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CENÁRIOS-Quais são as opções do governo para intervir no câmbio

Por Silvio Cascione e Samantha Pearson SÃO PAULO, 10 de janeiro (Reuters) - Após elevar o imposto sobre a entrada de capital estrangeiro e reduzir a margem de endividamento em dólares dos bancos, o governo ainda acena com "infinitas medidas" para frear a valorização do real. Em entrevista ao Financial Times, o ministro da Fazenda, […]

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Da Redação

Publicado em 10 de janeiro de 2011 às 11h13.

Por Silvio Cascione e Samantha Pearson

SÃO PAULO, 10 de janeiro (Reuters) - Após elevar o imposto
sobre a entrada de capital estrangeiro e reduzir a margem de
endividamento em dólares dos bancos, o governo ainda acena com
"infinitas medidas" para frear a valorização do real.

Em entrevista ao Financial Times, o ministro da Fazenda,
Guido Mantega, reiterou nesta segunda-feira que o Brasil está
pronto para tomar mais medidas sobre o câmbio, se necessário. O
objetivo é proteger as exportações, que perdem competitividade
com a queda do dólar no Brasil.

Oficialmente, o Banco Central garante que não trabalha com
nenhum patamar de taxa de câmbio. Mas diante do histórico
recente de medidas, analistas avaliam que, quanto mais próximo
de 1,65 real, maior a probabilidade de uma nova atuação.

O momento é similar ao vivido em outros países da América
Latina, como o Chile, onde os governos também têm intervindo
para impedir a valorização de suas moedas.

Veja a seguir algumas opções já consideradas pelo governo
brasileiro para intervir na cotação do dólar. Nesta segunda, a
moeda era cotada a 1,692 real, em alta de 0,36 por
cento.

ALERTAS VERBAIS

Desde o ano passado, sempre que o dólar se aproxima de
patamares considerados sensíveis (como 1,65 real), o mercado
recebe comentários de autoridades chamando a atenção para a
"valorização" do real.

Na última terça-feira, por exemplo, Mantega convocou a
imprensa para uma entrevista coletiva enquanto o mercado ainda
estava aberto. Com a expectativa por novas medidas, o dólar
acelerou a alta e se afastou do menor nível em mais de dois
anos em que havia fechado no dia anterior. [ID:nN04225615]

SWAP CAMBIAL REVERSO

Mantega tem alertado que o próximo passo pode ser a
intervenção no mercado futuro. Uma opção provável seria a
oferta de swap cambiais reversos --derivativos que têm o mesmo
efeito que comprar contratos futuros de dólares.

Tecnicamente, a opção pelo swap reverso --em que o BC paga
juros em troca da variação cambial-- corrigiria uma distorção
na taxa de juro em dólares. Com o chamado cupom cambial mais
comportado, abaixo de 2 por cento nos prazos mais curtos
, diminui o rendimento de operações de arbitragem.

O BC sondou o mercado sobre a demanda por um swap reverso
no fim de julho, quando a taxa do cupom cambial curto rondava
2,50 por cento. Na semana passada, a taxa alcançou 3,20 por
cento após a limitação da posição vendida dos bancos, para
então esfriar a 2,25 por cento nesta segunda-feira.

O Fundo Soberano poderia atuar junto com o BC. Nesta
segunda-feira, foi publicado no Diário Oficial uma autorização
para que a instituição negocie contratos derivativos.

Caso o BC ofereça o swap reverso, o primeiro efeito seria
derrubar as taxas de juros locais em dólares.

"Está claro para nós que o governo está preparando terreno
para voltar a comprar dólares no mercado futuro via swaps. Se
for o caso, nós prevemos um impacto muito significativo sobre o
câmbio no curto prazo. Ao mesmo tempo, as taxas do cupom
cambial naturalmente cairiam", afirmou o analista Diego
Donadio, do banco francês BNP Paribas, em relatório.

O efeito no longo prazo, porém, é discutível. Da última vez
em que foi usado, antes da crise financeira global, o swap
reverso não conseguiu evitar que o dólar caísse a até 1,562
real em julho de 2008.

Pelo contrário: a manutenção dos swaps reversos, com o
tempo, pode até inibir uma alta do dólar, inclinando a moeda
para baixo, ainda que com menor volatilidade.

"Há uma tendência de que o dólar não suba, pois a alta
tenderia a anular a remuneração pela Selic" paga pelo BC aos
bancos dentro do contrato de swap reverso, disseam Alessandra
Viola, Octávio Lion e Cláudio Henrique Barbedo, do BC, e
Margarida Gutierrez, da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ), em estudo publicado em novembro de 2009.

IMPOSTOS MAIORES

Em outubro, o Brasil triplicou para 6 por cento a alíquota
do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) na entrada de
capital estrangeiro para operações em renda fixa.

"A tolerância com a valorização do real por causa de
desequilíbrios externos continua muito limitada", disse Flavia
Cattan-Naslauski, estrategista do RBS. "Não descarto aumentos
incrementais do IOF."

Profissionais de mercado, no entanto, avaliam como menos
provável o aumento da alíquota de 2 por cento sobre o
investimento estrangeiro em ações.

LEILÕES DE COMPRA MAIS INTENSOS OU MÚLTIPLOS

O Banco Central tem comprado moeda estrangeira regularmente
desde maio de 2009 com o objetivo de "adquirir o fluxo
excedente de dólares e, como consequência, aumentar as reservas
internacionais do país", hoje em quase 290 bilhões de dólares.

Uma opção para a autoridade monetária seria intensificar as
compras de dólares, realizadas em dois leilões por dia na maior
parte da semana passada. Além do BC, o Fundo Soberano também
pode adquirir dólares diretamente no mercado à vista.

O aumento das compras, porém, é improvável após a restrição
das posições vendidas dos bancos, determinada pelo BC na semana
passada. [ID:nN06115555]

"O BC está limitando... indiretamente, o quanto ele
próprio, BC, poderá comprar no mercado à vista, dada a menor
oferta de dólares a ser disponibilizada pelos bancos",
escreveram Octavio de Barros e Andréa Damico, da equipe
econômica do Bradesco, na quinta-feira passada.

QUARENTENA SOBRE A ENTRADA DE CAPITAIS

Estrangeiros poderiam ser forçados a manter investimentos
no Brasil por um período de tempo --algo que remonta ao chamado
"encaje" adotado anteriormente no Chile. A medida foi defendida
pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), mas analistas se
dividem sobre a eficácia da política.

(Edição de Aluísio Alves)

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