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Nubank sobe 50% e divide o mercado: hora de comprar ou de ficar vendido?

Banco digital anuncia o resultado do quarto trimestre depois do fechamento do mercado, na primeira divulgação desde que abriu o capital; ações estão em alta em fevereiro

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A partir da esquerda: Edward Wible, David Vélez e Cristina Junqueira, fundadores do Nubank, participam de cerimônia de celebração pela negociação de BDRs do banco digital na B3, ao lado de Gilson Finkelsztain (à direita), presidente da B3 | Foto: Cauê Diniz/B3 (Cauê Diniz/B3/Divulgação)

A partir da esquerda: Edward Wible, David Vélez e Cristina Junqueira, fundadores do Nubank, participam de cerimônia de celebração pela negociação de BDRs do banco digital na B3, ao lado de Gilson Finkelsztain (à direita), presidente da B3 | Foto: Cauê Diniz/B3 (Cauê Diniz/B3/Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 22 de fevereiro de 2022, 07h08.

Última atualização em 22 de fevereiro de 2022, 07h31.

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O Nubank (NU, NUBR33) divulga nesta terça-feira, dia 22, depois do fechamento do mercado, o seu primeiro resultado desde que fez a sua estreia como empresa pública na Bolsa de Nova York, no início de dezembro passado. Os números relativos ao quarto trimestre são aguardados com ansiedade por investidores e analistas, na medida em que as últimas semanas mostraram uma divisão do mercado acerca do preço justo da ação com base em seu crescimento potencial.

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A divulgação também acontece em meio a um momento de recuperação do papel, que subiu 45% desde o último dia 3, sem razão aparente em cima de algum fato novo (entre os dias 28 de janeiro e 9 de fevereiro, a ação engatou um rali com valorização de 51%).

O movimento ganhou força com a revelação, há uma semana, de que grandes investidores como Warren Buffett, por meio da Berkshire Hathaway, e a Tiger Global, elevaram as suas participações em um dos maiores bancos digitais do mundo no fim do ano passado.

A ação na Bolsa de Nova York encerrou a segunda-feira negociada a US$ 9,85, o que representa uma valorização de quase 10% em relação ao preço de estreia em 9 de dezembro. Nesse meio tempo, a cotação chegou a bater em US$ 11,85 no dia seguinte à estreia e atingiu a mínima de US$ 6,75 no último dia 28 de janeiro, mostrando uma volatilidade acentuada conectada de certa forma com o próprio movimento de ações de tecnologia em geral.

Os BDRs (Brazilian Depositary Recepits, que são recibos de ações listadas no exterior) do Nubank negociados na B3 com o ticker NUBR33 também estão em recuperação. Desde o último dia 3, eles saltaram de R$ 6,00 para R$ 8,60 na segunda, dia 21. Na estreia na B3, foram negociados a 8,36 reais.

No Brasil, ganharam força nas últimas semanas avaliações de que o preço da ação do Nubank está exagerado e que o banco digital acabará sendo afetado pelo esperado ciclo de crédito adverso da economia brasileira.

Um relatório de analistas do BTG Pactual (BPAC11) há duas semanas rebaixou a recomendação para a ação de neutra para venda, enquanto o preço-alvo em 12 meses foi cortado em 15%, de US$ 10 para US$ 8,50.

O relatório assinado pelos analistas Eduardo Rosman, Ricardo Buchpiguel e Thiago Paura, do BTG Pactual (do mesmo grupo que controla a EXAME), apontou que o banco digital não deve ficar imune à potencial deterioração esperada para o ciclo de crédito, em especial do crédito sem garantia, em razão do ambiente de inflação que segue elevada e de taxas de juro que devem continuar a subir diante das incertezas fiscais do governo.

Os analistas apontaram que os níveis de endividamento já estão elevados, enquanto programas de auxílio do governo por causa da pandemia e períodos de carência ou renegociação concedidos por bancos chegam ao fim.

Eles disserem que, com as linhas mais caras do mercado — o rotativo do cartão de crédito e o cheque especial — de volta aos patamares pré-covid, junto com os sinais recentes de deterioração da qualidade de crédito revelados por bancos e instituições financeiras que já divulgaram seus resultados do quarto trimestre, o ciclo de crédito pode se agravar.

Para Felipe Miranda, estrategista-chefe da casa de análises Empiricus (do mesmo grupo que controla a EXAME), a ação e o BDR do banco digital estão caros diante de sua capacidade de geração de lucro e de caixa.

Ele alertou ainda para o desafio de rentabilizar contas que estão, em boa parte, vinculadas a clientes das classes C, D e E. E que as taxas de inadimplência baixas podem ser um efeito indireto do rápido crescimento da carteira de crédito.

Miranda apontou que, nos cálculos da casa de análise, o BDR deveria ser negociado a R$ 2. A análise levou muitos investidores a defender e montar posição de venda (short) para os papeis do banco digital.

A visão de cautela com as ações do Nubank destoa em alguma medida do diagnóstico de analistas nos Estados Unidos.

No mercado externo, alguns bancos de investimento e casas que passaram a fazer a cobertura do Nubank têm recomendação de compra para a ação. São os casos, por exemplo, do Citigroup e do Morgan Stanley, que, em relatórios divulgados no começo do ano, fixaram o preço-alvo para a ação em US$ 12 e US$ 16, respectivamente.

Segundo o site especializado MarketBeat, dos Estados Unidos, o consenso de mercado é de recomendação "hold" (o equivalente a neutra), com preço-alvo de US$ 11,29, o que implicaria upside (potencial de alta) de cerca de 15%.

Na última sexta, dia 18, houve um aumento expressivo de procura por opções de compra (uma aposta na valorização futura da ação) para a ação do Nubank no mercado americano, para cerca de 40.000 contratos. Isso representa um salto de quase 300% em relação à média diária anterior de 10.000 contratos.

Se analistas brasileiros ou estrangeiros estão mais próximos do diagnóstico correto sobre o banco digital brasileiro, só o tempo irá dizer. Mas uma amostra importante com números detalhados da operação será conhecido nesta terça.