Mundo

Após EUA, União Europeia e Alemanha retiram funcionários de embaixadas no Haiti por violência

Chancelaria alemã disse que delegações foram para a República Dominicana; secretário de Estado americano, Antony Blinken, desembarcou na Jamaica para reunião convocada pela Caricom

Haiti: entenda crise de segurança pública no país (Clarens Siffroy/AFP/Getty Images)

Haiti: entenda crise de segurança pública no país (Clarens Siffroy/AFP/Getty Images)

Agência o Globo
Agência o Globo

Agência de notícias

Publicado em 11 de março de 2024 às 18h19.

A União Europeia (UE) anunciou nesta segunda-feira que retirou seus funcionários do Haiti à medida que a desordem e a violência, desatadas por gangues armadas, se intensificam nas ruas de Porto Príncipe. A partida da delegação havia sido comunicada ainda no domingo pela Chancelaria alemã, ao informar sobre a saída de seu embaixador e representante do país. As decisões somam-se à da embaixada americana, que também no domingo anunciou a retirada de alguns funcionários e o reforço da sua segurança.

"Removemos os funcionários da UE do Haiti", disse Peter Stano, porta-voz da divisão diplomática da Comissão Europeia, o braço Executivo do bloco, nesta segunda. A delegação havia emitido um comunicado no dia anterior afirmando que "encerrou temporariamente os seus escritórios e reduziu ao mínimo a sua presença no país". As atividades seguirão sendo realizadas de maneira remota, e as funções seriam retomadas "assim que as condições de segurança permitirem".

Também no domingo, o Ministério das Relações Exteriores da Alemanha informou à AFP que "devido à situação muito tensa de segurança no Haiti, o embaixador alemão e o representante permanente em Porto Príncipe partiram hoje [domingo] para a República Dominicana junto com representantes da delegação da UE". Os diplomatas trabalhariam da República Dominicana, país fronteiriço, "até novo aviso". Uma fonte a par da operação informou à CNN que o embaixador da União Europeia, Stefano Gato, também foi retirado.

O deslocamento dos funcionários exigiu dias de preparo, além de uma coordenação intensiva dos dois lados da fronteira, contou a fonte à rede americana. Como o aeroporto internacional do Haiti está fechado e é constantemente alvo de ataques, a saída ocorreu em um helicóptero comercial, que teria feito pelo menos duas viagens rápidas, uma atrás da outra. O espaço aéreo de Santo Domingo está fechado para o Haiti, mas as autoridades dominicanas abriram uma exceção. Além disso, para que a operação durasse o mínimo possível, a aeronave aterrissou em uma pista de pouso em uma base militar em vez de usar heliportos mais distantes na capital dominicana.

A emissora americana pontuou que o plano foi descoberto por outras pessoas que também pretendiam deixar o país, o que levou os organizadores a recusarem uma série de pedidos de adesão já que a aeronave era de pequeno porte. De acordo com a fonte, cerca de 12 pessoas foram retiradas do Haiti. Outra fonte a par das operações explicou à CNN que foram pelo menos 12 voos no últimos três dias — todos comerciais, e não militares. Os passageiros eram funcionários diplomáticos e agentes humanitários. No sábado, pelo menos um voo transportou cidadãos norte-americanos, canadenses e franceses.

Desde a semana passada, gangues criminosas tem atacado delegacias, prisões — de onde fugiram cerca de 3,7 mil prisioneiros na semana passada — e hospitais em Porto Príncipe. Mas uma das fontes disse à CNN que informações confiáveis sugeriam que a espiral de violência poderia seguir rumo à Petionville, uma região onde estão localizadas embaixadas, bancos e hotéis de luxo. As embaixadas dos EUA e da Alemanha estão localizadas em Porto Príncipe, mas a delegação da UE está na comuna a oeste.

Os funcionários das Nações Unidas, por sua vez, estão permanecendo no Haiti "para fazer tudo o que puderem para prestar assistência às pessoas necessitadas, apesar dos riscos para sua própria segurança", disse o porta-voz do secretário-geral da organização, Stephane Dujarric.

Reunião Caricom

As gangues pedem a renúncia do primeiro-ministro, Ariel Henry, que lidera o país desde o assassinato do presidente Jovenel Moïse em 2021. O poderoso líder de um desses grupos criminosos, Jimmy Cherizier, mais conhecido como Barbecue, prometeu uma "guerra civil que terminará em genocídio" caso Henry não renuncie.

Henry deveria ter deixado o cargo em fevereiro, mas, em vez disso, concordou com um acordo de compartilhamento de poder com a oposição até a realização de novas eleições. O premier anunciou que o pleito será convocado em agosto de 2025, data que muitos consideraram distante. Washington pediu a Henry que promulgasse reformas políticas urgentes, mas não chegou a pedir sua renúncia imediata.

Diante da violência, a Organização Internacional para as Migrações (OIM) aponta que 362 mil pessoas, sendo mais da metade crianças, estão atualmente desabrigadas, enquanto crescem os alertas para o risco de abastecimento de alimentos. Hospitais, alvo dos grupos armados, também não estão funcionando normalmente no país. Repartições públicas e escolas seguem fechadas há dias, e alguns corpos seguem espalhados pelas ruas da capital.

A Autoridade Portuária Nacional informou à AFP que as autoridades retomaram o controle do porto, alvo de saques e ataques na sexta-feira. Vários navios conseguiram descarregar contêineres, mas ainda é um desafio retirar mercadorias e alimentos, pois as estradas principais não são seguras o suficiente, acrescentou.

Devido ao cenário caótico, a Comunidade do Caribe (Caricom) — grupo formado por 20 países, sendo 15 Estados membros e cinco membros associados — convocou uma reunião para esta segunda-feira, realizada na Jamaica , para discutir a crise. O secretário de Estado americano, Antony Blinken, desembarcou em Kingston para participar do encontro, e representantes da França, Canadá e ONU também foram convocados.

De acordo com seu porta-voz, Blinken abordará os esforços para "acelerar a transição no Haiti por meio do estabelecimento de uma presidência colegiada" e discutirá a implantação de uma missão de segurança internacional no pequeno país caribenho.

O Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou no ano passado a criação de uma força internacional, liderada pelo Quênia, para ajudar o Haiti a combater a violência das gangues. O país tem menos de 10 mil agentes frente a uma população de 11 milhões.

A visita de Blinken ocorre no dia seguinte ao deslocamento de funcionários da embaixada americana em Porto Príncipe. Em um comunicado, Washington afirmou que uma "operação foi conduzida para aumentar a segurança" na embaixada, "permitir a continuidade das operações" na missão diplomática e "a saída de pessoal não essencial". O Comando Sul do Departamento de Defesa destacou que todo o pessoal transportado trabalhava para o governo americano.

Acompanhe tudo sobre:União EuropeiaHaitiSegurança públicaAlemanhaEstados Unidos (EUA)

Mais de Mundo

Trump escolhe seu novo chefe de Alfândega e Proteção de Fronteiras

Acordo UE-Mercosul: tratado é fechado após 25 anos; veja os próximos passos

Como uma bolsa da Dior pode ter dado início a uma crise na Coreia do Sul?

Elon Musk gastou mais de R$ 1,5 bi para ajudar a eleger Donald Trump