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Copa do Mundo Feminina: quando se trata de equidade de gênero no futebol ainda enfrentamos um 7x1

Mas quando o assunto é equidade salarial no futebol, a verdade é que as mulheres seguem enfrentando um 7x1 todos os dias

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Copa do Mundo: É seguro afirmar que a história recente do futebol feminino se confunde com a luta pela igualdade salarial (Agência Brasil/Reprodução)

Copa do Mundo: É seguro afirmar que a história recente do futebol feminino se confunde com a luta pela igualdade salarial (Agência Brasil/Reprodução)

Julho, mês das férias escolares e também da Copa do Mundo Feminina. Alguém sabia disso? Fato que a divulgação e energia é muito diferente da masculina. No início do mês levei meus filhos ao Museu do Futebol no Pacaembu e fui surpreendida pela exposição “Rainhas de Copa”.

A visita é uma imersão na história de desigualdade, luta e conquistas das mulheres para participarem e conseguirem um espaço neste esporte. Meus filhos não conheciam nenhum nome de craques mulheres, mas navegaram na história comigo. Me senti muito inspirada, orgulhosa das nossas conquistas, mas também reflexiva. Resultado: resolvi pesquisar e trazer esse tema aqui.

Quanto ganha uma jogadora de futebol feminino?”. Essa é a pergunta que os brasileiros mais fizeram ao Google sobre Copa do Mundo Feminina nos últimos anos, segundo dados do Google Trends. Com a 9ª edição do torneio iniciada na semana passada, o esporte tem ganhado destaque, apoio e admiração. O que é excelente para a visibilidade do esporte e das atletas.

Mas quando o assunto é equidade salarial no futebol, a verdade é que as mulheres seguem enfrentando um 7x1 todos os dias. Uma análise feita pela CNN mostrou que as jogadoras de futebol da Copa do Mundo Feminina de 2023 ganharão, em média, apenas 25 centavos para cada dólar ganho pelos homens na Copa do Mundo do ano passado. Ainda assim é uma melhora, já que na última edição a proporção era de 8 centavos por dólar.

O prêmio para o time campeão também mostra uma grande disparidade. Enquanto a seleção da Argentina levou para casa a bolada de US$ 42 milhões como ganhadora da Copa do Catar, o time feminino vencedor deste ano receberá US$ 15,7 milhões.

É seguro afirmar que a história recente do futebol feminino se confunde com a luta pela igualdade salarial, e pela equidade de gênero como um todo. E essa luta que ganha destaque de 4 em 4 anos por causa da Copa do Mundo acontece diariamente, com muitas atletas brigando para receberem seus salários, condições mínimas de atuação e até mesmo visibilidade.

No Brasil, por exemplo, as mulheres passaram quatro décadas excluídas oficialmente do esporte, entre 1941 e 1979, porque a sociedade achou um absurdo a exposição delas jogando no Pacaembu. No decreto da proibição, o texto dizia que "as mulheres não deveriam praticar esportes que não fossem adequados a sua natureza". Um retrato do machismo à época.

Foi apenas em 1980 que a modalidade feminina no esporte teve espaço para começar a se estruturar, mas ainda assim enfrentando problemas como a falta de estímulo e de dinheiro, o que atrasou o seu avanço e impacta na realidade do esporte até hoje.

Em muitos lugares do mundo, o futebol, assim como outros esportes, está fora da realidade das mulheres até hoje. Milhões delas enfrentam barreiras legais, culturais e religiosas que as proíbem de entrar em campo.

É verdade também que as coisas estão mudando – a passos lentos, mas estão. A Fifa anunciou em junho que, pela primeira vez, cerca de US$ 49 milhões, do recorde de US$ 110 milhões, em dinheiro para a Copa do Mundo Feminina iriam diretamente para jogadoras – pelo menos US$ 30 mil para cada participante e US$ 270 mil para cada jogadora do time campeão.

O jogo de abertura da Copa do Mundo Feminina entre Nova Zelândia e Noruega tinha mais de 42 mil torcedores no estádio, um recorde de público da história do esporte no país. No total, já foi registrado um aumento de 20% de torcedores nos estádios em comparação com a copa feminina de 2019. De acordo com a FIFA, o número de patrocinadores também aumentou de 12 para 30.

Protagonistas dentro e fora de campo

Assim como no mercado corporativo e na vida, no futebol as mulheres também ainda precisam fazer muito mais que os homens para serem reconhecidas. Além de brilharem em campo, grandes jogadoras são protagonistas na busca pelos direitos iguais e pelo reconhecimento das atletas e do futebol feminino.

É o caso de nomes com repercussão global como Marta, Megan Rapinoe (seleção norte-americana) e Lucy Bronze (seleção inglesa).

Liderada pela jogadora Megan Rapinoe, a Seleção Feminina dos Estados Unidos conquistou a igualdade salarial entre as seleções feminina e masculina no país em um acordo fechado com a Federação de Futebol dos EUA. A capitã do time é, inclusive, um dos principais nomes na busca por igualdade. Assim como Rapinoe, Marta também é um símbolo na luta pela equidade no futebol.

Grande nome do futebol brasileiro, e eleita a melhor jogadora do mundo por 6 vezes, a atleta já fez várias ações de protesto à desigualdade e apoio aos direitos das mulheres. Na Copa de 2019, por exemplo, ela jogou usando uma chuteira sem patrocínio que fazia parte da campanha #goequal.

Hoje celebrado e apoiado por muitos, o futebol feminino já foi proibido por lei no Brasil e em muitos países, o que reforça a cultura machista e explica (mas não justifica) os atrasos em questões de igualdade que o esporte sofre hoje em relação à versão masculina.

Mas com recordes atrás de recordes, as mulheres seguem buscando seu espaço dentro e fora do campo, além de lutar para que o esporte ganhe cada vez mais espaço, visibilidade e remuneração adequados.

Recomendo que assistam os jogos, me emocionei vendo as jogadoras em campo emocionadas e em busca de seus sonhos. Que elas e muitas outras continuem abrindo novos e melhores caminhos para as próximas gerações.

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