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Argentina e FMI já fizeram 23 acordos; Milei diz que desta vez 'vai ser diferente'

País obterá US$ 20 bilhões de dólares em empréstimos do Fundo Monetário Internacional

O presidente da Argentina, Javier Milei, discursa em rede nacional para anunciar mudanças no câmbio (Presidência da Argentina/AFP)

O presidente da Argentina, Javier Milei, discursa em rede nacional para anunciar mudanças no câmbio (Presidência da Argentina/AFP)

Publicado em 15 de abril de 2025 às 06h02.

Para gerações de argentinos, o país passa ciclicamente pelo mesmo episódio: um novo empréstimo do Fundo Monetário Internacional (FMI) para salvar a sua economia. É a 23ª vez que isso acontece desde os anos 1950.

Um tratado assim ocorreu durante a ditadura dos anos 1970, na crise econômica e social de 2001 e na corrida bancária de 2018, quando o Fundo concedeu um crédito de US$ 44 bilhões à Argentina, o maior empréstimo já liberado pelo órgão multilateral.

Para os argentinos, os US$ 20 bilhões anunciados na semana passada têm o sabor de "mais do mesmo", como descreve o baixista Ariel Cazorla, 45. "Já passamos por isso muitas vezes. Se te emprestam, é porque veem que você pode pagar. Certamente, isso tem a ver com as nossas terras. Tem muita coisa que não sabemos, mas que eles negociam."

Essa suspeita esteve presente em histórias em quadrinhos, músicas e programas humorísticos argentinos nos últimos 50 anos. "Funcionários do FMI se reúnem para solucionar o principal problema da Argentina: o FMI", dizia o comediante Pipo Cipolatti em um show, nos anos 1990.

O paralelismo entre a dívida e o "dia da marmota" ganha destaque ocasionalmente na imprensa argentina desde a estreia do filme "Feitiço do Tempo", em 1993.

'Vai ser diferente'

O presidente Javier Milei garantiu que, desta vez, será diferente, porque o dinheiro não chega para estancar uma hemorragia, e sim para fortalecer o Banco Central e permitir uma liberação do controle cambial sustentável, uma medida anunciada ontem.

Com um índice de aprovação de mais de 40%, segundo pesquisas, alguns argentinos confiam na aposta do presidente. Para o aposentado Julio Teitelboim, 60, Milei preenche o rombo nos cofres públicos deixado por seu antecessor, Alberto Fernández.

"Este governo não tem alternativa a não ser recorrer ao FMI para se financiar. Está fazendo as coisas corretamente. Para mim, são honestos", diz o aposentado.

Para Belén Amadeo, cientista política da Universidade de Buenos Aires, o endividamento do país permeia a identidade dos argentinos. "O argentino médio sabe que recebeu empréstimos do FMI e que o Fundo impõe requisitos. O storytelling é de que o FMI é o vilão que nos pressiona para que paguemos um empréstimo com taxas muito altas. Há uma sensação de dependência ou de imperialismo. Muita simplificação do discurso, apegam-se à narrativa dos políticos", comenta.

Para o historiador Felipe Pigna, historicamente, os empréstimos do FMI não foram destinados a desenvolver a indústria ou a financiar obras públicas, por exemplo, e sim foram contraídos "com critério puramente financeiro". "A relação com o Fundo determina totalmente a vida dos argentinos. Você não pode destinar recursos para a construção de uma escola, porque tem que pagar o FMI. É dramático."

Pigna acrescenta que há um problema subjacente de sustentabilidade: "Você vai desenvolver a indústria e vai precisa importar. Com o que você importa? Com dólares. Bom, o volume de exportações argentinas às vezes não é suficiente para compensar as importações. Isso cria uma balança negativa que se cobre com dívida. Esse é um dos grandes gargalos de que se fala desde a década de 1950."

Com AFP. 

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