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A família Brennand rachou. E se deu bem

Em 2002, os primos Cornélio e Ricardo Brennand dividiram os negócios da família. Podia ter sido péssimo. Mas, separados e brigados, construíram duas das maiores fortunas do país

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Brennand Energia, do Grupo Ricardo Brennand: 5 usinas hidrelétricas e três parques eólicos que somam 425 megawatts de capacidade com valor estimado de 1,8 bilhão de reais (Divulgação)

Brennand Energia, do Grupo Ricardo Brennand: 5 usinas hidrelétricas e três parques eólicos que somam 425 megawatts de capacidade com valor estimado de 1,8 bilhão de reais (Divulgação)

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Lucas Amorim

Publicado em 12 de março de 2014 às, 06h00.

Recife - O termômetro marca 35 graus enquanto centenas de operários assentam o piso de mármore, montam os armários, instalam a fiação elétrica. O ritmo de trabalho é intenso, e tem de ser. O compromisso é terminar o hotel cinco estrelas Sheraton , no município pernambucano de Cabo de Santo Agostinho, a tempo de receber turistas e delegações para a Copa, que começa em junho.

O Sheraton é o mais novo dos imóveis da Reserva do Paiva, um condomínio de 500 hectares que está sendo erguido 15 quilômetros ao sul de Recife. É o maior projeto imobiliário em andamento no país. Além do hotel, estão sendo construídos edifícios residenciais, escritórios e um centro comercial.

A construtora responsável pelas obras é a Odebrecht, que prevê investir 5,3 bilhões de reais em 30 anos. Mais de 40 000 pessoas deverão morar numa área que até dez anos atrás não passava de uma fazenda de coqueiros. A preços de hoje, o condomínio deverá gerar receitas de 14 bilhões de reais.

Se tudo der certo, ninguém tem tanto a ganhar quanto a família pernambucana Brennand, dona do terreno e sócia no empreendimento. Os Brennand deverão embolsar 2,8 bilhões de reais com a Reserva do Paiva. Ou, para ser mais exato, duas partes de 1,4 bilhão.

Donos de duas das maiores fortunas do Brasil, os Brennand foram divididos ao meio por uma briga familiar uma década atrás. Assim como boa parte das grandes riquezas do Nordeste, a da família Brennand começou com cana-de-açúcar. No fim do século 19, a família construiu as primeiras usinas.

Depois, expandiu os negócios para cerâmica, porcelana, cimento, vidro, bancos. Por décadas, o comando do grupo coube aos primos Ricardo e Cornélio. Em 1999, a coisa começou a desandar. Os primos venderam a fábrica de cimento ao grupo português Cimpor por 590 milhões de dólares. Foi a senha para a briga.

Os dois sócios se desentenderam sobre como dividir e investir tanto dinheiro — e Ricardo acabou vendendo suas ações ao primo. É o tipo de disputa que pode acabar com um grupo familiar. No caso dos Brennand, a divisão só fez bem aos negócios. Os grupos Cornélio e Ricardo começaram ali uma disputa bastante peculiar (levada muito a sério pelos filhos de ambos).

Quem entra em mais negócios? Quem ganha mais dinheiro? A rivalidade deu origem à fase mais profícua da história da família. Eles nunca empreenderam tanto — e nunca ganharam tanto dinheiro. “Um não quer ficar atrás do outro em nada”, diz um empresário próximo à família. 

O condomínio Reserva do Paiva é o único investimento em conjunto. E, ainda assim, as coisas são devidamente separadas. “O terreno foi dividido, e a construtora lança empreendimentos simultaneamente nas duas metades”, diz um executivo do setor. Contando todos os negócios dos dois grupos, eles são donos de empresas avaliadas em pelo menos 9 bilhões de reais.

As estruturas são semelhantes — e o ritmo de expansão também. Em 2011, o grupo Cornélio criou uma incorporadora, batizada de Iron House, que tem projetos de hotéis, condomínios e shopping center. No mercado de energia, o grupo tem seis centrais hidrelétricas.


Em janeiro, inaugurou uma das maiores fábricas de vidro do país, no município pernambucano de Goiana, com receita prevista de 500 milhões de reais.

O grupo Ricardo Brennand concentrou os investimentos na área de energia. Tem três parques eólicos e 15 pequenas centrais hidrelétricas, avaliados por concorrentes em pelo menos 1,8 bilhão de reais. Os dois grupos também voltaram a investir em cimento assim que terminou a quarentena de dez anos imposta no contrato com a Cimpor, em 2009. 

Nessa nova fase, os dois grupos têm, pela primeira vez, planos de expansão para além do Nordeste — num movimento que repete, com algumas décadas de atraso, o avanço de grupos nordestinos como Odebrecht e Queiroz Galvão.

O grupo Cornélio vai construir hidrelétricas no Chile e um hotel em São Paulo. Ricardo já está produzindo cimento em Minas Gerais e tem usinas de energia em todas as regiões do país. 

Os filhos no comando

Os filhos dos fundadores estão à frente dessa nova fase. Após o desentendimento de uma década atrás, Cornélio e Ricardo passaram o comando aos filhos mais velhos (e homônimos em ambos os casos). Cornélio Brennand começou a viajar com frequência para a Inglaterra e raramente participa de reuniões de negócios.

Procurado, ele não concedeu entrevista. Ricardo seguiu o caminho de outro primo — o artista plástico Francisco Brennand — e passou a se dedicar às artes. Aos 86 anos, ele só aceitou conversar com EXAME se a briga familiar não entrasse na pauta. O encontro foi no instituto Ricardo Brennand, um misto de museu e espaço de eventos, inspirado em castelos medievais.

Lá, ele guarda uma das maiores coleções de armas e armaduras do mundo — que vão de cintos de castidade a espadas de antigos reis do Egito. Também abriga uma das maiores coleções de arte do Brasil, com estátuas do colombiano Botero e telas do holandês Franz Post e do italiano Canaletto.

“Elas chegam a valer 5 milhões de dólares”, diz. No dia 15 de fevereiro, os dois grupos se reuniram num evento — um casamento que uniu um neto de Ricardo e uma neta de Cornélio. Pela primeira vez em muito tempo, os dois patriarcas foram forçados a deixar a inimizade do lado de fora por algumas horas. Deram suas bênçãos aos noivos e, ao fim da festa, já eram rivais de novo.

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