, com "Catch the Fair One". Foster interpretará  Liz Danvers, uma policial mal-humorada, e Reis viverá Evangeline Navarro, uma detetive.

A quarta temporada da série estreia neste domingo, 14 de janeiro, e terá seis episódios ao todo, lançados semanalmente aos domingos.

A direção e o roteiro são assinados pela mexicana Issa López, de "Tigres Não Têm Medo" (2017), que rendeu a ela o prêmio de melhor direção de terror no Fantastic Fest, em Austin, no Texas. À frente do título da HBO, López transformará "True Detective" em uma verdadeira investigação noir. Ao menos foi o que ela disse, ao lado de Jodie Foster e Kali Reis, em entrevista exclusiva à EXAME em dezembro do ano passado, quando as três visitaram o Brasil para participação na CCXP de 2023.

Uma dupla que se odeia — e se ama

Falando sem spoilers*, a nova temporada de "True Detective" mergulha de cabeça em um caso macabro e coincidentemente conectado a outro mistério da série: oito homens somem de um centro de pesquisa no Alasca, na cidade (fictícia) de Ennis. No local há apenas uma pista, diretamente conectada a um caso antigo investigado por Liz Denvers (Jodie Foster) e Evangeline Navarro (Kali Reis) seis anos atrás.

Escaladas para desvendar o novo mistério, as duas protagonistas ficam frente à frente com um suspense embebedado no terror, e enfrentam mais um problema: a relação difícil entre ambas. 

"O negócio é que a Denvers irrita a Navarro sempre que há uma oportunidade. As duas são muito diferentes, elas convivem nesse caso super denso, mas não se suportam", conta Kali Reis em entrevista a EXAME. "Denvers é durona por fora, tem piadas horríveis, elas brigam. Mas no fundo, ela [Denvers]  sabe que a Navarro já passou por muita coisa, então existe ali um respeito mútuo e a verdade é que elas duas trabalham muito bem juntas. É conexão de amor e ódio que elas têm e isso vai evoluindo ao longo dos episódios", completa.

A personagem de Kali é bem fechada, taciturna, uma pessoa muito difícil de lidar, bem inflexível. E ela tem de lidar com as tão desagradáveis piadas da parceira interpretada por Foster, que o que tem de inteligente tem de inconveniente.

"Em vários momentos, Denvers faz umas piadas com Navarro só para encher o saco dela mesmo. E essas piadas são às vezes até culturais sabe. Enfim, elas se amam e se odeiam, se provocam e se cutucam, mas são melhores juntas do que separadas", completou Kali.

À EXAME, Jodie Foster contou que essas piadas foram todas bem intencionais, e as provocações renderam várias risadas e nos bastidores. "Acho que uma das notas que tínhamos desde o início era algo como, bem, como racismo direta e propriamente dito. Quer dizer, ela realmente precisa ser aquela voz na série que, com o tempo, muda e desperta para as pessoas", comentou a atriz.

De meiga à antipática: a criação de Liz Denvers

Um fato curioso sobre a construção da personalidade de Liz Denvers, disse Jodie Foster, foi justamente as mudanças que ela fez ao lado da diretora. De gentil e "coração mole", a policial se transformou em uma grande carrancuda.

"A inspiração para a minha personagem realmente aconteceu durante uma conversa quando conversei com a Issa e lemos juntas o roteiro do primeiro episódio, mas fomos mudando o caráter da personagem, a forma como ela agia, até chegarmos nessa versão carrasca", comentou a atriz. "Denvers acabou sendo muito mais engraçada do que eu pensei que ela seria, pelo menos ela se acha engraçada. Ela não é muito engraçada. Mas ela se acha engraçada e, por algum motivo, isso acabou ficando incrível".

"A bem da verdade", interrompeu Issa López, "Eu tinha mesmo pensado em uma Denvers bem gentil, molenga, para contrastar com a Navarro em toda a sua inflexibilidade. Mas aí eu conheci a Jodie e ela trouxe todo um espectro novo à personagem", salientou ela. "Nesse almoço, cheguei a dizer 'então, basicamente, você quer que eu transforme Denvers numa grande babaca?' e eu respondi na hora que poderia com certeza fazer aquilo acontecer", respondeu entre risos.

"E foi o melhor para Denvers", completou Foster.

Noir de verdade e vindo diretamente do Alasca

"Terra Noturna" se passará no inverno congelante do Alasca, especificamente na época do ano em que o local tem poucas horas de luz no dia. "Eu trouxe o Alasca porque, bem, a natureza de 'True Detective' tem muito a ver com o lugar onde ele ocupa. Isso foi feito de maneira brilhante na primeira temporada, em Louisiana, que é quente e suado, e de certa forma muito luminoso", inciou Issa López em entrevista à EXAME.

"Pensei comigo no que eu poderia fazer de diferente das outras temporadas, o que ainda não tivesse sido feito. Acabei indo no caminho do extremo oposto ao calor da Louisiana: colocar a série no ambiente gélido do Alasca parar criar algo verdadeiramente noir, muito sombrio", explica ela.

Para os menos engajados no gênero terror, o noir é uma classificação de 1946, feita pelo crítico francês Nino Frank, que se refere a um estilo de filme que tem ambientação urbana, mais taciturno, policial e embebedado em mistério. Em linhas gerais, o pano de fundo ideal para "True Detective", que agora vai caminhar para algo mais focado no suspense.

"A longa noite do Alasca era o específico que precisávamos para essa nova história. Traz um clima peculiar, uma experiência peculiar", prosseguiu ela.

O ambiente congelado é tão protagonista quanto Denvers e Navarro, e sua exclusão geográfica está presente nos episódios da série, mesclado também a questões étnicas, raciais e culturais. As temperaturas no Alasca durante as gravações bateram os -30ºC, o que tornou a produção mais difícil do que o esperado. Foram ao todo três meses de filmagem e muitas camadas de roupas.

"Ser no Alasca não facilitou a filmagem, mas vou te dizer que estou muito feliz por termos conseguido. É uma experiência e tanto. Experiência de vida. Você sabe, nunca mais farei isso e nunca mais quero voltar para lá, mas foi uma experiência de vida", brincou Issa.

"Um frio inacreditável, eu não volto jamais", complementou Kali Reis, rindo.

Mais feminina, mas não menos fidedigna

Dirigida, escrita e protagonizada por mulheres, a nova temporada de "True Detective" está empenhada em mergulhar o público em um mistério macabro, cheio de suspense. As duas pessoas à frente estão longe de serem pessoas frágeis: complementam o estilo dos outros detetives das temporadas anteriores.

Para López, o fato de ter diversidade para a produção é fantástico, mas não torna a série agradável só para o gênero feminino. "Eu acho que sim, as mulheres que assistirem ficarão muito felizes pela representatividade, mas acho mesmo é que os homens vão amar a história. É ela que vai encantar o público num geral", salientou. "Em outras palavras, essa série é de investigação, é policial. Isso não tem gênero".

Jodie acredita que a quarta temporada vai expandir a ideia de que ter duas mulheres à frente da série muda tudo e, ao mesmo tempo, não muda nada. "Não estamos vivendo em uma espécie de sociedade pós-gênero, é claro, mas estranhamente, a história aspira a isso. Sim, essas duas pessoas são extremamente femininas e habitam esse ambiente, mas mais do que isso, elas são humanas, então têm lados masculinos, são completas, cheias de nuances. Elas não são apenas uma coisa, elas são, acima de tudo, eficazes".

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