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Debt crowdfunding: taxa de retorno de 20% atrai investidor com alta da Selic

Daniel Miari, co-fundador da INCO Investimentos, defende que interesse na modalidade segue forte mesmo em cenário de aversão a risco

Daniel Miari, co-fundador da INCO Investimentos (INCO/Divulgação)

Daniel Miari, co-fundador da INCO Investimentos (INCO/Divulgação)

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Beatriz Quesada

Publicado em 28 de junho de 2022 às 08h00.

Em pouco mais de doze meses, a taxa básica de juros, a Selic, saltou de 2% para 13,25% ao ano, uma escalada que mudou o panorama de investimentos no Brasil. Opções mais arriscadas de investimento perderam espaço, enquanto as mais conservadoras voltaram a encher as carteiras dos investidores.

Existem, no entanto, produtos em que os ganhos polpudos seguem compensando o risco. Entre eles, está o debt crowdfunding, o investimento em dívida via financiamento coletivo. 

A modalidade guarda algumas similaridades com seu primo mais famoso, o equity crowdfunding, onde investidores se juntam para se tornar sócios de pequenas empresas e startups. Os aportes são feitos via plataformas de investimento, permitem acesso de produtos antes inacessíveis ao pequeno investidor e envolvem mais risco do que investimentos tradicionais. Porém, ao invés de se tornar acionista da empresa, o investidor se torna um dos credores.

Outra diferença primordial do debt crowdfunding é que ele é um investimento em renda fixa – tal qual debêntures, CDBs e CRIs, por exemplo. Sendo assim, parte do rendimento desses produtos é atrelada ao CDI e, portanto, beneficiada pela alta da Selic. Isso deixa o investimento mais atrativo em um cenário de alta dos juros.

“Oferecemos produtos com CDI mais alguma taxa, normalmente de 7% a 8%, dependendo do grau de risco da operação. Então, a INCO oferece um retorno muito atrativo que ronda os 21% ao ano. Com isso, conseguimos manter o interesse do investidor com a Selic subindo”, afirmou Daniel Miari, co-fundador da INCO Investimentos, plataforma especializada em financiamento coletivo de dívida. 

O interesse se traduz em números. A fintech, que contava com 28 mil cadastrados e 8,3 mil investidores ativos ao final de 2021, hoje tem uma base de 50 mil pessoas e 13,5 mil investidores ativos. Em média, o retorno dos projetos tem um prazo de 18 meses.

O grande desafio, porém, é com o outro lado da operação, na captação das empresas. Afinal, com a taxa de juros mais alta, fica mais caro tomar dívida, e o número de projetos diminui. Outro ponto de atenção é o risco de crédito – em outras palavras, a inadimplência – que costuma ser mais desafiador em cenários de juros altos. 

A recomendação de Miari é diversificar, investindo em produtos de diferentes segmentos e prazos. Mesmo com o cenário mais difícil para as empresas, o executivo ainda vê boas oportunidades no mercado tanto no setor imobiliário, principal frente de atuação da INCO, quanto nos novos segmentos abraçados pela empresa recentemente, como agronegócio, educação e energia.

“Nunca recomendamos investir em apenas um projeto. Ao investir, por exemplo, em 50 projetos, se um deles vai mal ainda são outros 49 entregando alta rentabilidade”, disse. Veja abaixo os principais pontos da entrevista do co-fundador da INCO à EXAME Invest

Com o aumento da Selic, o mercado observa uma fuga de investidores de opções mais arriscadas de investimento. Não é, no entanto, o que tem acontecido dentro da INCO. Por que?

Primeiro vale dizer que estamos colhendo os frutos dos nossos anos de operação em que o negócio foi ganhando corpo. Mas, pensando puramente em cenário econômico, a vantagem é que os produtos da INCO são atrelados à Selic. Oferecemos produtos com CDI mais alguma taxa, normalmente de 7%, 8%, dependendo do grau de risco da operação. Então, nós temos, hoje, uma taxa muito atrativa, que ronda os 21% ao ano. Com isso, conseguimos manter o interesse do investidor com a Selic subindo.

Apesar de mais arriscado, o investimento continua sendo de renda fixa, o que traz esse componente que se beneficia da alta da Selic, certo?

Exatamente. É um produto completamente diferente da renda fixa tradicional, mas ainda é renda fixa. Existe uma taxa determinada inicialmente, seja pré ou pós-fixada, mas ela não oscila como a variável. Isso também ajuda na resiliência.

Outro ponto que pode ajudar o investidor é a diversificação. [Debt crowdfunding] é um investimento em que existe sim um risco mais alto. Mas esse risco pode ser mitigado montando uma carteira com diversos projetos com prazos e segmentos diferentes.

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Para o investidor é bom negócio, mas e para as companhias que estão captando pela a INCO? A procura diminuiu com o aumento da taxa?

A alta da Selic não é positiva para o mercado. Então, as empresas pensam duas vezes antes de fazer um projeto de debt crowdfunding, e o número de projetos diminui. Ainda assim, existem grandes oportunidades. A grande questão é que as empresas estão mais seletivas. 

Os investimentos ficam mais arriscados em momentos como este em que a economia – e as empresas – estão passando por maiores dificuldades?

Por mais que existam riscos, buscamos selecionar da melhor forma possível as ofertas que estamos lançando. O perfil de empresas que procuramos são empresas de médio porte em expansão, que estão em uma boa fase e precisam de recursos para financiar um projeto. Não escolhemos empresas que estão apertadas e precisam de dinheiro. Nosso perfil é parecido com o de um CRI [Certificado de Recebíveis Imobiliários]: o objetivo é financiar crescimento por meio de projetos.

São empresas, em geral, com bom histórico e garantias, nas quais fazemos toda a análise de crédito. Em tamanho, são normalmente negócios que faturam mais de R$ 200 milhões – o mínimo que costumamos ver é de R$ 30 milhões.

Como você vê a concorrência da INCO com outras fontes de financiamento neste momento?

As empresas estão sempre se movimentando e precisam de financiamento para fazer o negócio funcionar. E a nossa taxa é competitiva com o mercado para fornecer esse financiamento. E não só isso: a grande vantagem é que aqui elas podem captar com menos burocracia. Temos uma empresa, por exemplo, em que levantamos 9 milhões para o projeto dela em dois dias – um valor que ela demoraria três meses para conseguir captar com um banco. É um processo muito mais ágil e menos burocrático.

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