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Gavekal: diferença entre juros dos EUA e do Brasil pode ser oportunidade para lucrar com carry trade

Em relatório, casa de análise destaca que para operação ser vantajosa, é preciso entender os riscos do mercado que influenciam a variação cambial

Carry trade: Gavekal analisa que operação pode ser vantajosa (	Xavier Lorenzo/Getty Images)

Carry trade: Gavekal analisa que operação pode ser vantajosa ( Xavier Lorenzo/Getty Images)

Rebecca Crepaldi
Rebecca Crepaldi

Repórter de finanças

Publicado em 20 de novembro de 2023 às 21h44.

Última atualização em 20 de novembro de 2023 às 21h45.

Diante da queda das taxas de juros do Brasil, a Gavekal Research, por meio de um relatório, prevê uma oportunidade para investidores lucrarem com a diferença dos juros entre Estados Unidos e Brasil. Segundo o documento, publicado nesta segunda-feira, 20, a análise é derivada de uma percepção da independência entre os juros das duas economias.

De acordo com o Louis-Vincent Gave, CEO e sócio-fundador da Gavekal que assina o relatório, mesmo em meio ao aumento das taxas nos Estados Unidos, as taxas de retorno de títulos brasileiros estão diminuindo, o que sugere essa desconexão. “As variações no custo de capital do Brasil não são mais determinadas pelas variações nas taxas de juros de longo prazo dos Estados Unidos”, destaca o relatório.

O relatório destaca que o retorno dos títulos do governo brasileiro com prazo de 10 anos caíram, enquanto o dos Estados Unidos aumentaram. Com isso, a estratégia “carry trade” pode parecer vantajosa. Isso porque o mecanismo financeiro se baseia em lucrar justamente com a diferença entre a taxa de juros mais baixa em um país e as taxas de juros mais altas de outro.

“Nos últimos anos, as duas economias tiveram taxas de inflação semelhantes [...]. Além disso, a diferença ainda significativa entre as taxas de retorno em dólares e em reais é improvável que seja um efeito dos déficits orçamentários nas respectivas economias. Afinal, desde 2019, os déficits brasileiros em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) têm sido menores do que os dos Estados Unidos, conforme aponta o Fundo Monetário Internacional (FMI), que afirma que essa tendência provavelmente continuará”, pontua o analista.

Carry trade com títulos de 10 anos

No relatório, o analista comenta sobre a operação “carry trade” se tornar lucrativa na compra do título de 10 anos dos EUA, caso o câmbio, neste prazo, chegue a US$ 1 = R$ 9,7. A exemplo, ele cita a estratégia de “venda a descoberto" de um título de 10 anos dos Estados Unidos (zero-coupon) a um custo de US$ 660.000 (ao preço atual de US$ 0,66 pelo título).

Essa venda a descoberto essencialmente geraria uma perda de US$ 340.000 ao longo da próxima década, pois o investidor precisará recomprar o título no futuro, que estará por um preço mais alto segundo a análise (ao preço de US$ 1 pelo título).

“Ao final do prazo, esse investidor deverá US$1 milhão (para pagar o título zero-coupon de 10 anos dos Estados Unidos) e estará comprado em R$ 9,7 milhões. Portanto, contanto que o real permaneça acima de BRL9,7 em relação ao dólar ao final do período, a negociação será lucrativa”, exemplifica o relatório.

Análise de riscos e cenários futuros

Apesar da independência parcial do custo de capital brasileiro, o texto ressalta que as taxas de retorno em dólares permanecem significativamente abaixo das taxas de retorno dos títulos do governo brasileiro, em cerca de 650 pontos-base, comparando os preços de títulos zero-coupon de 10 anos nos dois países.

Além disso, o analista traz a importância de considerar fatores econômicos, políticos e históricos para avaliar os riscos associados a essa estratégia, principalmente em relação à variação cambial. O texto menciona que, entre 2011 e 2021, o real teve uma desvalorização significativa, passando de US$ 1 = R$ 1,6 para US$ 1 = R$ 5,5. Isso sugere que um movimento semelhante não seria sem precedentes na história, mas não faz uma previsão específica sobre a taxa de câmbio futura.

Em análise histórica para contextualizar a possibilidade da estratégia ser bem-sucedida, considerando movimentos anteriores na taxa de câmbio, ele cita a desvalorização do real frente ao dólar nos últimos anos, devido, na visão de Gave, ao “massivo escândalo ‘Lava Jato’ da Petrobras”, “a prisão de ex-presidentes” e “falências de alto perfil, como a de Eike Batista e a varejista Americanas.”

Contudo, de acordo com o relatório, a política brasileira “pode estar mais calma agora”, além do mercado esperar que o aumento de mil pontos-base nas taxas de juros que o Banco Central brasileiro realizou em 2021, assim que a inflação reapareceu, tenha, até agora, “trazido à tona qualquer má conduta corporativa potencial.”

“Colocando tudo junto, é difícil não ser tentado pela proposta de títulos subvalorizados negociando em uma moeda subvalorizada (aliás, exercícios semelhantes podem ser amplamente seguidos com títulos mexicanos, colombianos ou chilenos)”, acrescenta o analista no documento.

Como possibilidades, Gave explica que o real brasileiro pode se tornar ainda mais subvalorizado, com um crescimento da China ruim, que puxe os preços das commodities para baixo. Ou ainda com o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) apertando a política monetária. Entretanto, ele finaliza: “No momento, parece que o Fed encerrou o ciclo de elevação das taxas e que o crescimento na China atingiu o fundo no segundo trimestre, com o governo chinês agora implementando mais estímulos.”

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