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Eleições na Turquia: Erdogan tem perda histórica nas urnas e promete respeitar resultados

O presidente do país, que faz parte do partido islâmico AKP, teve um envolvimento acentuado na campanha política

Eleições na Turquia: confira os resultados parciais (Murad Sezer/Getty Images)

Eleições na Turquia: confira os resultados parciais (Murad Sezer/Getty Images)

Da Redação
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Redação Exame

Publicado em 1 de abril de 2024 às 08h10.

Última atualização em 1 de abril de 2024 às 08h29.

No último domingo a Turquia passou por eleições municipais e atingiu um resultado histórico: contagens parciais indicam a derrota de candidatos apoiados por Recep Tayyip Erdogan e seu partido, islâmico-conservador AKP, em cidades como Istambul e Ancara, capital do país. Os resultados marcam uma histórica do país desde a época de pré-pandemia.

“Os eleitores decidiram mudar a cara da Turquia”, disse Özgür Özel, presidente do partido de oposição social-democrata CHP, nas redes sociais.

O presidente, que está há 20 anos no poder, se envolveu fortemente na campanha das eleições municipais e apoiou os principais candidatos de seu partido, chegando a fazer quatro comícios por dia. Aos 70 anos de idade,  compartilhou o iftar, a refeição noturna para quebrar o jejum do Ramadã, todas as noites.

“Esta eleição vai marcar o início de uma nova era para o nosso país”, afirmou o presidente, logo após votar em Istambul.

Nas urnas, no entanto, o resultado tem sido negativo para a AKP, sobretudo pela crise econômica e inflação elevada do país, de 67% nos últimos 12 meses. A moeda turca, a lira, segue em desvalorização.

"Todos se preocupam com suas vidas diárias, a crise está afundando a classe média, tivemos que mudar todos os nossos hábitos", explica Guler Kaya, um homem de 43 anos que diz ter tido que desistir de muitos de seus hobbies, em entrevista à AFP. "Se Erdogan vencer, será ainda pior".

A reconquista (fracassada) de Istambul e Ancara

Para as eleições deste ano, um dos maiores objetivos de Erdogan era recuperar a prefeitura de Istambul, capital econômica do país, que tem dado vitória à oposição, segundo resultados parciais. Hoje, o prefeito de Istambul é Ekrem Imamoglu, do CHP, que concorre a releição e está à frente na contagem dos votos. Com 71% das urnas apuradas, Imamoglu acumula 50,4% dos votos e Murat Kurum, apoiado pelo presidente, conta com 40,9%.

Erdogan foi prefeito de Istambul de 1994 a 1998, importante cidade para decidir as eleições presidenciais. O presidente está tentando se redimir da afronta de 2019, destituindo o prefeito cessante Ekrem Immoglu, uma figura da oposição que lhe tirou a principal e mais rica cidade do país e que, se reeleito, ganharia muito peso antes das eleições presidenciais de 2028.

Na capital oficial do país, Ancara, o resultado também não foi favorável para o partido de Erdogan. O prefeito Mansur Yavas, também concorrendo à releição e pertencente ao partido CHP, reivindicou vitória. Com apuração de 46,4% dos votos, Yavas já contava com 58,6% dos votos, ao passo que o candidato apoiado pelo presidente contava com 33,5%.

Na província de Diyarbakir, de maioria curda, no sudeste do país, houve confrontos à margem das eleições na manhã de domingo 31, deixando um morto e 12 feridos, segundo uma autoridade local.

Oposição dispersa

As pesquisas deste fim de semana ainda davam a liderança ao prefeito cessante, mas essas pesquisas haviam anunciado a derrota do chefe de Estado na eleição presidencial de maio de 2023, na qual ele foi reeleito com 52% dos votos.

Desta vez, ao contrário de 2019, a oposição enfrenta as eleições de forma dispersa. O CHP (social-democratas), seu principal partido, não conseguiu criar um consenso em torno de Imamoglu em Istambul e em outras partes do país. O partido Dem, pró-curdo, está concorrendo sozinho, o que pode favorecer o partido governista, ameaçado por uma pressão do partido islâmico Yeniden Refah.

"Obteremos uma grande vitória amanhã, que não será a derrota de ninguém", disse o presidente do partido CHP, Özgür Özel, na cidade ocidental de Izmir, que deve permanecer nas mãos da oposição, assim como a capital Ancara.

Em um país que enfrenta uma inflação oficial de 67% em 12 meses e a desvalorização de sua moeda (de 19 para 31 liras por dólar em um ano), os eleitores podem ser tentados a dar a vantagem aos oponentes do chefe de Estado. Para os observadores, o comparecimento tradicionalmente alto às urnas será uma indicação de apoio ao governo. O mesmo acontecerá em Istambul se os eleitores comparecerem em menor número para apoiar Imamoglu.

"Se ele conseguir voltar a Istambul e Ancara, Erdogan verá um estímulo para alterar a Constituição para se eleger em 2028", prevê Bayram Balci, pesquisador do Centro de Estudos e Pesquisas Internacionais (Ceri)-Sciences-Po, em Paris. "Mas se Imamoglu conseguir se manter, ele terá vencido sua batalha dentro da oposição para se impor".

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