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MST lança fundo de investimento e capta R$ 1 milhão no mercado financeiro

Programa utiliza créditos de recebíveis agrícolas e será utilizado para financiar produção de alimentos orgânicos

Algumas cooperativas ligadas ao movimento já apresentam faturamento relevante, como a Cooperoeste, de Santa Catarina, cuja receita anual ultrapassa os 200 milhões de reais (Matheus Alves Levante Popular da Juventude/Divulgação)

Algumas cooperativas ligadas ao movimento já apresentam faturamento relevante, como a Cooperoeste, de Santa Catarina, cuja receita anual ultrapassa os 200 milhões de reais (Matheus Alves Levante Popular da Juventude/Divulgação)

RC

Rodrigo Caetano

Publicado em 22 de maio de 2020 às 10h56.

Última atualização em 22 de maio de 2020 às 11h10.

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) acaba de entrar para o mercado financeiro. A improvável associação foi anunciada no início desta semana, pelo líder do movimento João Pedro Stedile. A organização lançou um fundo de investimentos, batizado de Finapop e registrado na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que oferece um retorno pré-fixado de 5,5% ao ano. Os recursos captados serão utilizados para financiar a agricultura familiar e a produção de alimentos orgânicos. 

A captação dos recursos se dará por meio da emissão de Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA). Na primeira rodada, o movimento conseguiu levantar 1 milhão de reais, que serão destinados à Cooperativa de Produção Agropecuária Nova Santa Rita (Coopan), no Rio Grande do Sul. O repasse do dinheiro será feito por meio de um empréstimo. Os juros cobrados, de 5,5% ao ano, são os mesmos oferecidos ao investidor, acrescidos de uma taxa de intermediação. 

O economista Eduardo Moreira, que atuou por 20 anos no mercado financeiro e, atualmente, oferece cursos financeiros na internet, ajudou a desenvolver o programa. “É uma maneira de financiar o mundo que a gente acredita”, afirma Moreira, que, além de trabalhar na elaboração do Finapop, é um dos investidores iniciais. 

A ideia foi inspirada na experiência do Triodos Bank, instituição financeira criada na Holanda, na década de 80, que se classifica como um “banco ético”, voltado ao financiamento sustentável de projetos que promovam a qualidade de vida e a dignidade humana. Segundo Stedile, o fundo vai ajudar a aumentar a produtividade das cooperativas ligadas ao MST. Há planos, inclusive, de construir uma fábrica de vidros, também na região Sul, para atender a demanda por recipientes para os produtos orgânicos do movimento. 

Desde o ano passado, o MST tem deixado as invasões de terra em segundo plano para se concentrar na produção. A prioridade tem sido vender alimentos diretamente ao consumidor, por meio das “feiras da reforma agrária”, que acontecem em 15 cidades do País. As invasões vinham diminuindo desde o governo de Dilma Rousseff e praticamente cessaram com a posse de Jair Bolsonaro, que ameaçou classificar o MST como organização terrorista. 

O sucesso nos negócios também influenciou na decisão de reduzir os protestos mais incisivos. Algumas cooperativas ligadas ao movimento já apresentam faturamento relevante, como a Cooperoeste, de Santa Catarina, cuja receita anual ultrapassa os 200 milhões de reais. Ao todo, o MST concentra 100 cooperativas, 96 agroindústrias, 1.900 associações e 350 mil famílias assentadas em cerca de 88 mil hectares de terra.

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