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Presidente de Madagascar fala em tentativa de golpe de estado; entenda a situação do país

O movimento que começou por falta de água e luz tornou-se o maior desafio a Rajoelina desde sua reeleição em 2023

A Presidência de Madagascar denuncia "tomada ilegal de poder" depois que unidades de elite militar (CAPSAT) pedem adesão a protestos (Getty Images). (Getty Images)

A Presidência de Madagascar denuncia "tomada ilegal de poder" depois que unidades de elite militar (CAPSAT) pedem adesão a protestos (Getty Images). (Getty Images)

Ana Dayse
Ana Dayse

Colaboradora

Publicado em 12 de outubro de 2025 às 14h29.

Última atualização em 12 de outubro de 2025 às 17h50.

A presidência de Madagascar afirmou neste domingo (12) que uma tentativa de "tomada ilegal e forçada de poder" está em andamento na nação africana. O alerta de golpe de estado surge no momento em que militares se juntam a um movimento de protesto liderado por jovens que já dura mais de duas semanas.

As manifestações, inicialmente motivadas pela escassez de água e eletricidade, transformaram-se em um desafio direto ao governo do presidente Andry Rajoelina, reeleito em 2023.

O epicentro da crise militar está na unidade de elite CAPSAT, cujas tropas ajudaram Rajoelina a tomar o poder em um golpe de 2009. No sábado, soldados da CAPSAT pediram que outros militares desobedecessem ordens e apoiassem os protestos iniciados em 25 de setembro.

Neste domingo, oficiais da CAPSAT alegaram ter assumido o comando das operações de segurança do país, nomeando o General Demosthene Pikulas como novo chefe do Exército e coordenando todas as ramificações militares.

Uma unidade da Gendarmaria Nacional, que até então controlava os protestos com a polícia, também rompeu com o governo.

Em comunicado, a força proibiu "o uso de força e qualquer comportamento impróprio" contra a população, declarando-se uma força de proteção e não de defesa de "interesses de alguns indivíduos".

Apesar de denunciar a tentativa de golpe de estado em Madagascar nas redes sociais, o gabinete de Rajoelina fez um apelo ao "diálogo para resolver a crise". O paradeiro do presidente neste domingo era desconhecido, embora seu gabinete tenha afirmado no sábado que ele e o primeiro-ministro "estão em pleno controle dos assuntos da nação".

Os protestos, inspirados em movimentos liderados pela Geração Z em países como Quênia e Nepal, exigem a renúncia de Rajoelina e a dissolução de órgãos eleitorais e do Senado.

A União Africana emitiu um apelo por calma e moderação. Madagascar, uma ex-colônia francesa, tem uma população de cerca de 30 milhões de pessoas, onde três quartos vivem na pobreza.

Entenda o contexto do país

A crise política em Madagascar, que culminou na adesão de militares a protestos e na denúncia de tentativa de golpe contra o presidente Andry Rajoelina, é resultado de problemas estruturais crônicos. A situação atual combina a persistência da pobreza extrema com o colapso da infraestrutura e o crescente descontentamento popular.

O ponto de ignição das manifestações, iniciadas em 25 de setembro, foi a falha no fornecimento de serviços públicos. A escassez e os cortes contínuos de água e eletricidade, especialmente na capital, Antananarivo, exauriram a paciência da população, dando origem ao movimento "Leo Délestage" (em referência aos cortes de energia).

A crise dos serviços básicos ocorre em um momento em que Madagascar tem profundas vulnerabilidades sociais. Cerca de 75% da população de Madagascar vive abaixo da linha da pobreza, segundo o Banco Mundial.

A corrupção sistêmica e a má gestão dos recursos públicos, que impedem a melhoria da infraestrutura, alimentam a indignação, transformando os protestos em um clamor por justiça e mudança estrutural, o que motiva o golpe de estado em Madagascar.

O movimento de protesto é notável por ser liderado pela Geração Z, a maioria da população jovem do país. Conectados a movimentos internacionais, esses jovens transformaram as queixas iniciais em exigências pela renúncia de Rajoelina, dissolução de órgãos eleitorais e fim da repressão. A mobilização em massa dos jovens amplificou a pressão sobre o governo.

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