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O novo recorde do ouro: metal ultrapassa US$ 4.300 e caminha para melhor semana em quase 2 décadas

Movimento reflete uma combinação de fatores que têm elevado a procura pelo metal que vão de sinais de fragilidade dos bancos dos EUA e guerra comercial

Ouro: metal precioso caminha para melhor semana em 17 anos (DBenitostock/Getty Images)

Ouro: metal precioso caminha para melhor semana em 17 anos (DBenitostock/Getty Images)

Publicado em 17 de outubro de 2025 às 05h39.

O ouro bateu outro recorde na madrugada desta sexta-feira, 17, após alcançar uma cotação de US$ 4.378,69 por onça. Por volta das 3h15, no horário de Brasília, o metal era negociado a US$ 4.359,31, em alta de 0,8%. Às 5h38, era cotado a US$ 4.353,19.

Esta caminha para ser a melhor semana para o ouro em mais de 17 anos, com valorização semanal de aproximadamente 8,6%, e recordes sendo superados em todas as sessões desde segunda-feira. Nos contratos futuros com vencimento em dezembro, a cotação chegou a US$ 4.372,10, com avanço de 1,6%.

O movimento reflete uma combinação de fatores que têm elevado a procura pelo metal: sinais de fragilidade no sistema bancário regional dos Estados Unidos, tensões comerciais entre Washington e Pequim e a expectativa crescente de novos cortes de juros por parte do Federal Reserve (Fed).

O momento atual é definido por um aumento da aversão ao risco. Analistas têm apontado que o ouro tornou-se o principal destino para investidores em busca de segurança, especialmente diante das incertezas sobre o cenário macroeconômico global.

Para onde vai o ouro?

Em contextos normais, os mercados tendem a operar em dois modos: risk-on (ambiente favorável ao risco) ou risk-off (predomínio da cautela).

Mas o atual ciclo de valorização do ouro, que já dura mais de dois anos, desafia essas classificações clássicas.

Desde outubro de 2022, o ouro já se valorizou cerca de 2,5 vezes.

Apenas em 2025, a alta já supera os 50%, com uma escalada notável nas últimas 10 semanas.

O mais curioso é que esse rali tem ocorrido em paralelo à alta das bolsas — um comportamento historicamente incomum, já que ouro e ações tendem a andar em direções opostas, segundo analistas.

Uma alta difícil de explicar

Diversas hipóteses têm sido levantadas para tentar justificar a disparada do metal, mas nenhuma delas, isoladamente, explica completamente o fenômeno.

Segundo o Morgan Stanley, há três narrativas principais em circulação nos mercados:

1. Medo de uma bolha em ações de tecnologia

Parte dos investidores estaria comprando ouro como um seguro contra a possibilidade de uma bolha especulativa, especialmente no setor de inteligência artificial.

O mercado de ações dos EUA está concentrado em poucas empresas gigantes, em um cenário que lembra o final dos anos 1990.

No entanto, os índices de volatilidade permanecem baixos e os fundamentos das empresas seguem sólidos, o que enfraquece essa explicação.

2. Hedge contra inflação

O ouro é tradicionalmente usado para proteger poder de compra durante ciclos inflacionários.

Contudo, os dados atuais mostram que as expectativas de inflação nos EUA seguem estáveis, próximas de 3,2% ao ano — o que reduz a força dessa narrativa.

3. Desvalorização do dólar

Há também a tese de que o ouro serve como proteção contra o enfraquecimento estrutural do dólar.

Essa visão é impulsionada por fatores como o alto endividamento dos EUA, riscos à independência do Fed e o movimento global de desdolarização.

Embora consistente, essa narrativa não é nova, e o interesse por ativos denominados em dólar, como títulos do Tesouro, permanece alto.

Uma nova dinâmica global

Para o Morgan Stanley, o que pode estar de fato impulsionando o rali do ouro é uma mudança estrutural no sistema financeiro internacional: a preparação para uma nova era de moedas digitais — incluindo stablecoins — e o enfraquecimento do dólar como padrão global.

Nesse novo cenário, o ouro estaria sendo usado por bancos centrais e governos como ativo estratégico para sustentar moedas digitais ou novas estruturas monetárias.

A China e outros países emergentes vêm aumentando suas reservas de ouro, reduzindo a dependência do dólar em transações internacionais.

Esse movimento poderia sustentar a valorização do metal por vários anos, segundo o banco.

Perspectivas para o curto e médio prazo

O analista Tim Waterer, da KCM Trade, avalia em entrevista à Reuters que a cotação de US$ 4.500 por onça pode ser alcançada mais cedo do que se esperava, caso persistam as incertezas sobre a guerra comercial e o risco de paralisação do governo americano.

Além disso, investidores apostam em mais cortes de juros. O mercado já precifica um corte de 25 pontos-base na próxima reunião do Fed, nos dias 29 e 30 de outubro, com mais um movimento semelhante previsto para dezembro.

Em paralelo, o ouro também tem sido beneficiado pelo aumento nas tensões geopolíticas. Nesta quinta-feira, 16, os presidentes Donald Trump e Vladimir Putin anunciaram uma nova cúpula para discutir a guerra na Ucrânia. No mesmo dia, o Reino Unido anunciou sanções contra grandes empresas petrolíferas russas.

No mercado de metais preciosos, a prata também atingiu um pico de US$ 54,35, e acumula alta de 8% na semana. Já o paládio e a platina operam com leves quedas no dia, mas se mantêm com ganhos semanais.

O que fazer agora?

Segundo o Morgan Stanley, a recomendação é clara: os investidores devem manter posições conforme suas alocações estratégicas, mas reforçar a diversificação.

Classes de ativos como imóveis, infraestrutura privada, real assets, títulos do Tesouro e setores como energia e saúde podem oferecer proteção e ganhos consistentes.

E o ouro, diante de tantas incertezas, segue como protagonista em um mercado que busca abrigo em tempos turbulentos.

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