Por que a Ativa não acredita em corte da Selic neste ano
Projeção vai na contramão da crescente expectativa de cortes de juros no segundo semestre
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Roberto Campos Neto, presidente do BC (Gustavo Minas/Bloomberg via/Getty Images)

Publicado em 5 de junho de 2023 às, 14h52.
Crescem cada vez mais as expectativas de que o Banco Central iniciará o ciclo de cortes da taxa de juros Selic no segundo semestre deste ano. O boletim Focus, que agrega o consenso de economistas do mercado, aponta que o Comitê de Política Monetária (Copom) irá reduzir a taxa em 125 pontos base até o fim do ano, de 13,75% para 12,50%.
Mas uma voz do mercado tem se mostrado dissonante nessa história: a da Ativa Investimentos. Pela projeção da casa, revisada e distribuída nesta segunda-feira, 5, o início do corte de juros deve ficar apenas para o segundo trimestre de 2024.
Expectativas acima da meta
A tese do economista-chefe da Ativa, Étore Sanchez, é de que, até lá, não haverá espaço para o Copom cortar a taxa de juros devido às expectativas de inflação acima da meta do horizonte relevante do Banco Central.
O economista avalia que em apenas um dos seis ciclos de cortes de juros dos últimos 20 anos teve início com as expectativas de inflação superior a 30 pontos base da meta. Pelas contas da Ativa, na reunião de junho, a expectativa ponderada para a inflação no horizonte relevante do Banco Central estaria 113 pontos base da meta. Já na reunião de agosto, a projeção da Ativa é de que a expectativa esteja 109 pontos base acima da meta ponderada para o horizonte relevante do BC.
O relatório da Ativa ainda recorda o trecho do comunicado do Copom em que o BC afirma que manterá a taxa de juros inalterada até que se consolide a "ancoragem das expectativas em torno de suas metas" — e não apenas o processo de desinflação já em curso.
"A condição de reancoragem dificulta que visualizemos um cenário de corte precoce da Selic, algo que avaliamos que deverá ser reconstruído em uma tarefa hercúlea e persistente", afirmou.
Risco fiscal
Um dos pontos que tem atrapalhado a ancoragem das expectativas, avalia Sanchez, são as "condições severas de risco fiscal". Na avaliação do economista, políticas expansionistas do atual governo têm mitigado parte da política monetária restritiva, o que deve manter a Selic inalterada por algum tempo.
"A utilização do parafiscal e aumento da participação do estado na economia elevam o juro neutro o que dificulta ainda mais o processo de controle inflacionário e consequentemente da reancoragem das expectativas", pontuou Sanchez em relatório.
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