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CEO da Eletrobras pede demissão e reforça temor sobre privatização

Executivo alega razões pessoais e ficará no cargo até março; resistência política impediu que entregasse a sua principal missão, a venda do controle da estatal

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Wilson Ferreira Júnior: transformação completa para atender às necessidades do futuro (Germano Lüders/Exame Hoje)

Wilson Ferreira Júnior: transformação completa para atender às necessidades do futuro (Germano Lüders/Exame Hoje)

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Marcelo Sakate

Publicado em 25 de janeiro de 2021, 00h22.

Última atualização em 25 de janeiro de 2021, 01h06.

Wilson Ferreira Junior, CEO da Eletrobras (ELET3; ELET6), pediu demissão do cargo neste domingo, 24, segundo fato relevante que acaba de ser divulgado pela estatal. O executivo, que alegou razões pessoais, continuará no cargo até o dia 5 de março. Não há por ora um sucessor anunciado.

Haverá uma teleconferência com investidores e a participação de Ferreira Junior nesta segunda-feira às 15h.

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Ferreira está na presidência da principal estatal de energia do país desde meados de 2016, quando assumiu no governo do então presidente Michel Temer. Tinha como missão reestruturar a companhia, sanear as finanças e prepará-la para a privatização -- executando o plano de venda do controle. Um dos executivos mais respeitados no setor, Ferreira se notabilizou pelo trabalho à frente da CPFL Energia, que comandou entre 2002 e 2016.

A saída de Ferreira deve acentuar os temores de investidores com o abandono, na prática -- embora ainda não no discurso oficial --, da agenda liberal e de privatização do governo de Jair Bolsonaro.

Na semana que passou, o senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG), candidato à presidência do Senado e que conta com o apoio de Bolsonaro, colocou em dúvida o projeto que prevê a venda do controle da estatal.

As ações da Eletrobras que fazem parte do Ibovespa recuam mais de 17% em 2021 e cerca de 25% em 12 meses, na contramão da valorização de companhias do setor controladas pelo setor privado. Para analistas, a dificuldade em avançar com a privatização simboliza a ingerência política na estatal, subtraindo valor da companhia.

A forte resistência política e a falta de apoio do presidente contribuíram para que o programa de privatizações prometido ainda na campanha eleitoral de 2018 não seguisse adiante, o que tem motivado a saída de importantes atores nos últimos meses.

Salim Mattar, secretário especial de Desestatização e Privatização, pediu demissão em agosto passado; semanas antes, havia sido o então presidente do Banco do Brasil, Rubem Novaes. Em comum, ambos se queixaram das resistências políticas às privatizações.

No fim do ano passado, o presidente do conselho da Eletrobras, José Guimarães Monforte, já havia renunciado ao cargo alegando também razões pessoais. A saída de Monforte, um respeitado e experiente profissional na área de governança corporativa, já havia despertado a atenção e os temores de investidores.

A saída abrupta de Ferreira Junior tende a aumentar a desconfiança do mercado, especialmente se o sucessor não for reconhecido como alguém independente.

Outras missões na estatal

Ferreira Junior assumiu a Eletrobras com a missão de preparar a estatal para a privatização, mas não só isso. A empresa registrava prejuízos bilionários e tinha elevada alavancagem, além de um grau acentuado de ineficiência operacional, segundo analistas.

Em sua gestão, a Eletrobras conseguiu levar adiante a venda de distribuidoras deficitárias e a redução do quadro de funcionários por meio de programas de demissão voluntária. A estatal voltou a apresentar lucro, reduziu a alavancagem, aprimorou o programa de compliance e resolveu contenciosos nos EUA relacionados à Operação Lava Jato.

Em um intervalo de três anos, a estatal saiu de um prejuízo de 14,4 bilhões de reais em 2015 para um lucro de 13,3 bilhões de reais em 2018, o maior em duas décadas.

O saneamento da operação e das finanças fazia parte do plano para tornar a estatal mais atraente para a privatização. Havia no radar tanto a possibilidade de venda do controle via leilão como da diluição da participação da União via ofertas de ações.

O executivo contava com o endosso dos líderes no campo econômico: primeiro, com o então ministro da Fazenda Henrique Meirelles durante o governo Temer. No entanto parlamentares próximos a estatais que fazem parte da holding Eletrobras, como Furnas, Chesf e Eletronorte, lideraram o movimento contrário à privatização na ocasião.

Com a mudança de governo, Ferreira Junior foi convidado a continuar no cargo pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, que pretendia fazer das privatizações um dos principais pilares de sua prometida agenda liberal. Mas, uma vez mais, os planos ficaram no papel.

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