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3º trimestre mostra que o pior ficou para trás para construtoras que atuam na baixa renda

Cenário para empresas é favorecido pela diminuição dos custos para construir e maior poder de compra obtido no programa de incentivos do governo

Obra: bancos e corretoras recomendam compra de Direcional, Cury, Cyrela e MRV (Eduardo Frazão/Exame)

Obra: bancos e corretoras recomendam compra de Direcional, Cury, Cyrela e MRV (Eduardo Frazão/Exame)

Marília Almeida

Marília Almeida

Publicado em 17 de novembro de 2022 às 06h00.

Depois de um rali que chegou a aumentar os preços de suas ações em até 40% e a divulgação de resultados do 3º trimestre, os analistas do Bank of America (BofA) acreditam que o valor de mercado das construtoras será mais difícil de ser analisado daqui para a frente. Portanto, as barganhas não serão óbvias.

Mas mesmo diante de múltiplos próximos da média histórica, o banco ainda vê descontos em relação ao preço justo em alguns papéis por conta de fortes resultados operacionais.

Nos próximos meses, os analistas acreditam que o cenário tende a ser mais favorável para as construtoras que produzem imóveis para a baixa renda, o que é reforçado por bancos e corretoras concorrentes, que também recomendam a compra das ações que atuam neste segmento.

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O trimestre, que foi difícil para as constutoras econômicas, tende a ficar para trás. Os analistas do banco acreditam que as margens do negócio não irão diminuir mais, pois um cenário de diminuição dos custos e maior poder de compra concedido aos participantes do programa de incentivos do governo federal já refletem em margens mais altas para novas vendas.

Na outra ponta, construtoras que atuam na média e alta renda acumulam um estoque  difícil de vender e encaram um pico de entregas nos próximos meses, em um cenário desafiador para o poder de compra dessa camada da população. O resultado pode e traduzir em atrasos na entrega das obras e, eventualmente, políticas de desconto, que irão colocar pressão adicional sobre as margens das empresas.

Ainda que as taxas de juros caiam em 2023, elas continuaram bastante elevadas e não serão suficientes para baratear financiamentos e incentivar a demanda do segmento.

Esse cenário gera oportunidade de compra das ações. Enquanto construtoras que atuam no segmento econômico negociam a 2,9x seu valor contábil (em linha com níveis históricos) e ROE de 26%, as que atuam na média e alta renda negociam a 1x o seu valor contábil (pouco abaixo da média histórica) e registram ROE de 11%. Ainda assim, o BofA analisa que alguns nomes estão com preços 35% abaixo do valor justo, como Cury (CURY3) e Direcional (DIRR3).

A partir do próximo trimestre, os analistas esperam que o setor se atenha a seus fundamentos, já que o rali das ações parece ter terminado.

Veja abaixo as recomendações do BofA para o setor:

CompraBaixo desempenho
Cyrela (CYRE3)Tenda (TEND3)
Direcional (DIRR3)Even (EVEN3)
MRV (MRVE3)Eztec (EZTC3)
Cury (CURY3)

Veja abaixo, no detalhe, a análise dos resultados de cada construtora:

Cyrela (CYRE3)

Em relatório, o Goldman Sachs aponta que o resultado do 3º trimestre da construtora foi forte em vendas e margem bruta, com receita líquida acima da expectativa. O aumento da margem bruta, que chegou a 34%, reverte a tendência de baixa do ano passado, um reflexo do poder de preço da construtora, cujo foco de atuação é São Paulo.

A companhia registrou geração de caixa, com a dívida líquida caindo para 3,5%, uma das menores vistas pelo banco na cobertura da ação. Por fim, o banco recomenda a compra do papel.

MRV (MRVE3)

Relatório do BofA aponta que o balanço da construtora veio com sinais mistos. A margem bruta se manteve estável, enquanto o resultado operacional foi sólido, ofuscado por resultados financeiros mais fracos adicionados a maiores despesas, que levaram a um prejuízo líquido ajustado de R$ 66 milhões.

Ainda assim, as recentes mudanças no programa de incentivos do governo federal e custos em tendência de queda devem manter as margens para novas vendas da construtora daqui para a frente. Ainda que a recuperação do resultado será gradual, o banco continua a recomendar a compra da ação.

Direcional (DIRR3)

Na visão dos analistas da Genial, os resultados da construtora vieram em linha com a expectativa. A receita foi de R$ 574 milhões por conta das vendas no trimestre, que se concentraram em empreendimentos lançados há menos tempo e, pela natureza do setor, refletem em menor reconhecimento da receita.

Já a margem bruta caiu no comparativo trimestral, mas deve recuperar nos próximos meses influenciada pelas mudanças no programa Casa Verde e Amarela. A corretora segue recomendando a compra da ação com preço alvo de R$ 23.

Cury (CURY3)

Segundo analistas da corretora Genial, a construtora continua a apresentar resultados trimestrais surpreendentes, andando na contramão do mercado. Enquanto concorrentes registraram margem bruta estáveis ou em queda no período, na construtora o indicador cresceu 1,6 ponto porcentual no comparativo trimestral.

A receita líquida veio em linha com a expectativa, e atingiu R$ 627 milhões (alta de 4% de aumento na comparação trimestral), puxada pelo crescimento das vendas líquidas, que saltaram 33,9% nos 9 primeiros meses de 2022 contra 2021. Esse forte crescimento não afetou a Velocidade sobre Vendas trimestral, que continua acima dos 40%, apesar do aumento de 16% dos preços dos imóveis na comparação anual.

O lucro líquido apresentou um crescimento de quase 10% na comparação trimestral, levando a um ROE dos últimos 12 meses de 51%. A expectativa dos analistas é de que o indicador continue crescendo e ultrapasse 60% em 2023.

Mesmo depois de o preço do papel subir mais de 45% desde o último resultado, ele segue descontado e com boa perspectiva para 2023, quando a inflação de construção civil deve seguir arrefecendo e a demanda continuar forte. A ação é uma das 11 selecionadas pela corretora para o mês.

Eztec (EZTC3)

Os analistas do Goldman Sachs apontam que o balanço da construtora registrou resultados mistos: enquanto a receita líquida veio em linha com o esperado, a margem bruta aumentou para 39,3%, revertendo a tendência de queda vista no último ano.

Contudo, a queima de caixa praticamente dobrou de R$ 101 milhões para R$ 175 milhões, deixando a companhia com caixa líquido de R$ 412 milhões. O banco continua neutro na recomendação para a ação, com preço alvo para 12 meses de R$ 21,5.

Tenda (TEND3)

A empresa registrou mais um trimestre de resultados frustrante, apontam os analistas da corretora Genial.

No final do ano passado, a construtora fez uma revisão orçamentária que culminou na ruptura dos covenants de suas dívidas e renegociação dos valores, aumentando o custo das suas debêntures e limitando os lançamentos da companhia a um máximo de 15 mil unidades por ano. Desde então, tem apresentado lucro recorrentemente negativo e forte queima de caixa.

No terceiro trimestre, os efeitos de estouro de orçamento levaram a uma reversão de receita de R$ 76 milhões e, em conjunto com outros efeitos não recorrentes e aumento da provisão para devedores duvidosos, levou a construtora a registrar puízo de R$ 190 milhões e margem bruta de 8,1%. A queima de caixa totalizou R$ 125 milhões.

Os analistas esperam que o prejuízo da empresa diminua progressivamente ao longo de 2023, com lucro marginal no último trimestre deste ano. A queima de caixa deve continuar desacelerando, com perspectiva para geração de caixa apenas no primeiro trimestre de 2024.

A projeção é que a construtora precise de um caixa adicional de pelo menos R$ 400 milhões até o terceiro trimestre do ano que vem para evitar estourar seus covenants novamente. Isso poderá ser feito via aumento de capital em oferta pública ou restrita ou com a venda da sua carteira de recebíveis que hoje vale R$ 900 milhões. A corretora continua neutra na recomendação da ação, que tem preço-alvo de R$ 6.

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