O plano da Upon para levar a expertise em trade global ao investidor
No processo de desenvolvimento do mercado financeiro brasileiro, nunca se falou tanto da importância da diversificação -- geográfica e de classes de ativos. O aumento dos riscos relacionados à economia local a um ano das eleições, algo que tem castigado os preços de ativos, só realçou a necessidade de uma prática que está em todo manual do investidor.
É nesse contexto que o investidor brasileiro vai ganhando novas alternativas. A mais nova é a Upon Global Capital, gestora que distribui nesta terça-feira, dia 16, a cota 1 de seu primeiro fundo macro multimercado global.
É uma casa que nasce com a extensa experiência de quase quinze anos em mercados globais de seus três principais sócios como um dos diferenciais (além de cerca de 20 anos no mercado financeiro).
A Upon foi fundada por Pedro Silveira, o CSO (que cuida das áreas de estratégia de novos negócios, marketing e comercial), ex-sócio controlador da XP Investimentos que estruturou e liderou a área da corretora no exterior; Thiago Melzer, o CIO (lidera a área de investimentos), ex-head global de opções e de ex-head de juros e moedas para as Américas do Morgan Stanley; e Fábio Isaack, o COO (head de operações), ex-sócio da XP que foi braço-direito de Silveira na corretora offshore e responsável pelo business institucional da corretora ex-equities.
Silveira e Isaack trabalharam juntos antes na área internacional da corretora Liquidez, depois BGC Liquidez, enquanto Melzer atuou diretamente com Roberto Campos Neto -- atual presidente do Banco Central -- no Santander no começo dos anos 2000.
"Queremos oferecer a descorrelação em relação aos multimercados locais e ao kit Brasil, que ainda é o principal foco desses multimercados", disse Silveira à EXAME Invest. "O objetivo é que o investidor veja o nosso produto como uma diversificação do portfólio: além dos multimercados locais que já possui, que tenha um focado no global com a expertise que nós temos."
O diagnóstico dos sócios da Upon Global é que há uma lacuna a ser preenchida de fundos com gestores cuja principal expertise é o mercado global, e não o doméstico, ainda que um número crescente comece a fazer alocações no exterior.
O fundo será voltado a grandes investidores e family offices mas pretende atingir também o investidor de varejo. A meta de captação para o primeiro ano é de 3 bilhões de reais.
"Modelamos bem e vimos que enviando apenas 20% do patrimônio lá para fora, que é o máximo permitido para esse tipo de investidor [de varejo], conseguimos através de alavancagens obter a alocação do risco que queremos ter lá fora, entre 60% e 90%, dependendo do momento", explicou Silveira.
Embora a demanda do investidor brasileiro por ativos no exterior seja crescente, o processo de diversificação geográfica ainda mal começou, avalia o CSO da gestora. Ele enxerga um potencial que remete ao movimento de migração de produtos com altas taxas de administração e baixo retorno para ativos mais rentáveis promovido pelas plataformas abertas de investimento nos últimos anos.
"Foi uma ideia que nasceu em conversas lá em 2017, 2018. Embora o fundo só esteja sendo lançado agora, já falávamos naquela época que havia a necessidade de montar algo diferente para o investidor brasileiro. Alguns fundos multimercados estavam maiores do que o mercado brasileiro comportava e isso impactava a performance", contou Melzer.
Ele e Silveira destacam a proposta do novo fundo. "Não é uma internacionalização só no papel. Além da nossa experiência de muitos anos lá fora, temos um escritório em Nova York, com acesso a informações de mais qualidade junto a investidores, analistas e estrategistas e onde vou trabalhar com mais duas pessoas que estavam comigo no Morgan Stanley, mais o nosso chefe de risco que vai se juntar em breve", disse Melzer.
O CRO é Marcos Carreira, que foi chefe de opções do Credit Suisse no Brasil e depois chefe de modelagem na B3. É uma área em que Silveira e Melzer disseram que a referência é o que é adotado por hedge funds globais.
Um dos principais desafios, segundo eles, foi estruturar a parte legal da contratação de estrangeiros para uma gestora com passivo em reais, bem como atrair profissionais experientes em mercados globais nessa condição.
O fundo macro global tem estratégia top-down, ou seja, faz a análise macro para daí avaliar os impactos em diferentes setores da economia e a melhor forma de implementar a visão que se tem. Boa parte dos profissionais, segundo Melzer, tem forte background em derivativos, o que abre a porta para uma ampla variedade de ativos.
"Olhamos a volatilidade como um ativo, como ferramenta extra não só para 'espremer' um viés direcional", diz o CIO. O fundo pretende entregar uma volatilidade de 8%, acima dos 5% a 6% dos multimercados brasileiros, mas abaixo dos 15% a 20% dos hedge funds globais (o equivalente no exterior aos multimercados no país).
O fundo começa com um book único, algo que Melzer destaca ser importante neste início porque dá mais controle sobre as posições e previne erros grandes -- "não somos um fundo com gestores que não se falam" --, enquanto a alocação estará concentrada em ativos líquidos no G10 (grupo das maiores economias desenvolvidas), além de emergentes mais líquidos.
"Queremos oferecer uma experiência de um hedge fund internacional para o investidor brasileiro, com um CIO brasileiro, com uma equipe de sócios aqui no Brasil e lá fora, para que ele no fim do dia possa pegar o telefone e falar em português com alguém em Nova York para saber o que está se passando com o fundo", define.
Eles ressalvam, no entanto, que o fundo é brasileiro, com passivo em reais, e que contará em um primeiro momento com quatro traders no país. "Não é porque o foco é offshore que não vamos fazer Brasil se houver possibilidades de rentabilidade que a gente enxergue como promissoras", afirma o CIO da nova gestora.
A trajetória começa com o fundo macro global, mas o sonho grande vai muito além. "É só o nosso primeiro fundo, mas o plano é se tornar uma gestora completa, com uma família completa de fundos", disse Silveira.
O fundo será distribuído inicialmente por BTG Pactual (BPAC11), Credit Suisse e XP, mas chegará a outras plataformas em breve, segundo ele.