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Após burnout, empresário criou uma "terapeuta com IA" no WhatsApp. O foco: ganhar milhões

A meta é chegar a 500.000 usuários em três anos e ser uma porta de entrada para o serviço com psicólogos

Sávio Arruda, da Serena: "Queremos oferecer uma solução acessível para quem não tem condições de pagar por terapias tradicionais, ou enfrenta uma longa espera no SUS." (Serena/Divulgação)

Sávio Arruda, da Serena: "Queremos oferecer uma solução acessível para quem não tem condições de pagar por terapias tradicionais, ou enfrenta uma longa espera no SUS." (Serena/Divulgação)

Daniel Giussani
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 12 de outubro de 2024 às 08h08.

Para o brasiliense Sávio Arruda, a vida de empreendedor sempre foi marcada por riscos.

Formado em engenharia de redes e com passagens por startups e grandes empresas como PagSeguro, ele já estava acostumado a desafios tecnológicos. Mas foi após enfrentar um episódio de burnout e ansiedade que Sávio decidiu mudar de direção. 

Ele criou a Serena, uma assistente virtual que usa Inteligência Artificial para fornecer suporte psicológico através do WhatsApp. Agora, ele mira um faturamento de 15 milhões de reais.

O plano de Sávio para a Serena não é substituir psicólogos, mas facilitar e baratear o acesso ao atendimento psicológico em um país onde a oferta é limitada. 

"A maior parte das cidades brasileiras têm menos de um psicólogo por mil habitantes", diz. "Queremos oferecer uma solução acessível para quem não tem condições de pagar por terapias tradicionais, ou enfrenta uma longa espera no SUS."

A proposta é simples: os usuários compram créditos e acessam a "terapeuta" pelo WhatsApp, onde podem receber conselhos baseados em terapia cognitivo-comportamental (TCC), uma abordagem comprovada para tratar ansiedade e depressão. 

Cada interação com a IA consome um crédito, e pacotes de 25, 50 ou créditos ilimitados estão disponíveis por preços que variam de 29 a 99 reais por ano.

A virada: de um protótipo a um produto escalável

Sávio começou a desenvolver a Serena no ano passado, inspirado por sua própria experiência ao lidar com a ansiedade e a falta de opções acessíveis de tratamento. 

"Eu já tinha passado por episódios de ansiedade generalizada e depressão, mas foi quando saí de uma startup e fiquei sem emprego que tudo piorou", afirma. Após tentar ajuda terapêutica tradicional, ele se deparou com altos custos e um mercado ainda inacessível para muitas pessoas.

Decidido a encontrar uma solução mais prática e acessível, Sávio testou um protótipo da Serena

“Fiz uma versão inicial e percebi que a IA funcionava bem. Ela acolhia as pessoas, dava conselhos e começava a ajudar de verdade”, afirma. 

Depois de algumas campanhas de teste no Google e uma live com o influenciador Dr. Marco Abud, referência em saúde mental com 3 milhões de seguidores, a Serena começou a ganhar tração. 

"Quando as pessoas começaram a pagar pelo serviço, eu soube que havia um negócio ali", afirma Sávio.

Com 2.000 usuários cadastrados em poucos meses, a Serena agora foca em expandir. A meta é ambiciosa: chegar a 500.000 usuários em três anos, com um faturamento de 15 milhões de reais. 

O modelo de negócios e a IA no WhatsApp

A Serena opera por meio de créditos. Cada interação com a IA custa um crédito, e os usuários podem adquirir pacotes por valores que começam em 29 reais. 

A plataforma também oferece áudios educativos sobre saúde mental, como trilhas específicas para lidar com ansiedade, depressão e insônia. 

Além de fornecer suporte emocional inicial, a IA também oferece testes periódicos para acompanhar o progresso dos usuários, utilizando métodos como o GAD-7 e o PHQ-9, ambos padrões na avaliação de ansiedade e depressão. Mas a Serena sabe seus limites. “Ela é treinada para reconhecer quando o problema é mais grave e orientar o usuário a procurar ajuda profissional", afirma Sávio.

Desafios e planos para o futuro

O principal desafio da Serena não está na tecnologia, mas em expandir sua base de usuários e navegar pelas regulamentações de saúde mental, tanto no Brasil quanto internacionalmente.

"Aqui, ainda não existe uma regulamentação clara para terapias mediadas por IA. Nos EUA e na Europa, o ambiente é mais avançado, mas no Brasil ainda estamos nos adaptando", diz Sávio.

A Serena já está sendo preparada para internacionalização, com planos de tradução para outros idiomas e um estudo cuidadoso das regulamentações em diferentes países. 

“A terapia cognitivo-comportamental é a mesma em qualquer lugar do mundo, mas precisamos entender como adaptar a solução para outros mercados”, explica.

Mesmo com esses obstáculos, Sávio vê um potencial enorme para o crescimento da Serena, especialmente em um país onde a saúde mental ainda é um tema cercado de tabus. "Muita gente ainda tem medo de buscar ajuda, seja por vergonha ou por falta de acesso", diz. "Queremos ser essa porta de entrada para quem precisa de suporte, mesmo que inicialmente seja por meio de uma IA."

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