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Rumo aos R$ 45 milhões, marca de produtos saudáveis triplica de tamanho e, de quebra, corta preços

Com nova fábrica em Vinhedo e distribuição da 3Corações, Zaya quer sair de 800 para 20 mil pontos de venda até 2026

Marcelo Achcar, da Zaya:  “Estamos saindo de uma operação de 800 pontos para buscar até 20.000 clientes atendidos. É uma virada total” (Guilherme Soriano/Divulgação)

Marcelo Achcar, da Zaya: “Estamos saindo de uma operação de 800 pontos para buscar até 20.000 clientes atendidos. É uma virada total” (Guilherme Soriano/Divulgação)

Daniel Giussani
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 27 de junho de 2025 às 16h25.

Na disputa por espaço nas gôndolas de saudáveis, o segredo está nos bastidores.

Por trás de uma embalagem colorida ou de uma lista de ingredientes “clean”, há desafios reais de escala, distribuição e custo. Para a Zaya, marca que nasceu com farinhas sem glúten e se consolidou com biscoitos proteicos (as Zaytas) o próximo passo envolve tudo isso ao mesmo tempo.

A empresa inaugura, em agosto, uma nova fábrica em Vinhedo, no interior de São Paulo, com capacidade seis vezes maior e operação 24 horas por dia. A expansão vem acompanhada de uma mudança completa na marca, novos sabores e uma meta ambiciosa: chegar a 25 milhões de reais em faturamento em 2025 e 45 milhões em 2026.

“Estamos saindo de uma operação de 800 pontos para buscar até 20.000 clientes atendidos. É uma virada total”, afirma Marcelo Achcar, fundador da marca e atual diretor da operação. “O mais difícil é manter a integridade dos produtos enquanto crescemos.”

A aceleração é resultado da entrada da Zaya na joint venture entre a Positive Brands e a 3Corações. A nova estrutura garantiu distribuição nacional, investimento em tecnologia e acesso a centros de pesquisa.

Agora, a empresa se prepara para competir em larga escala no mercado de snacks saudáveis. E para isso, vai até diminuir o preço de alguns produtos.

Qual é a história da Zaya

A história da Zaya começou com a visão do empresário Marcelo Achcar. Após quase duas décadas no setor automotivo, dono de uma indústria de rodas de liga leve Alujet, ele decidiu mudar completamente de ramo e se dedicar à criação de produtos alimentícios saudáveis. O ano era 2017.

“Eu queria algo diferente, que realmente ajudasse as pessoas e trouxesse inovação para o mercado”, diz Achcar. “Vi farinhas sem nenhum contaminante de glúten nos Estados Unidos e entendi que deveria ter algo assim no Brasil”.

A aposta por aqui foi na mandioca. Ele desenvolveu uma linha de farinhas sem glúten, que rapidamente ganhou popularidade, principalmente entre consumidores com restrições alimentares. Aos poucos, a produção ganhou escala, principalmente com a pandemia e com as pessoas fazendo mais comida em casa.

“Quando a pandemia passou, ficamos com medo de quebrar, porque as pessoas não teriam mais tempo de cozinhar em casa”, diz. “Mas aí desenvolvemos um snack saudável, um salgadinho feito à base de farinha de mandioca, sem glúten e sem ovos”.

O Zaytas, como chama o salgadinho, conquistou o público e hoje representa 85% do faturamento da empresa

Quais são os planos de crescimento

A nova fábrica marca a transição da Zaya para outro patamar operacional.

A estrutura atual, de 1.100 metros quadrados, será substituída por um galpão de 6.400 metros quadrados, com três turnos de produção e um forno exclusivo — desenvolvido com suporte técnico austríaco para preservar sabor e nutrientes.

“Não foi um forno comprado pronto. Ele foi projetado para manter a integridade da proteína, do colágeno e da textura dos nossos produtos”, explica Achcar. “Conseguimos chegar à mesma qualidade dos testes que fazíamos em casa, agora em escala industrial.”

A expansão resolve um gargalo logístico. Com os centros de distribuição da 3Corações espalhados pelo Brasil, a antiga fábrica já não dava conta. “Mandávamos de São Paulo para Fortaleza, para depois redistribuir para o Rio. A conta não fechava”, afirma.

Revisão nos preços

Outro passo importante foi o reposicionamento de preço. O Zaytas Protein, principal produto da marca, teve o preço de tabela reduzido de 18,90 para 14,90 reais. A meta é chegar a 12,90 em breve.

“Nosso objetivo é sair do nicho. Alergia não tem classe social, como diz o Pedro, presidente da 3Corações”, afirma. “Com mais escala e estrutura, conseguimos bancar essa queda.”

A distribuição acompanha o movimento. Com a estrutura comercial da 3Corações, a empresa já negocia com grandes redes e projeta estar presente em até 20 mil pontos de venda até o fim de 2026. Redes como Pão de Açúcar, que antes mantinham os produtos da Zaya em poucas lojas, ampliaram os pedidos.

Além disso, a empresa está lançando sete novos sabores da linha Zaytas Protein. Um deles, o Caramelitas, foi desenvolvido com a influenciadora fitness Manuela Cit, que virou embaixadora da marca. Todos os produtos foram formulados para evitar as chamadas “lupas nutricionais” — alertas como “alto em sódio” ou “alto em açúcar” nas embalagens.

“Conseguimos chegar a 12g de proteína por pacote, sem comprometer o sabor e sem usar adoçantes artificiais”, diz Achcar. O ingrediente central da fórmula é a proteína de ervilha, que complementa os aminoácidos do colágeno Verisol, usado nas receitas.

De olho no crescimento do uso de medicamentos como Ozempic e Wegovy, a Zaya já ajusta seus produtos para esse novo perfil de consumidor: pessoas que comem menos, mas buscam alimentos mais densos nutricionalmente.

“Fomos a uma feira nos EUA e a principal tendência era essa: alimentos que dão suporte a quem usa GLP-1”, diz Achcar. “Por isso, estamos criando produtos menores, com mais proteína, fibras e vitaminas por grama.”

Os novos pacotes de 35g, com 12g de proteína, nasceram desse movimento. “A lógica é simples: o consumidor vai comer menos, então a gente tem que entregar mais valor em menos espaço.”

Os desafios de crescimento

Apesar da nova estrutura e dos recursos, Marcelo sabe que escalar é mais complexo do que apenas produzir mais. “Nosso maior desafio é manter a integridade dos produtos. Não adianta crescer e perder aquilo que a gente construiu com o consumidor”, afirma.

O processo também exige a formação de novas equipes, integração de sistemas e cuidado com cultura interna. “É mais difícil formar um time alinhado do que comprar uma máquina”, diz. “A 3Corações tem uma cultura muito forte, e isso ajuda. Mas tem que construir de novo, todo dia.”

Mesmo com as dificuldades, ele vê na parceria um diferencial.

“Com a 3Corações, ganhamos acesso a centros de pesquisa, fornecedores internacionais e ingredientes que jamais conseguiríamos sozinhos”, afirma. “Essa estrutura foi essencial para conseguirmos melhorar o produto e baixar o preço ao mesmo tempo.”

A nova fábrica, os novos sabores e o novo posicionamento são só o começo. A fase atual da Zaya é de consolidação — com um pé no supermercado e o outro na ciência de alimentos.

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