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Em desespero com crise, cresce o número de suicídios na Venezuela

Taxa de suicídio no estado de Mérida foi de mais de 19 por 100.000 habitantes em 2017, nível nunca antes visto na região

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Crise na Venezuela: muro em Caracas com as pichações "Maduro assassino" e "não há remédios" (SOPA Images / Contributor/Getty Images)

Crise na Venezuela: muro em Caracas com as pichações "Maduro assassino" e "não há remédios" (SOPA Images / Contributor/Getty Images)

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Andrew Rosati, da Bloomberg

Publicado em 28 de outubro de 2018, 06h00.

Última atualização em 28 de outubro de 2018, 06h01.

Os pacientes chegam à noite ou em plena luz do dia, vivos e, às vezes, mortos.

Um aumento recorde dos casos de suicídio na atribulada Venezuela está desgastando os médicos que trabalham no hospital universitário do estado andino Mérida. Pessoas que tentaram se matar chegam a um ritmo incerto que assusta os profissionais que as recebem.

"Vivemos entre o terror e a impotência", disse Ignacio Sandia, chefe do departamento de psiquiatria. "Constantemente pensamos que não pudemos fazer o que deveríamos ter feito no momento em que podíamos, e é aterrorizante que os pacientes cometam suicídio e não haja nada que possamos fazer por eles."

Os suicídios estão aumentando rapidamente em todo o país, que antigamente era rico, mas particularmente em Mérida, um estado montanhoso onde os casos estão atingindo níveis nunca vistos. O Observatório Venezuelano da Violência, uma organização não-governamental, estima que a taxa de suicídio do estado foi de mais de 19 por 100.000 habitantes em 2017. Apenas 12 países têm uma taxa tão alta.

Essas mortes estão se tornando comuns em uma população assolada pela hiperinflação, pela fome e pela emigração em massa. Xiomara Betancourt, neurologista que dirige os serviços de saúde mental no Corposalud Mérida, o sistema público de saúde, culpou a falta de remédios antidepressivos e ansiolíticos e a solidão à medida que os entes queridos vão embora.

"É um coquetel, uma infinidade de fatores que convergiram", disse ela.

Mérida, estado um pouco menor que Connecticut, cuja capital tem o mesmo nome, é conhecido por suas cidades agrícolas tranquilas e picos cobertos de neve e tem cerca de 1 milhão de habitantes. Os apagões perturbam a região; a escassez de gasolina e de transporte público obriga os moradores a pegar carona nas ruas repletas de lixo. Os estudantes da Universidade dos Andes fugiram, levando consigo qualquer otimismo contagiante.

Sem dados oficiais confiáveis, o Observatório da Violência vasculhou notícias de jornais e registros policiais e hospitalares para documentar mais de 190 suicídios em Mérida no ano passado.

A morte de Ángel Isol Méndez, de 75 anos, colocou fim a uma decadência que refletia a situação do estado. Sua bodega em uma cidade rural ficou sem mercadorias. A fome murchava o corpo dele, e a falta de insulina abria feridas em seus pés por causa da diabetes. Em 23 de agosto, seu filho o encontrou na antessala vazia da loja, morto por um tiro de seu próprio revólver.

"Não havia mais nada para vender, nada, nem um doce sequer", disse a esposa, Sonia Arellano. "Tudo estava dando errado. Ele se sentia como um prisioneiro. Eu acho que isso o levou a tomar essa decisão."

O governo não tem sido transparente em relação às mortes. Assim como com as estatísticas de inflação, homicídios e HIV, o governo autocrático do presidente Nicolás Maduro costuma ficar em silêncio por anos a fio. No entanto, fragmentos de dados confirmam o aumento. Na grande Caracas, houve 131 suicídios em junho e julho, de acordo com um documento da polícia investigativa nacional obtido pela Bloomberg News. Isso implica um total neste ano de 786 só na capital. Em comparação, todo o país teve 788 suicídios em 2012, a última informação confiável do Instituto Nacional de Estatísticas da Venezuela.

"É uma situação crônica", disse a psiquiatra Minerva Calderón, de Caracas. "Uma sensação de desesperança toma conta e as pessoas veem que não há saída."

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