Equipe da Gut São Paulo celebra o Grand Prix por “Call of Discounts”, campanha criada para o Mercado Livre que integrou o e-commerce ao universo gamer no Call of Duty (Divulgação/Cannes Lions)
Editora-assistente de Marketing e Projetos Especiais
Publicado em 18 de junho de 2025 às 06h44.
Última atualização em 18 de junho de 2025 às 07h20.
O segundo dia do Cannes Lions 2025 confirmou a força da criatividade brasileira no cenário global, com a conquista de dois Grand Prix e três Leões de Ouro. Ao todo, o Brasil somou 18 Leões nas categorias anunciadas nesta terça-feira, 17, incluindo cinco Pratas e oito Bronzes. O desempenho nacional foi acompanhado por discussões sobre os desafios da indústria, como a presença da inteligência artificial no processo criativo e a redefinição do propósito das marcas.
A Gut São Paulo conquistou o Grand Prix em Entertainment Lions for Gaming com a campanha "Call of Discounts", para o Mercado Livre. A ação uniu o universo dos games e do e-commerce, transformando Neymar Jr. e o streamer Nobru em personagens ocultos no jogo Call of Duty. Quando encontrados, liberavam cupons com descontos variáveis.
A Artplan levou o segundo Grand Prix do dia, na categoria Industry Craft, pelo projeto "Nigrum Corpus", desenvolvido para o Instituto de Educação Médica (Idomed) e o Instituto Yduqs. A campanha discutiu o racismo estrutural na medicina brasileira e incluiu um livro com linguagem acadêmica e um curta-metragem.
Além dos Grand Prix, o Brasil garantiu três Ouros. A Ogilvy venceu em Entertainment com "Caverna do Dragão: O Episódio Perdido", projeto em stop motion para a Hasbro.
A DM9 recebeu Ouro em Design por "Plastic Blood", campanha da Oka Biotech que já havia conquistado outros dois Leões no primeiro dia. A Artplan somou mais um Ouro em Design com "Nigrum Corpus".
O Brasil ainda foi premiado com cinco Leões de Prata e oito de Bronze. A DM9 ficou com duas Pratas para "Plastic Blood", enquanto a VML levou uma Prata e dois Bronzes. A Grey ganhou uma Prata e um Bronze. Lew’Lara\TBWA e Talent foram reconhecidas em Entertainment for Sport. A AKQA, a Africa Creative e a própria Artplan receberam Bronzes em outras categorias.
Com os novos prêmios, o Brasil acumula 38 Leões nos dois primeiros dias do Cannes Lions 2025: 3 Grand Prix, 6 Ouros, 11 Pratas e 18 Bronzes. O único segmento sem brasileiros entre os finalistas foi Film Craft.
"O Brasil é o nosso país criativo do ano — e isso não é por acaso. Ao longo dos 70 anos do festival, o país tem marcado presença de forma consistente. Hoje, tem a quarta maior delegação em Cannes e ocupa o 2º lugar no ranking de prêmios, com algumas das campanhas mais premiadas do Cannes Lions", diz Brandon McClary, gerente de parcerias do festival, a EXAME. "Agradeço aos nossos parceiros por tornarem isso possível. Estou ansioso por uma grande semana e por celebrar a excelência criativa da região brasileira."
O segundo dia do Cannes Lions 2025 refletiu um cenário de premiações e debates que apontam para um setor cada vez mais exigente em responsabilidade social, inovação e clareza de propósito. A delegação brasileira manteve o protagonismo, ao mesmo tempo em que a indústria global reafirmou a necessidade de adaptação frente às transformações sociais e tecnológicas.
No painel “Impact Innovators: Building a Healthier World”, Serena Williams, Catherine Nanda e Sheila Redzepi defenderam investimentos em soluções vindas de contextos vulneráveis. Serena afirmou: "Capital de risco — esse dinheiro que investidores colocam em empresas promissoras esperando retorno lá na frente — quase nunca chega até nós. E isso precisa mudar".
Catherine Nanda, da Acumen America, destacou que apenas 2% do capital de risco vai para fundadoras mulheres, apesar da performance superior. “Elas não apenas entendem os problemas. Elas vivem os problemas. E é por isso que são as mais preparadas para solucioná-los”, afirmou.
A liberdade criativa foi abordada por James Blake, músico britânico e produtor. Ele defendeu processos intuitivos e colaborativos: "Criar é um ato de escuta. Quando colaboro com alguém, meu trabalho é abrir espaço para a emoção dessa pessoa acontecer". Também alertou sobre distrações da era digital: "A magia acontece no espaço entre as distrações".
O uso da inteligência artificial na criatividade foi debatido por Mustafa Suleyman, CEO da Microsoft AI, e Colleen DeCourcy, ex-CCO da Wieden+Kennedy. Suleyman definiu a IA como uma “presença colaborativa” e afirmou: "É agora que devemos aprender, adaptar e liderar". DeCourcy reforçou o valor da imperfeição: “As melhores ideias nascem da colisão inesperada de pensamentos”.
Segundo a pesquisa global “Brand Trust”, da Edelman, realizada com 15 mil pessoas em 15 países, as marcas deixaram de ser coadjuvantes para se tornar protagonistas da estabilidade emocional e social de milhões. Em painel, Richard Edelman, CEO da empresa, explicou que as pessoas passaram a desconfiar do silêncio. "Elas acreditam que, se uma marca não se posiciona, outros falarão por ela."
Marc Pritchard, CBO da P&G, encerrou os grandes debates do dia com uma verdadeira aula sobre como construir marcas duradouras. Ao longo da apresentação, reforçou que o trabalho de branding vai além de tendências e tecnologias passageiras. “O segredo está na criatividade atemporal, na consistência e na profundidade dos relacionamentos”, resumiu.
No universo da creator economy, chamou a atenção o painel que mostrou como a marca Poppy, rejeitada no programa Shark Tank, se reinventou e foi vendida por US$ 2 bilhões à PepsiCo. O envolvimento dos criadores de conteúdo não só como divulgadores, mas também como investidores, foi destaque para explicar o crescimento genuíno e consistente da marca.
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